Da reportagem
O pároco e reitor da Paróquia Santuário Nossa Senhora da Conceição, padre Élcio Roberto de Góes, anunciou na segunda-feira, 10, que o Vaticano deu parecer favorável ao pedido de elevação da Igreja Matriz de Tatuí a basílica menor.
O bispo da Diocese de Itapetininga, dom Gorgônio Alves da Encarnação Neto, recebeu do Vaticano o decreto que eleva o santuário a Basílica Menor da Santa Igreja Católica. O fato foi comunicado em live realizada no final da tarde pelo reitor da agora basílica.
Em pronunciamento, Góes não escondeu a emoção “pela graça alcançada, após meses de árduo trabalho”. Durante a tarde da mesma segunda-feira, os sinos da Igreja soaram, já comemorando a notícia.
Com o consentimento da elevação, assinado pelo papa Francisco, a igreja passa a ser denominada Basílica Nossa Senhora da Conceição. A celebração da instalação da basílica menor, com a leitura pública da autorização do Vaticano, será realizada no dia 21 de abril (feriado de Tiradentes) em horário ainda a definir, conforme anunciado pelo bispo diocesano.
“Oficialmente, ainda temos que fazer a cerimônia de instalação de basílica menor, mas posso dizer: já somos basílica!”, declarou o pároco em pronunciamento transmitido pelas redes sociais oficiais da paróquia.
O Santuário de Nossa Senhora da Imaculada Conceição é o segundo templo religioso da diocese de Itapetinga a receber o título de basílica – no dia 25 de maio de 2018, a Santa Sé concedeu o título à Igreja Santuário de São Miguel Arcanjo, situada em São Miguel Arcanjo.
O título é concedido pelo Vaticano “após análise minuciosa”. A elevação é autorizada pelo papa às igrejas consideradas importantes no que diz respeito à veneração popular, relevância histórica e beleza na arquitetura.
“É um título de condecoração para a Matriz. A partir disso, existe um vínculo maior com a Santa Sé e um reconhecimento do Vaticano com a história da nossa Igreja Matriz”, explica o padre.
Segundo ele, o processo de elevação foi sugerido em reunião entre os padres das comunidades tatuianas e o bispo da diocese de Itapetininga, dom Gorgônio, e teve início em fevereiro de 2020.
Na ocasião, foram encaminhadas duas cartas, uma à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a outra ao prefeito da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, cardeal Robert Sarah.
O parecer favorável da presidência da CNBB chegou à diocese de Itapetininga em 11 de maio de 2020, em carta assinada pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Na carta, Azevedo diz: “Atendendo às Normas para Concessão do Título de Basílica Menor, citados no Decreto ‘Domus Ecclesiae’, de 9 de novembro de 1989, desse Dicastério, concedemos o parecer favorável ao pedido para que o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, de Tatuí, na diocese de Itapetininga, seja elevado à dignidade de Basílica Menor”.
A partir da autorização da CNBB, a diocese e a paróquia começaram a montar um processo completo, com fotos da igreja, histórico e arquitetura detalhada do templo religioso para enviar ao Vaticano.
Já o Vaticano autorizou o processo de análise e enviou o questionário ao bispo diocesano no dia 12 de junho, em carta assinada por dom Arthur Roche, arcebispo secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, quando a paróquia iniciou nova fase na busca pela elevação.
Uma comissão formada por lideranças paroquiais ficou responsável pelo preenchimento do material e, por meio dos dados apresentados, a Santa Sé definiu que o santuário atendeu aos requisitos necessários para ser elevado.
A primeira reunião da comissão ocorreu no dia 24 de agosto, com participação do padre Márcio Almeida, reitor da Basílica de São Miguel Arcanjo, primeira igreja elevada à basílica na diocese de Itapetininga.
O reitor orientou os membros da comissão sobre os passos necessários para a composição do questionário e às etapas seguintes dentro do processo de solicitação de elevação da igreja a basílica.
A comissão foi dividida por membros responsáveis pelo levantamento das fotografias, planta baixa, relatório da vida pastoral, material litúrgico, imagens dos santos, brasões, histórico, vida litúrgica e financeira.
A documentação exigida para o processo de concessão foi reunida e, depois de pronta, entregue ao Vaticano pelo paroquiano Leonardo Costa de Camargo Barros, que esteve em Roma em agosto de 2021.
Barros participou de reunião com o secretário ecônomo da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, dom Salvatore, no dia 23 de agosto, na qual entregou um questionário respondido pela paróquia e um processo completo do local, com fotos, histórico e arquitetura detalhada do templo religioso.
No Vaticano, o paroquiano ainda participou de audiência pública com o papa Francisco e entregou ao pontífice uma cópia resumida do relatório sobre o processo de elevação canônica, além de uma pasta personalizada do Santuário Nossa Senhora da Conceição, de Tatuí.
Depois de quase dois anos de espera, o santuário recebeu a notícia da elevação à basílica menor, justamente na semana em que iniciou a programação dos 200 anos de fundação no município.
O evento teve abertura na segunda-feira da semana passada, 3 de janeiro, com a Missa da Solenidade de Epifania do Senhor, celebrada pelo bispo diocesano dom Gorgônio e pelo padre Élcio de Góes.
“Vivemos um tempo de expectativa pelo título, até porque essa igreja tem uma história muito importante para esta cidade. Mas, hoje, recebi a notícia do título, o que nos alegrou muito, principalmente por estarmos vivendo este momento importante que é o ano jubilar. São 200 anos de história e de presença desta igreja em Tatuí”, comentou Góes.
A elevação ao título de basílica menor traz mudanças na estrutura física e espiritual do templo religioso, “em virtude das muitas graças que uma basílica pode conceder aos fiéis”.
“Espiritualmente, a basílica passa a ser uma Igreja de comunhão mais ampla, mais próxima ao Vaticano. Além disso, passa a ter elementos próprios de uma basílica – que nos remetem à figura do papa e são próprias dessas igrejas”, explicou o reitor.
“Ela também passa a oferecer graças especiais, como as indulgências plenárias em seis datas ao ano, tudo isso próprio de uma basílica. Além de se tornar referência de beleza, arquitetura e, principalmente, de uma vida litúrgica vivida a partir dos ensinamentos da igreja”, completou.
Conforme o reitor, outra diferença é a disposição de quatro sinais visíveis que distinguem a basílica: o brasão do Vaticano na cadeira do presidente; a “Umbela” (o guarda-chuva com as cores e brasões do Vaticano, do papa, do bispo diocesano, da basílica, do reitor e da cidade), usada em procissões de rua; o “Tintinabulo” (brasão do vaticano com um sino); e a “Virga Rubra” (que acompanha as procissões).
História
O templo religioso foi tombado por decreto municipal em junho de 2007. O prédio é um patrimônio histórico que preserva detalhes arquitetônicos do século 19 e possui afrescos pintados pelo artista plástico piracicabano Mário Tomazzi.
A pedra fundamental do prédio, que tem porte e estilo de catedral, foi instalada no dia 9 de agosto de 1884, sendo a primeira obra da cidade a utilizar tijolos cerâmicos.
Para a construção do edifício central – já com dois pavimentos – e das duas torres de 30 metros de altura cada, foram gastos 550 mil tijolos, 355 carradas (cargas de um carro) de pedra e 8.000 sacas de cal.
O templo foi eleito, em 8 de dezembro de 2006, patrimônio histórico e cultural da cidade e, em 2007, com o tombamento, passou a integrar o conjunto de prédios históricos do município.
Já em dezembro de 2009, na comemoração dos 180 anos, a pedido do padre Milton de Campos Rocha, a diocese de Itapetininga elevou a paróquia ao título de santuário.