Excelente notícia: como em imensa parte do país, Tatuí tem passado dias seguidos sem nenhum falecimento causado pela Covid-19. Fantástico! Péssima notícia: por estar sem mortes em razão do vírus há dias, muitos tatuianos, tal imensa parte dos brasileiros, concluiu ter acabado a pandemia. Infelizmente, não acabou.
Poderá ser totalmente controlada a disseminação do Sars-CoV 2 no futuro – e assim todos esperam (mesmo os mais empedernidos negacionistas)? Com certeza! Porém, desde que a vacinação atinja quase a totalidade da população.
Isso ocorrendo, a pandemia deixaria de existir, cessando-se o morticínio e dando lugar a algo corriqueiro e restrito à proteção contra a doença, como ocorre com o vírus Influenza, mitigado quase completamente por meio da campanha de vacinação anual.
Sombriamente, não obstante, se significativa parte da população insistir em não se vacinar, essa desgraça nunca terá fim, como neste momento pode ser constatado em partes da Europa, onde uma nova “onda” se forma.
A doença ainda pode matar milhões no mundo e, por extensão, impor novos confinamentos e consequentes estragos colossais na economia – a qual, por sua vez, também não deixa de matar…
Estranhamente, é certo haver muitos ainda a duvidarem da eficácia das vacinas, por mais evidentes sejam os números a comprovarem o sucesso dos imunizantes na preservação da vida – e, mais uma vez por extensão, dos “negócios” e empregos.
Mesmo cientes da repetição por certo enfadonha, não há como deixarmos de (re) lembrar que, até o início da vacinação, aqui mesmo em Tatuí, os hospitais estavam superlotados e gente morrendo “todo dia” de Covid. Repetindo: “todo dia”!
Sim, o sectarismo manipulado e sustentado particularmente nas redes sociais (não “por” elas, mas “nelas”), ainda leva muitos a não acreditarem nos fatos, na realidade.
Seguem inebriados, vivenciando incautos “versões” de um mundo imaginário, paralelo, onde a indústria farmacêutica, chineses, políticos, OMS, imprensa e quase todos os profissionais de saúde do mundo combinaram de ludibriar bilhões de seres humanos para “lucrar”…
Em primeiro plano, é o caso de se descobrir como tanto dinheiro seria distribuído entre tanta gente sem ninguém provar a farsa assassina, sustentada somente pelas fake news – as quais, por este aspecto, também acabam matando e assim continuarão, por contra elas ainda não existir imunizante.
De resto, aquele pessoal até há pouco debaixo de sol, na calçada diante dos hospitais em Tatuí, esperando atendimento com falta de ar – ou mesmo chorando pela morte de parentes e amigos –, seria o que exatamente?
Pela ótica conspiracional, seriam figurantes a serviço do estelionato de saúde global? Teriam também ganhado alguns trocados da Pfizer com a farsa?
Para quem ainda prefere a vida real, certamente vale aquela máxima de que “os números não mentem”. Portanto, basta observar que, antes da vacinação, as UTIs e alas clínicas da Santa Casa e da Unimed estavam ocupadas acima de suas capacidades.
O município, inclusive, chegou a ter de enviar pacientes para leitos de SUS em outras cidades. Contudo, por empenho das autoridades não negacionistas de várias instâncias e, especialmente, dos profissionais de saúde, não se sabe de ninguém que faleceu por falta de atendimento (ou oxigênio) em Tatuí.
Aí, veio a campanha de imunização e, em seguida, não se viu mais ninguém espalhado pelas sarjetas, esperando leito em hospital! Como, então, duvidar das vacinas? O que mais é preciso para convencer os extremistas e suas vítimas anestesiadas da realidade?
A consequência “péssima” do chamado movimento “antivacina”, no caso, é a iminente imposição de novas ondas de contaminação, ora já acontecendo na Europa, mesmo em países desenvolvidos, como Holanda, Áustria e Alemanha, além dos da maioria do Leste.
No mundo real, não é coincidência que, justamente nessas nações, a vacinação estagnou na casa de dois terços da população (65% em média) – mais uma evidência empírica e inequívoca da eficiência das vacinas.
Eficácia ainda mais inconteste quando se observa que, no outro extremo do continente, no ocidental, Portugal segue com seus hospitais em tranquilidade. Certamente não por acaso, é o país europeu com maior índice de imunização.
Enquanto isso, nesta semana, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, reconhecendo a existência de uma nova onda de Covid-19, chegou a afirmar que, após o inverno, seus compatriotas estarão “vacinados, curados ou mortos”.
Em resumo, as vacinas salvam vidas e garantem o mundo menos anormal. E aí o temor quanto a um futuro próximo no Brasil, quando o contingente negacionista pode ser responsável por um refluxo pandêmico.
Por sua vez, a encarar-se mais este perigo do mundo real, surge a questão: seria correto obrigar a população a se vacinar? Para não variar, as opiniões aqui se conflitam e se perdem em argumentos inúmeros, entre os mais consistentes e os mais absurdos.
Por princípio democrático e “liberal”, entende-se que não se pode obrigar ninguém à vacinação – até porque cada um pode fazer o que quiser com a própria vida, inclusive pô-la em risco de morte. Certo!
Entretanto, mesmo os mais convictos “conservadores” – que não raro corroboram com as convicções negacionistas – defendem que os direitos não podem se sobrepor aos deveres. Correto?
Pois, então, como aceitar que indivíduos não se exponham sozinhos à doença e, eventualmente, à morte, levando consigo o perigo aos demais cidadãos, que não querem adoecer ou morrer e, portanto, foram se vacinar?
Uma resposta razoável pode ser observada pelo resultado da enquete promovida pelo jornal O Progresso de Tatuí na semana passado. Nela, foi questionado se, em breve, os não vacinados deveriam sofrer restrições de acesso a lugares públicos e de trabalho.
Pela pesquisa, 78% dos tatuianos responderam que “sim”, indicando acreditar que, como ponderou o professor, jornalista e escritor português João Pereira Coutinho, em artigo na Folha de S. Paulo, “os antivacinas devem pagar um preço pelos valores que acreditam”.
Importante informar que o professor é notório pensador de “direita” (embora não de extrema direita) e lembrar que os não vacinados, mesmo que, por sorte, não desenvolvam a doença, nunca deixam de carregar o vírus, levando-o para outras pessoas e, assim, mantendo-se como potenciais agentes da doença. Têm direitos, sim, mas não o de matar.