Cápsulas respiratórias começam a ser usadas para tratar a Covid-19

O modelo foi produzido pelo Instituto Transire (foto: Fernando Foster)
Da reportagem

Desde o dia 9, a Santa Casa tem empregado um novo equipamento no tratamento da Covid-19. O hospital recebeu três das 25 cápsulas respiratórias doadas por iniciativa dos Rotarys Club de Tatuí e “Cidade Ternura”.

Pacientes internados que fizeram uso do equipamento já apresentaram melhora no nível de saturação de oxigênio, conforme adiantou o médico responsável pela UTI (unidade de terapia intensiva), Alexander Hayato.

O nível é um dos parâmetros empregados para acompanhar a evolução da doença. Quando ele está baixo, é aplicado protocolo de VNI (ventilação não invasiva).

Segundo Hayato, a cápsula entregue à Santa Casa conta com um filtro que produz pressão negativa no interior. O equipamento ajuda na estabilização do paciente, que apresenta melhora em menos de cinco dias, não permitindo que a doença progrida para o quadro de intubação (ventilação orotraqueal). “Evitando, inclusive, de o paciente ir para a UTI”, destacou o profissional.

Hayato classificou a doação das cápsulas respiratórias como “de extrema utilidade”. “Elas são essenciais até para a proteção dos nossos profissionais que estão envolvidos no atendimento, principalmente, neste momento de pandemia, em que nós não podemos ter baixas de nenhum profissional sequer”, disse.

O médico enfatizou que o coronavírus é “altamente contagioso” e que se espalha, especialmente, por gotículas disseminadas no ar. E a contaminação das equipes que atendem os pacientes infectados ou de outros pacientes pode ocorrer quando os internados tossem ou espirram. A expulsão gera a suspensão de aerossóis, mas não é a única causa de contaminação.

Hayato explicou que a eliminação de gases ou mesmo o suor da pessoa infectada pode contaminar o ambiente. Assim, as cápsulas evitam a exposição.

Segundo o médico, os equipamentos doados para a Santa Casa contam com aberturas laterais que ajudam no manuseio da equipe, tanto de fisioterapia como de enfermagem. “Basicamente, é uma abertura em zíper, mas que segue protocolos de saúde, evitando contaminação e transmissão no manuseio”, apontou.

Por meio das aberturas, as equipes médicas conseguem administrar medicamentos, manipular os pacientes, alimentá-los ou mesmo instalar ventilação ou inalação. “As cápsulas são de extrema importância, porque trazem não só segurança física, mas psicológica aos nossos profissionais”, adicionou.

Hayato argumentou que o atendimento direto aos pacientes infectados provoca tensão nas equipes, por causa da exposição e do potencial de contaminação. “Todos sabem que a doença é altamente contagiosa. Com o equipamento, os profissionais poderão atuar de maneira mais precisa e com menos exposição”.

As cápsulas repassadas para a Santa Casa contam com um diferencial a mais: são equipadas com um exaustor e um filtro. O resultado é menos desconforto para os pacientes. “Até uma pessoa com claustrofobia (medo de permanecer em espaço fechado) poderá fazer uso sem problemas”, disse Hayato.

O exaustor ajuda a reduzir a sensação de calor do paciente e o filtro do tipo HME (heater and moisture exchanger – trocador de calor e umidade) assume o papel de evitar a disseminação de patógenos respiratórios por gotículas e aerossóis. O HME é o mesmo filtro utilizado na ventilação mecânica, com eficácia de filtragem de 99,9%.

Para os médicos, Hayato explicou que as cápsulas representam um método a mais no tratamento dos pacientes. Segundo ele, os doentes sofrem de desconforto respiratório e precisam fazer inalações. Para que não houvesse risco do vírus se proliferar no ambiente da UTI, o procedimento era evitado.

“Com a pulverização das gotículas no ar, o coronavírus se espalha mais, muito além do que a distância de segurança de um metro ou um metro e meio. Antes, todo o ambiente poderia ficar contaminado, mas, com essa atitude, de colocar uma cápsula, nós conseguimos, literalmente, encapsular o aerossol”.

Ficam protegidos, além dos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas. Hayato acrescentou que os equipamentos evitam a disseminação do vírus em outros ambientes.

“Sem as cápsulas, não seriam só esses profissionais contaminados, porque nós temos 13 leitos. Basicamente, num plantão, teríamos 25 profissionais com risco de exposição”, enumerou.

Além da equipe que atende aos pacientes, outros funcionários ficavam expostos. De acordo com o médico, as equipes da lavanderia e da limpeza também trabalhavam mais vulneráveis. “As cápsulas são uma segurança e permitem um atendimento mais individualizado para os pacientes”, acrescentou.

Também conhecidas como tendas de oxigenação, as cápsulas respiratórias fazem parte de novo projeto desenvolvido pelo Rotary Club de Tatuí para ajudar no combate à Covid-19. José Eduardo Cantieri da Costa, “past-presidente” do clube de serviços, ressaltou que o Rotary tem direcionado todo o trabalho para essa finalidade. “Essa nova ação contempla a confecção de cápsulas respiratórias, denominadas de cápsulas Vanessa”, iniciou.

Em Tatuí, o projeto contou com parceria da Arte Set Cortes Personalizados, Centro Hípico de Tatuí e Rede Caetano Materiais para Construção, empresas que detêm o selo de “amigas” por patrocinarem iniciativas encabeçadas pelos rotarianos.

Os equipamentos produzidos em Tatuí seguem protótipo desenvolvido em Manaus, estado do Amazonas, e levam o nome de “Vanessa” em homenagem à primeira paciente tratada com o equipamento e que se recuperou do coronavírus.

O modelo foi produzido pelo Instituto Transire, sob a orientação da rede de hospitais Samel. Ao tomar conhecimento do projeto, Cantieri levou a iniciativa ao clube, para que a diretoria discutisse a viabilização da confecção.

“Prontamente o Rotary se propôs a desenvolver essa cápsula, para que ela chegasse a todos os profissionais que atuam na linha de frente da nossa saúde e que estão diariamente combatendo esse inimigo invisível”, descreveu.

Segundo ele, as cápsulas representam um incremento nos EPIs (equipamentos de proteção individuais) utilizados por médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem.

Cantiere disse que os equipamentos apresentam “bastante eficácia”. Segundo ele, se utilizados no início, contribuem para que pacientes com sintomas iniciais confirmados de coronavírus não evoluam para quadros mais graves. Evitam, portanto, intubação ou internação em unidade intensiva.

O custo inicial do projeto, aprovado na gestão da “past-presidente” Clara Maria Vieira de Camargo Sobral, era de R$ 5.000. “O valor foi ultrapassado rapidamente, visto que hoje estamos tendo muita dificuldade em encontrar equipamentos na área da saúde, por exemplo, os filtros que adequamos”, contou.

Além das empresas, o Rotary teve colaboração de associados do “Cidade Ternura” e de doadores anônimos. “Foram eles que fizeram esse projeto sair do papel e se tornar uma realidade. É, com certeza, um grande instrumento de trabalho para os profissionais que nos representam”, declarou.

Nesta etapa, 25 equipamentos serão doados para a Santa Casa. No entanto, Cantieri adiantou que o clube está pronto para, se houver demanda, confeccionar mais cápsulas para atender a todos os pacientes que necessitarem.

A interventora da Santa Casa, Márcia Aparecida Giriboni de Souza, recebeu os equipamentos na capela do hospital. Ela agradeceu aos representantes do clube por “abraçar o nosocômio” e pela “ajuda incomensurável”.