Falar ou Silenciar?

RAUL VALLERINE

Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Rubem Alves

Quando deparamos com situações que nos desagradam, às vezes ficamos na dúvida se vale a pena falar, sob o risco do diálogo se tornar uma briga; ou se é melhor, em nome da paz, ficarmos calados. Não é fácil saber o momento certo de falar ou de silenciar.

Algumas questões podem ser levadas em conta, como, por exemplo, se o assunto se trata de algo inédito ou se já foi anteriormente discutido.

Há situações onde já se discutiu o motivo do conflito à exaustão e, mesmo assim, ele ainda é recorrente. Neste caso, a própria reincidência é o indício de que falar não compensa, posto que nada que for dito surtirá efeito.

Situações dessa natureza são muito comuns de ocorrerem entre pessoas próximas e que se amam. Alguns são taxativos ao afirmarem que não mudam seu jeito para agradar ninguém: “Eu sou assim”. “Esse é meu jeito”.

Mas, devemos ter cautela ao afirmar isso, visto que, em muitos casos, mudar significa salvar ou manter um alto nível de relação.

E não me refiro a grandes concessões ou que causam danos a quem as faz, mas coisas simples, que podem ser resolvidas com um pouco de boa vontade.

É cabível numa relação familiar, afetiva ou de amizade, sugerir com docilidade que o outro mude em prol da harmonia. O que não é saudável é fazer dessa solicitação uma exigência.

Ninguém tem o direito de exigir nada de ninguém. Muito menos de quem se ama. Porém, temos o dever e a responsabilidade de expor, com clareza, tudo aquilo que nos incomoda. Se o outro quiser nos agradar, de certo evitará tais comportamentos que nos entristecem.

Numa relação saudável há um acordo tácito, onde um, sem perder sua essência, se esforça ao máximo para zelar pela integridade emocional do outro.

Se isso não ocorre, eu é que preciso decidir se quero ou não esse tipo de convívio, ou se trato de me afastar. Em outros casos, o motivo de não querer falar o que está sentindo tem a ver com o medo.

Medo da repreensão, da crítica ou, até mesmo, da rejeição. Muitos temem dizer o que pensam e perder o apreço alheio. Preferem ser omissos consigo e acabam “deixando para lá”.

Usam do artifício de fingir que não ligam. Mentira! Calam-se por temerem as consequências de uma conversa franca. Preferem engolir a seco o que lhes incomoda a correr o risco de ser rejeitado.

Prisioneiros do medo acabam se tornando permissivos, passando por cima de valores primários e se violentando. Neste caso, vale a reflexão à luz da premissa de Eurípides: “Não dizer o que pensa. Essa é a condição de um escravo”.

Silenciar para evitar conflitos, em alguns casos, pode ser positivo. Contudo, quando nos calamos por medo de arcarmos com as consequências do enfrentamento, corremos o risco de estarmos acumulando mágoas e revolta.

É preciso refletir, com muita seriedade e honestidade emocional, se vale mesmo a pena nos afastarmos de nós para nos aproximarmos dos outros. Pessoas nervosas ou sob estresse perdem o controle, magoando os outros até sem intenção direta.

Pedir desculpas alivia o mal estar, mas não apaga o que aconteceu, por isso o melhor é procurar atividades para essa ansiedade, como psicoterapia ou mesmo a prática de exercícios, em vez de esperar explodir em situações tensas.

“Faça três perguntas antes de dizer qualquer coisa numa situação de estresse: o que eu vou dizer é verdade? Vou criar uma situação confortável? Minha declaração tem alguma utilidade para quem vai ouvi-la?”. Se o que você disser não passar por essas perguntas de forma positiva, o melhor é ficar calado.