Homicí­dio cresce 175% na cidade e é o ‘mais difí­cil de ser prevenido’





Considerado o indicador mais grave dos cinco principais que mensuram a violência, o crime de homicídio teve aumento de 175% em Tatuí. A alta, verificada entre janeiro e dezembro de 2013 e 2014, consta em estatística divulgada pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado de São Paulo neste mês.

No período, os casos de assassinato em Tatuí passaram de 4, em 2013, para 11, em 2014. A quantidade de mortes elevou a taxa de homicídios de 3,60 para 9,78, um dos maiores patamares registrados na cidade desde 2009.

Naquele ano, a taxa “atingiu o teto” de 11,34. A cidade teve a pior taxa de homicídios desde que a SSP instituiu a estatística em 2003, com 35,84.

Em 2014, houve um assassinato no mês de janeiro, um em março, três em junho, um em julho, dois em setembro, dois em outubro e um em novembro. No ano retrasado, os crimes ocorreram em março, junho e outubro (dois).

Houve aumento também nos registros de tentativa de homicídio. As ocorrências aumentaram 155,55%, passando de 9, em 2013, para 23, no ano passado.

Os estupros somaram cinco casos a mais em 2014. Em 2013, houve registro de 42 crimes; em 2014, o número de queixas passou para 47.

Roubo e furto de veículo também aumentaram. O primeiro crime subiu de 178 para 269, entre um ano e outro, crescimento correspondente a 56,74%; o segundo teve alta de 32,25%, passando de 155, em 2013, para 205, em 2014.

Por outro lado, a estatística apontou redução de 17,07% nos crimes de roubo de veículo e de 0,21% nos furtos. Os roubos de veículo caíram de 41, em 2013, para 34, no ano passado. Já os furtos saíram de 912 para 910.

Também houve redução nos crimes de latrocínio (roubo seguido de morte) e homicídio culposo por acidente de trânsito. No primeiro, as ocorrências diminuíram de 1, em 2013, para nenhuma em 2014; no segundo, de 14, em 2013, para 10, em 2014.

Para o comandante da 2ª Companhia da Polícia Militar, capitão Kleber Vieira Pinto, o aumento dos homicídios está ligado à desestruturação familiar e ao tráfico de drogas. “Alguns casos foram identificados, mas como ocorreram em âmbito familiar e com facas se tornam difíceis de prevenir”.

De acordo com o comandante, o homicídio é o crime mais difícil de ser prevenido. É, também, o mais grave dos “cinco principais indicadores” de violência.

A PM considera como mais preocupantes os crimes de homicídio, roubo, furto, roubo de veículo e furto de veículos. Este último exigiu ação mais efetiva no último trimestre do ano passado, por conta de aumento.

“Logicamente que o homicídio como envolve vidas é muito importante que seja reduzido, mas é difícil quando se leva em conta o trabalho de prevenção”, falou.

Em Tatuí, algumas das mortes registradas em 2014 envolveram pessoas que tinham algum grau de parentesco e uso de faca. Parte dos suspeitos foi detida em flagrante – um deles ligou para a polícia para avisar que havia cometido o crime.

Segundo o capitão, a prisão é considerada um fator positivo, uma vez que representa “resposta das forças policiais à sociedade”. Entretanto, não resolve a questão, uma vez que houve um assassinato. “Infelizmente, a vítima morre”, disse.

Para o comandante, a medida para a redução desse índice (e dos demais) é o combate ao uso de entorpecentes. Kleber disse, ainda, que pode haver mudança a partir de trabalho social, visando à solução de conflitos familiares. São eles que desencadeiam as mortes e os demais crimes “mais graves”.

“Isso tudo é muito completo. Não é nem a curto, nem a médio prazo, que vamos reduzir. O Estado de São Paulo conseguiu diminuir a criminalidade, mas faz mais de dez anos que a PM está trabalhando nesse sentido”, citou o capitão.

Para ele, a questão da prevenção também ultrapassa os limites do município. Kleber defende que é necessária intensificação das fiscalizações junto às fronteiras. Também considera essencial a realização de trabalhos de recuperação de usuários, por entender que o vício é um problema de saúde pública.

“Volto com o discurso: a polícia está pagando uma conta muito cara. E ela não pode assumir toda essa dívida sozinha. O país tem que se envolver nisso”, falou.

Junto a trabalhos de instituições públicas e privadas, o comandante afirmou que é preciso mais rigor na punição dos criminosos. De acordo com ele, o Legislativo deve trabalhar no sentido de atualizar a lei de execuções criminais.

“Enquanto ela não for atualizada, as fronteiras não forem bem policiadas, nós (a PM) vamos continuar enxugando chão com a torneira aberta”, declarou.

O comandante é favorável a um “endurecimento” da lei. A razão é que muitos presos beneficiados com saídas temporárias (por conta de indultos), voltam às ruas para praticar crimes. Também considera fundamental a melhoria da vigilância das fronteiras, de modo a evitar entrada de drogas e armamento pesado.

Kleber afirmou que é preciso que as ações sejam iniciadas “urgentemente”. “Existe essa necessidade para que nós, em longo prazo, colhamos os frutos. Mas, depende de legisladores, de outras instituições para isso acontecer”, comentou.

De acordo com a PM, o aumento dos índices estatísticos em Tatuí “segue tendência” do Estado. Kleber declarou que os casos de roubo também cresceram em São Paulo. Disse, ainda, que os números são utilizados “a favor” do trabalho da corporação.

Eles ajudam o comando a fazer a chamada gestão dos indicadores. O trabalho consiste em traçar estratégia e definir ações (como operações) específicas de combate ao indicador que teve aumento em determinado período.

“Nós percebemos que há uma tendência de alta, mas esse aumento também ocorreu na produtividade policial”, destacou o comandante. Prova disso é o número de pessoas presas em flagrante, de acordo com a SSP. Houve 523 prisões em 2013 e 660 no ano passado. Os dados somam detenções feitas pelas polícias Militar, Civil, Rodoviária e Ambiental e Guarda Civil Municipal.

“Isso demonstra que nós estamos atuando mais, mas se os índices mesmo assim aumentam também significa que estamos enxugando gelo”, ressaltou o capitão.

Por essa razão é que os aumentos de indicadores de criminalidade seriam “cíclicos e sazonais”. Em 2014, por exemplo, houve crescimento de furto de veículos. A PM verificou que os crimes estavam sendo praticados por menores de idade.

Por conta do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), os suspeitos eram sempre liberados. Conforme o capitão, eles continuavam a cometer os furtos.

De forma a contê-los, Kleber disse que procurou entendimento com o Judiciário e o MP (Ministério Público) para que os menores fossem internados.

Na ocasião, o trabalho envolveu o então juiz da Vara da Infância e da Juventude, Walmir Idalêncio dos Santos Cruz, e delegados. “Fizemos uma reunião com todos para que pudéssemos apreender os menores surpreendidos com motocicletas furtadas. E o índice despencou”, contou o capitão.

Contudo, desde o início deste ano, os delegados deixaram de apreender os menores. Por conta disso, Kleber antecipou que tentará “nova composição junto ao Judiciário e aos delegados”.

A meta é tentar voltar a fazer com que os adolescentes flagrados com motocicletas furtadas sejam internados na Fundação Casa.

Conforme o comandante, a maioria dos menores furta para “dar um rolezinho”. Kleber afirmou que eles não visam levar os veículos para desmanches ou “esquentá-los” (no caso de venda com outra placa, ou para tornar a moto “dublê”).

“Simplesmente, eles pegam motos em bolsões, riscam o chassi e vão para a periferia para passear, mas isso está impactando na estatística”, comentou.

Para redução de outros índices, como roubos, a PM intensifica o trabalho de inteligência. Como auxílio à Polícia Civil (conhecida como polícia judiciária), os militares conseguiram esclarecer autoria de roubos, crime que registrou aumento em Tatuí entre o final de agosto e o começo de setembro de 2014.

“Nós identificamos alguns autores, por meio de filmagens. Conseguimos mandados, fizemos prisões e até apreensões de vários menores”, relatou o capitão.

Apesar do esforço, Kleber afirmou que as ações adotadas pela PM não significam que os índices “vão parar de aumentar”. “Nós trabalhamos dessa maneira, mas, se a legislação não punir com rigor, o problema vai durar vários anos”, disse.

Colaboração

Além das instituições públicas, privadas e legisladores, o capitão disse que a PM precisa da colaboração da população para aumentar a segurança.

Especificamente sobre os furtos de veículos, que podem aumentar nos próximos meses, ele afirmou que é necessário que as pessoas tenham mais cuidado.

“Por incrível que pareça, alguns proprietários de motos deixadas em bolsões ainda deixam a chave na ignição. Nós pedimos para o cidadão cuidar de seu bem e que ele tenha o sentimento de ‘pertencimento’”, argumentou.

Para evitar que o veículo seja alvo mais fácil, a PM recomenda que o proprietário opte por estacionamento particular. Na falta, deve travá-la com cadeado, corrente e instalar alarme. “Com os carros, é a mesma coisa”, disse Kleber.

Evitar deixar bolsas, carteiras e aparelhos eletrônicos expostos em painéis também ajuda a diminuir os casos.

“Pequenas atitudes auxiliam. Mesmo quem vai sacar dinheiro não pode ficar desatento. A PM atende 24 horas por dia, pelo telefone 190, mas não consegue estar presente em todos os locais”.

Em Tatuí, a PM conta com “incremento” do policiamento, por conta da Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar) desde o ano passado. Ela prevê reforço no patrulhamento por parte de policiais em folga e remuneração extra. O número de PMs enviados a Tatuí varia.

A reportagem tentou contato com a Polícia Civil de Tatuí, mas não obteve retorno.