O meu amigo marceneiro e contador de histórias José Batata tinha um rancho bem ao lado do rio Sorocaba, num bairro localizado na estrada Tatuí-Boituva. Às vezes, nos finais de semana, íamos até lá assar uma carninha e tomar umas talagadas.
Numa dessas ocasiões, tinha um bom pessoal reunido, entre eles, o Zé da Padaria, que adorava a barranca do rio e sempre levava para casa uns bons peixinhos.
Lá pelas 10 horas da noite, a cerveja estava quase no fim, e o Batata sugeriu que alguém fosse até um posto de gasolina localizado ali por perto, buscar algumas latinhas do dourado líquido.
Me apresentei para o serviço e, juntamente com o neto do escriba, fomos cumprir a missão. Entre o rancho e a estrada, havia um outro rancho, que abrigava um belo tanque.
Quando chegamos até o tanque, notamos que, durante o dia, tinha chovido bastante. O tanque tinha transbordado um pouco e, ao passarmos por ali, vimos um grande curimbatá no meio da estrada.
Descemos do carro e fomos pegar o peixão, que, nervoso, pulava como um doido. O bicho era muito liso e não teve jeito de pegá-lo: pulava de nossos braços, dava rabada em todo mundo, pulou tanto que acabou caindo novamente no tanque e desapareceu.
Decepcionados, fomos até o posto, compramos um monte de cervejas e voltamos. De volta, resolvemos contar para todos a nossa aventura vivida com o peixão. Por que fomos fazer isso?!
A gargalhada foi imensa, nos ameaçaram atirar dentro do rio, queriam tirar foto conosco e também nosso autógrafo. Foi duro aguentar a gozação. Pescadores de estrada! Afirmaram.
Devido ao horário avançado, resolvemos ir embora e assim, o fizemos. Ao entrar pela avenida Firmo Vieira, havia, em frente à Volkswagen, onde hoje é uma farmácia, um bar, o “Bar da Tia”, onde resolvemos dar uma parada para tomar a saideira. Tomamos assento, e dá-lhe cerveja.
Nisso, param também uma Brasília cheia de pescadores, todos turbinados. E um deles pede pra Tia se ela poderia fritar algumas rãs, que já estavam limpas, era só passar no fubá e fritar as bichinhas. Uma delícia!
A Tia olhou pros bichinhos peladinhos da silva e esbugalhou dois zoiões, mas concordou. Colocou no fogão de duas bocas uma panela com bastante óleo, as rãs num prato com limão e fubá, deu uma mexida e jogou tudo no óleo quente.
Assim que tudo aquilo caiu no óleo, espirrou como um vulcão. A Tia, que já estava bastante assustada com aquela bicharada pelada, deu um grito agudo demais e desmaiou, caindo de costas no chão, com os braços e as pernas pra cima.
Foi aquele corre-corre. “Levantem a Tia!”, gritava um, “apaguem o fogo”, berrava outro. Outro rezava baixinho, muitos correram pra a rua. Finalmente, levantaram a Tia, que, depois de tomar uma jarra de água, conseguiu ficar sentada e dar uma choradinha.
Tudo resolvido, as rãs foram pro lixo, os bêbados, embora, e nós tínhamos mais uma história para contar. Sem mentiras!
* Artista plástico e ex-editor do jornal O Progresso (anos 1981-1994).