Depressão sazonal: como as mudanças climáticas afetam sua saúde mental

Transtorno é 4 vezes mais comum em mulheres e costuma acontecer após os 20 anos (Foto: Marcelo Camargo / ABr)
Diléa Silva

A depressão sazonal, também conhecida como transtorno afetivo sazonal (SAD), está relacionada ao desenvolvimento de sintomas depressivos diretamente associados às mudanças climáticas.

Em geral, a desordem afetiva sazonal começa no outono ou inverno e termina na primavera ou início do verão. Mas não se trata de uma regra, já que o principal desencadeador da depressão sazonal é a menor incidência de luz solar, que pode ocorrer até no verão, quando há mudanças bruscas de temperatura.

De acordo com um estudo realizado no Departamento de Psicologia Médica, da King’s College/Universidade de Londres, em países tropicais como o Brasil, uma média de 1% da população é afetada pela depressão sazonal, equivalente a quase 2 milhões de pessoas.

Já segundo a Academia Americana de Médicos da Família, entre 4% e 6% dos americanos podem ter depressão sazonal. A incidência também é grande em países nórdicos, como Finlândia, Noruega e Suécia, uma vez que os dias são mais curtos e há menos horas de luz no inverno.

O que ocorre na depressão sazonal

Próximo de estações ou períodos com menos luz solar, muitas pessoas, especialmente as mais suscetíveis à depressão, sentem perda de energia, mudança de humor, maior irritabilidade e até ansiedade generalizada.

Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); tendemos a mudar algumas atitudes e comportamentos devido à baixa temperatura, como ficar mais tempo em casa, diminuindo a exposição ao ar livre.

“Por consequência, reduzimos a produção de hormônios como a serotonina e a melatonina, responsáveis pela sensação de bem-estar e prazer. Essa desarmonia pode deixar a pessoa mais deprimida, ansiosa e cansada, gerando o transtorno afetivo sazonal”, explica a psiquiatra.

Além disso, com a menor exposição ao sol, diminuem os níveis de vitamina D no organismo, fundamental para a absorção de cálcio, como também para várias funções do sistema imunológico, digestivo, circulatório e nervoso. Daí o maior cansaço e desânimo.

Conforme, Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, o transtorno é quatro vezes mais comum em mulheres e costuma acontecer com maior frequência após os 20 anos de idade.

“Com alguns pacientes, os sintomas podem continuar mesmo com a chegada do verão. Nestes casos, é preciso ter acompanhamento com um especialista, até para investigar uma possível depressão comum”, diz Monica.

Sintomas típicos

Os principais sinais de uma depressão sazonal são semelhantes ao de uma depressão normal: Labilidade emocional (variação frequente do humor), desinteresse pelas atividades do cotidiano, dificuldade de concentração, dificuldade para dormir ou sono excessivo, tristeza sem causa aparente, afastamento familiar e social, fraqueza generalizada e dores no corpo.

Tratamentos

Há diversas alternativas que podem reduzir os impactos negativos da depressão sazonal, e que dependem da gravidade dos sintomas:

Uso de medicamentos

Alguns medicamentos podem ser indicados, como antidepressivos. Segundo a psiquiatra, estes atuam no equilíbrio de neurotransmissores responsáveis pelo prazer e bem-estar, como serotonina, dopamina e noradrenalina, proporcionando melhora nos sintomas depressivos.

“Vale lembrar que estes medicamentos não apresentam resultados imediatos, podendo levar de duas a três semanas para o indivíduo sentir os efeitos. Além disso, cada pessoa tem uma resposta diferente aos antidepressivos. Em muitos casos, é preciso ajustar o tipo e a dosagem do medicamento, até encontrar a combinação mais eficaz. Daí a importância de buscar ajuda o quanto antes”, explica Danielle Admoni.

Também há estudos que apontam que a deficiência da vitamina D pode ser compensada com a suplementação, atuando na manutenção do equilíbrio mental e corporal, e proporcionando a energia perdida neste período.

Psicoterapia

Ainda que a depressão sazonal esteja relacionada aos mecanismos biológicos, buscar ajuda psicoterapêutica é fundamental.

“A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental (TCC), auxilia o indivíduo a entender suas emoções e, consequentemente, saber lidar com elas em diferentes situações”, exemplifica Monica.

Segundo a psicóloga, as sessões de psicoterapia, que podem ser feitas individualmente ou em grupo, envolvem, por exemplo, exercícios de reflexão (para ajudar na identificação dos sentimentos negativos) e de respiração (para promover o relaxamento).

Fototerapia (terapia de luz)

A fototerapia consiste na aplicação de luz brilhante sobre a pessoa como substituição à exposição solar, sendo realizada em hospitais e clínicas especializadas.

“O indivíduo permanece deitado, enquanto recebe a luz durante um período de 20 a 60 minutos, dependendo da força da luz e o tempo de tratamento estipulado pelo médico. A fototerapia é bastante indicada para pessoas com depressão sazonal, sendo aplicada, normalmente, em conjunto com medicamentos”, explica Danielle.

“Vale lembrar que a adoção de hábitos saudáveis é sempre benéfica. A escolha de alimentos nutritivos, como frutas, verduras e legumes, é totalmente favorável à redução da incidência de depressão. A prática regular de atividade física é um importante aliado, pois estimula a liberação dos hormônios responsáveis pelo bem-estar. Por fim, uma boa dica para driblar a depressão sazonal é tirar umas férias e, claro, ir para lugares com o clima bem mais animador”, finaliza Monica.