Endometriose e saúde mental: condição impõe desafios emocionais além das limitações físicas, defende médico

Para quem tem endometriose, manter rotina de cuidados com o corpo ajuda também no equilíbrio psicológico para enfrentar a doença

Patrick Bellelis

A endometriose é uma condição médica que não impõe apenas desafios físicos; muitas mulheres também enfrentam impactos significativos em sua saúde mental. A doença, caracterizada pelo crescimento do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) em órgãos anexos, como ovários, trompas e outros da cavidade abdominal, pode causar dores intensas e até mesmo levar à infertilidade. Mas, além disso, também dificulta quadros de ansiedade, depressão e estresse.

Uma vez que o endométrio é expelido durante a menstruação, algo semelhante ocorre nos focos de endometriose fora do útero. Eles sangram e inflamam conforme o ciclo, provocando reações inflamatórias e lesões que podem sensibilizar o funcionamento desses órgãos.

“Mulheres diagnosticadas frequentemente sentem dores intensas e desconforto crônico que podem desencadear uma série de desafios emocionais. Em muitos casos, sofrem perdas significativas em seu círculo social devido à dor ou às limitações decorrentes da doença, impactando até seu rendimento no trabalho. Essas perdas a curto e médio prazo podem se tornar irreversíveis, por isso o acompanhamento psicológico é tão importante quanto o acompanhamento ginecológico,” explica Dr. Patrick Bellelis, especialista em endometriose e colaborador do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

O médico elencou alguns cuidados que podem ser tomados não apenas pela saúde do corpo, mas também pelo bem-estar e pela qualidade de vida durante a convivência com a endometriose. Confira:

Pratique exercícios físicos

Ao praticar exercícios físicos, o corpo produz substâncias capazes de inibir a dor, trazendo benefícios para o bem-estar; além disso, a prática recorrente contribui para corrigir anormalidades posturais, que podem estar associadas às dores pélvicas. Escolha atividades de baixo impacto, como caminhadas, natação ou ioga, que ajudam a fortalecer os músculos e aliviar a tensão. Evite atividades intensas que possam aumentar o desconforto.

Tenha uma boa noite de sono

O descanso adequado é essencial para a saúde mental e o bem-estar geral, e pode contribuir para a gestão da dor associada à endometriose. Mantenha uma rotina de sono consistente, crie um ambiente propício para o descanso e considere técnicas de relaxamento antes de dormir.

Faça uma atividade relaxante

Inserir atividades relaxantes na rotina pode ajudar a reduzir o estresse, que muitas vezes está associado ao agravamento dos sintomas da endometriose. Técnicas de respiração profunda, meditação ou mindfulness podem ser excelentes para promover a tranquilidade mental durante o dia.

Alimentação balanceada

Recomenda-se às mulheres diagnosticadas manter uma alimentação balanceada e sem glúten, com ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, propriedades anti-inflamatórias e com efeitos positivos no metabolismo de estrogênios e hormônios. É indicado também evitar o álcool, a carne vermelha e as gorduras trans, pois podem ter um efeito amplificador, tanto no inchaço pélvico quanto na dor crônica acarretados pela endometriose.

Acompanhamento psicológico

Enfrentar a endometriose não é apenas físico, mas também emocional. Buscar apoio psicológico pode ajudar a lidar com o impacto mental da condição. Terapia, aconselhamento ou grupos de apoio podem oferecer um espaço seguro para compartilhar experiências e estratégias para enfrentar os desafios.

“Abordar o assunto com dicas como estas traz uma nova perspectiva sobre o assunto, mas não substitui a importância do profissional médico de confiança. É indispensável manter uma comunicação aberta com seu ginecologista, pois só assim será possível obter um tratamento de acordo com as suas necessidades individuais para uma melhor qualidade de vida e bem-estar emocional”, esclarece o Dr. Patrick.

Clínica Bellelis – Ginecologia

O ginecologista Patrick Bellelis é Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP); graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC; especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Laparoscopia e Histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); além de ser especialista em Endoscopia Ginecológica e Endometriose pelo Hospital das Clínicas da USP. Possui ampla experiência na área de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade. Fez parte da diretoria da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) de 2007 a 2022, além de ter integrado a Comissão Especializada de Endometriose da FEBRASGO até 2021. Em 2010, tornou-se médico assistente do setor de Endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da USP; em 2011, tornou-se professor do curso de especialização em Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva — pós-graduação lato sensu, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês; e, desde 2012, é professor do Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia Robótica (IRCAD), do Hospital de Câncer de Barretos.