Após dez dias de paralisação em todo o Brasil, os caminhoneiros e transportadores autônomos de carga voltaram ao trabalho e liberaram as rodovias para a distribuição de combustíveis e alimentos.
Durante o período, Tatuí sofreu com o desabastecimento de combustíveis, principalmente de etanol e gasolina, que ficaram escassos após grande procura.
Sempre que algum posto de combustível recebia algum caminhão-tanque, os motoristas formavam grandes filas, com carros e motos, a fim de garantir o abastecimento.
O movimento foi suspenso após o governo federal anunciar desconto de R$ 0,46 no preço do diesel (redução corresponde à soma dos valores do PIS/Cofins e da Cide), que será válido por 60 dias. Depois desse período, os reajustes serão mensais e não mais diários.
Os caminhoneiros também conseguiram isenção da cobrança do eixo suspenso, em todo o país. O benefício foi concedido via medida provisória. Os caminhoneiros autônomos terão 30%, pelo menos, dos fretes da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O governo também prometeu o estabelecimento da tabela mínima de frete.
Os valores da redução do diesel serão subsidiados pelos cofres públicos em R$ 9,5 bilhões até o final do ano, sendo que R$ 5,7 bilhões serão sacados da reserva de contingência do Orçamento federal e R$ 3,8 bilhões, obtidos por meio de corte de despesas que estavam programadas.
Contudo, Segundo Roberta Lopes, gerente de um dos postos de combustíveis da cidade, que ficou oito dias sem etanol e gasolina, a normalização está longe de acontecer. A unidade recebeu 10 mil litros de gasolina e 5.000 de etanol, durante a semana, o que corresponde a 50% do pedido realizado pelo posto.
“Se continuar com essa grande procura e se o restante do pedido não chegar, acho que, em poucas horas, não teremos mais o que vender”, disse a gerente, na manhã de sexta-feira, 1o, quando ajudava os frentistas no atendimento aos clientes.
A gerente conta que, durante os oito dias em que só atenderam os consumidores de diesel, o posto acabou registrando prejuízo. “Tivemos que pagar água, luz, funcionários e outros encargos. Tudo isso, praticamente, sem vender nada”, explicou.
“Se não tiver uma nova paralisação, acredito que, em uma semana, tudo será normalizado. Desde que voltamos a atender (na quinta-feira, 31), o movimento foi muito grande”, contou Roberta.
Os pedidos feitos às distribuidoras são realizados on-line e ainda não havia previsão de quando seriam atendidos.
O aposentado José Guilherme Mendes conta, que durante o período sem abastecimento de combustíveis na cidade, procurou economizar o máximo possível. Ele aproveitou a volta do produto e as poucas filas para garantir o tanque cheio.
“Até tenho um pouco de gasolina no tanque, mas já que voltou o fornecimento vou completar e ficar mais tranquilo. Nunca se sabe o que vai acontecer”, argumentou.
Mendes conta que, no início da semana passada, até tentou abastecer, mas desistiu por causa das grandes filas. “Acho que tinha outras pessoas mais necessitadas que eu. Essa greve comprometeu o trabalho e o sossego dos trabalhadores. Mesmo assim, foi bom para darmos importância aos caminhoneiros”, completou.
Além dos postos de combustíveis, os supermercados tiveram grande procura. Segundo o gerente de uma rede de supermercados, Mauro dos Santos, aos poucos, os produtos irão voltar às prateleiras.
“Foi um período terrível, pois não tínhamos o que fazer. Sofremos com a falta dos produtos perecíveis, como carne, frango, hortifrúti e leite”, contou Santos.
Ele informa que ainda está difícil encontrar algumas variedades de banana e mamão. “Esses produtos ainda não tiveram a distribuição normalizada nem na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), onde buscamos esses produtos”.
Segundo Santos, alguns clientes sentiram falta de produtos no mercado, mas a grande maioria, quando soube que a escassez ocorreu por conta da paralisação dos caminhoneiros, acabou apoiando o movimento. “Muitos disseram que alguma coisa precisava ser feita. Foi o que mais eu ouvi aqui dentro do supermercado”, comentou.
Santos diz que, por não saberem quanto tempo a greve duraria, muitos consumidores correram aos mercados a fim de garantir estoque para suas famílias. Até alguns produtos industrializados, que não são perecíveis, tiveram grande procura durante o período da greve dos caminhoneiros.
“Existiu uma corrida ao supermercado na quarta e quinta-feira da semana retrasada. As pessoas compraram mais do que o necessário, e acabou feijão, sal e leite. Teoricamente, não era para faltar. Foi uma loucura”, disse o gerente.
Segundo dados da unidade, o aumento das vendas ficou em 80%, comprometendo os estoques e mostrando a preocupação dos consumidores. “As pessoas se desesperaram e foram ao supermercado, assim como foi com os combustíveis”, observou.
O gerente acredita que, se os caminhoneiros não voltarem a paralisar a distribuição de produtos, em uma semana, tudo estará 100% normalizado.
“Hoje, você sai do mercado com todos os produtos, há apenas falta de algumas marcas”, disse, na sexta-feira. Para normalizar o atendimento, as entregas foram realizadas até mesmo no feriado, o que normalmente não acontece.
“Recebi dez fornecedores na quinta-feira, feriado de Corpus Christi. Entregaram carne, frango e outros produtos. Nunca tinha visto uma Sadia, BRF, Seara e Ceratti entregando no feriado. Os distribuidores estavam prontos para normalizar as entregas. Os produtos estavam na boca das docas, só aguardando a liberação das estradas”, concluiu o gerente.
Maria de Jesus Nogueira conta que não sentiu falta de nenhum produto e, por sorte, não precisou correr até o supermercado. A dona de casa afirma ter encontrado os produtos que estava precisando, como ovos, leite, farinha e manteiga.
“Faltou gasolina, mas não faltou comida, que é muito mais importante para as pessoas. Cada um sabe da sua necessidade; os caminhoneiros precisavam mostrar que o trabalho deles é necessário para a vida das pessoas”, opinou a dona de casa.
Mesmo com o desabastecimento de combustíveis, a Prefeitura de Tatuí conseguiu manter os serviços essenciais e de emergência, como a coleta de lixo, patrulhamento da Guarda Civil Municipal e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Na área de saúde, os transportes de urgência e emergência foram realizados normalmente.
Na quarta-feira, 30, 14 veículos ficaram disponíveis para o transporte dos pacientes. Todos os tratamentos contínuos realizados em outros centros (quimioterapia, radioterapia e hemodiálise) foram mantidos.
As cirurgias eletivas, realizadas na Santa Casa de Misericórdia, não precisaram ser canceladas. Com relação ao Cemem (Centro de Especialidades Médicas) e postos de saúde, as unidades ficaram abertas durante toda a semana.
Alguns médicos não residentes em Tatuí não conseguiram chegar até a cidade e algumas consultas precisaram ser reagendadas.
Na terça-feira, 29, a Prefeitura solicitou que a população utilizasse o Pronto-Socorro apenas para os casos de urgência e emergência.
Na Secretaria de Obras e Infraestrutura, os serviços da operação tapa-buracos e recapeamento foram temporariamente suspensos. Durante toda a semana, a empresa que opera o transporte coletivo municipal funcionou com 70% das linhas.
As aulas na rede municipal de ensino, o transporte escolar e a merenda também funcionaram regularmente. O Parque Ecológico Municipal “Maria Tuca” ficou fechado no dia 1o e permanece assim nestes dias 2 e 3.
Um dos 30 caminhoneiros de Tatuí paralisados, André Aparecido da Rocha não descarta a volta do movimento no início da semana. Segundo ele, a categoria avaliou como “uma loucura” a redução do valor do diesel com a retirada de investimentos da Saúde e da Educação.
“Certeza de 89% de que vamos parar. O vagabundo do Michel Temer baixou o valor do óleo diesel e tirou da Educação, Saúde, e aumentou o valor da gasolina. Ele é louco da cabeça”, declarou Rocha.
O motorista falou que as medidas não foram suficientes, pois, para compensar a perda, “foram retirados investimentos de setores fundamentais para o desenvolvimento do país”.
Rocha explicou que muitos motoristas saíram na quarta-feira – último dia da paralisação – para realizar as entregas, mas que se reuniriam neste final de semana para decidir a retomada, ou não, das manifestações.