Da reportagem
Após paralisação de dois anos, o Lar São Vicente de Paulo de Tatuí voltará a realizar a Festa da Caridade. A 91ª edição do evento, que atraiu cerca de 15 mil pessoas em 2019, está prevista para ocorrer em uma quinta-feira, 16 de junho, feriado de Corpus Christi.
A festa será aberta à população, mas ainda contará com protocolos de saúde para evitar contágio pela Covid-19. Com objetivo de garantir segurança aos internos, evitado o contato deles com a população se restrições, a entidade, que sempre foi totalmente aberta no dia da festa, terá algumas restrições.
A área de convívio e os dormitórios dos internos não poderão ser acessados pela população sem controle. Nesse dia, não será permitida, inclusive, a visitação.
Porém, está previsto, segundo o presidente do Lar São Vicente, Miguel Nunes Júnior, que os internos participem da festa e interajam com o público. Os detalhes para isso ainda serão definidos.
A festa ocorre no feriado de Corpus Christi (expressão do latim que, traduzida para o português, significa corpo de Cristo), dia importante para a Igreja Católica. É o feriado em que se celebra o sacramento da eucaristia. Portanto, Nunes Júnior afirma que a parte religiosa da festa do asilo tem de ser pensada com cuidado.
Neste ano, ainda não foi definida como será a religiosidade do evento. É previsto que os padres se reúnam nos próximos dias para alinhar as ações. Foi adiantado pela diretoria do asilo que até mesmo a missa, que ocorre na capela interna do Lar, ainda não foi 100% formatada, por conta dos protocolos de saúde que o asilo terá de implementar.
As tradições da Festa da Caridade, como a procissão da Igreja Matriz (agora, Basílica Nossa Senhora da Conceição) até o Lar São Vicente de Paulo e a confecção do tapete vermelho, estão previstas para ocorrerem normalmente.
Porém, devido à falta de tempo, a administração do Lar não consegue participar ativamente de todos os segmentos da organização do evento e, na parte religiosa, depende um pouco mais dos padres e madres.
A diretoria também afirma que o asilo conta com madres que acabam assumindo essas responsabilidades e que o trabalho da direção fica mais no enfeite da casa e no alinhamento com outros colaboradores, como os “barraqueiros”.
Ainda segundo adiantado pela diretoria, com os barraqueiros a reunião já ocorreu e foi “positiva”. Alguns que não puderam participar estão sendo contatados separadamente. São esperadas em torno de 25 barracas, com variedade de alimentos e bebidas, além de uma exclusiva para o bazar.
Inclusive, o bazar do asilo, que havia paralisado as atividades durante a pandemia (em 2020 e 2021), voltou com as vendas agora em 2022. O local abre às quintas-feiras, das 13h30 às 17h, e comercializa roupas, utensílios e móveis, os quais ajudam na arrecadação do Lar São Vicente de Paulo.
No geral, a preparação do asilo para a festa conta com cerca de 30 equipes, que se dividem entre o bazar, as barracas e os que irão comandar o show.
Na última festa, o Lar somou mais de 800 voluntários, e neste ano espera que não seja diferente. Nunes Júnior se mostrou positivo, afirmando que “o pessoal parece bastante animado em ajudar e participar”.
O Lar estima um público parecido com o que alcançou na edição anterior. Em 2019, houve venda e distribuição de ingressos. Sem cobrar dos menores de 15 anos e da população que participou da procissão, a festa quantificou mais de 11 mil pagantes entre o público de cerca de 15 mil pessoas.
A arrecadação, que é 100% voltada ao asilo, ainda não tem uma utilidade confirmada. De acordo com Nunes Júnior, no momento, a entidade não tem uma urgência. “Poderíamos até usar para reformar a frente do prédio, mas não é nossa prioridade. A prioridade é o bem-estar dos internos”, argumentou.
“Posso assegurar que os internos estão em uma situação bem confortável agora, mas sempre achamos que podemos oferecer mais. Inclusive, se a festa der o retorno esperado, um retorno bom, sempre vamos projetar melhorias e cuidados diretamente com e para eles”, completou.
O asilo, atualmente, abriga 63 internos e conta com 45 funcionários, além dos 16 voluntários que fazem parte da diretoria. Antes do período pandêmico, o Lar tinha a ajuda de mais voluntários, os quais, por conta dos cuidados sanitários, acabaram afastados. É estimado que o local volte a buscar voluntários em breve.
Na pandemia, o asilo de Tatuí não registrou nenhum óbito por Covid-19. Para Nunes Júnior, “isso se deve, também, ao trabalho das madres. Elas acreditam muito na providência, e eu não posso deixar de crer que Deus foi muito providente nesse período com todos aqui do Lar”, declara o presidente.
Nunes Júnior também ressaltou a rapidez do asilo em tomar os devidos cuidados com a pandemia. Segundo ele, logo no início, “o asilo agiu rápido, limitando os visitantes e o convívio dos internos com pessoas de fora, além de prezar sempre pela utilização dos equipamentos de segurança, conseguindo evitar problemas mais graves”.
O Lar registrou, na primeira onda em 2020, apenas seis casos. Em 2021, na segunda, teve outros casos, mas com sintomas mais leves. No local, há, inclusive, profissionais exclusivamente dedicados a esse setor.
“O Lar foi muito bem protegido, a providência nos iluminou para saber os caminhos certos. Os funcionários entenderam a situação, tomaram todos os cuidados, e evitamos ao máximo o contágio. Posso dizer que, dentro do que poderia ter acontecido, foi até tranquilo”, assegura Nunes Júnior.
O presidente comenta que “a parte triste foi tirar eles (os internos) do convívio, fechar eles aqui dentro. Mas, eles entenderam. Por sorte, temos uma área bem grande aqui dentro, além da possibilidade de eles utilizarem a tecnologia para contatar os parentes”. Contudo, ele informa que os internos já voltaram a sair do Lar e a transitar em lugares próximos.
O presidente também comentou sobre algumas reclamações durante a edição anterior: “Algumas pessoas não entendem que a festa foi criada e desenvolvida justamente para a caridade do Lar. Por isso, o nome. As pessoas confundem algumas vezes”.
As reclamações, segundo Nunes Júnior, se deram por conta de o asilo decidir cobrar pela entrada do público. Na ocasião, o ingresso foi vendido a R$ 2, exceto a menores de 15 anos e aos que participaram da procissão. Ainda não se sabe se será cobrada a entrada neste ano.
“A intenção da população tem que ser de vir na festa para ajudar o Lar. A festa é em prol do Lar. Então, esse dia que você vem e, por exemplo, come um bolinho aqui no asilo, que pode até ser caro, não é essa a questão. Você está fazendo uma doação para uma casa que abriga 63 pessoas que precisam dela”, ressalta.
Nunes Júnior também frisa que “o Lar é para os menos favorecidos”. “Alguns podem não saber, mas a prioridade máxima é sempre os menos favorecidos e vulneráveis. Não se compra uma vaga no Lar, assim como não cobramos mensalidade. Esse não é o objetivo”, acentua.
“Muitos não têm condições alguma, não têm aposentadoria, mas isso não importa. São essas as pessoas que temos por aqui. Por isso, realizamos festa, bazar, fazemos o possível para arrecadar os fundos necessários. E se fazemos isso, é para manter essas pessoas aqui dentro, pois elas precisam”, acrescenta.
“E digo isso pois o Lar, o asilo, esse prédio aqui, vazio, não precisa de dinheiro, não precisa de nada. Quem precisa são as pessoas. Pessoas que precisam de um cuidado específico. E nós procuramos ter esse zelo. Entregar esse conforto. O asilo é assim. Temos uma prioridade muito bem estabelecida”, conclui o presidente.