Mais que o sustento, a pesca revela costumes, tradições e identidade. É esse o “espírito” da exposição “Gigante das Águas”, trazida pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) a Tatuí. A mostra fotográfica entrou em cartaz no fim do mês.
As imagens são assinadas por André Dib, tendo sido captadas na Amazônia, chamada pelo autor de “floresta de superlativos”. Dib argumenta que a Amazônia guarda histórias da origem do Brasil, uma vez que é lá que a cultura ribeirinha “se espalha em inúmeras comunidades e pelas margens dos rios”.
O projeto apresenta uma visão sobre a pesca como prática de vida e iniciada por povos antigos. Ele foi produzido a partir do Programa de Manejo de Pesca, do Instituto Mamirauá, referência internacional em desenvolvimento sustentável.
A iniciativa é focada na população que vive em uma área de mais de 3 milhões de hectares no entorno do rio Solimões, afetada pela captura descontrolada do pirarucu, considerado o maior peixe de escamas do mundo.
Como a espécie está ameaçada de extinção, a população ficou impedida de capturá-lo para alimentação ou venda. O projeto levou renda aos moradores, “fartura” de alimento e garantiu a preservação do peixe, um dos símbolos amazônicos.
A natureza apresentada na mostra – definida como “pulsante” – e a forma como o ser humano nela se encaixa são o foco do trabalho de André Dib. Ele não se restringe a paisagens e traz cenas cotidianas, costumes e tradições do mundo.
Fotógrafo desde 2002, Dib produz reportagens para as revistas “National Geographic Brasil”, “Galileu”, “TAM nas Nuvens”, “Horizonte Geográfico” e “Explore Magazine”, dos Estados Unidos. Atualmente, tem se dedicado a registrar o modo de vida dos povos tradicionais e a riqueza natural de vários biomas.
Ascendeu e documentou as maiores montanhas do Brasil e da América, trabalhou na Europa e no Oriente Médio. É vencedor do ABB Photo Competition, em Zurique (Suíça) e de dois prêmios da Fundação Nacional de Artes − Funarte.
A exposição “Gigante das Águas” permanece aberta até o dia 9 de junho. As visitas acontecem de segunda a sexta, das 8h às 20h, e aos sábados, das 9h às 12h. O Sesi fica na avenida São Carlos, 900, na vila Dr. Laurindo.
No mesmo espaço, o público tatuiano pode conferir a mostra “A Sombra do Porto”, de Ricardo Hantzschel. O trabalho evidencia o porto da cidade de Santos, que se apresenta em forma “gigante e diversificada” e é referência na América Latina.
Hantzschel escolheu o porto como local para o ensaio fotográfico pelas características. O fotógrafo quis buscar um espaço “hostil, povoado por anônimos e cuja importância parece ser inversamente proporcional à monumentalidade das cargas que eles manipulam”.
O autor descreve o cais como “um espaço fascinante, inesgotável na sua capacidade de gerar histórias, na simplicidade quase banal das idas e vindas de seus personagens”.
“Ele abriga sombras, vultos e silhuetas que compõem esse mundo, ligação umbilical entre a terra e o mar”, ressaltou o profissional.
Hantzschel é jornalista, formado pela PUC (Pontifícia Universidade Católica), de São Paulo, e pós-graduado em fotografia e mídia pelo Senac (Serviço Nacional do Comércio), da capital. Atua como fotógrafo profissional há 30 anos e dá aulas como professor do ensino superior desde 2000.
As fotografias dele em exposição no Sesi ficam em cartaz até o próximo dia 14. O público pode conferir as imagens de segunda a sexta, das 8h às 20h, e, aos sábados, das 9h às 12h.
Já a instalação “Tudo é Sempre Construção, e Também Ruínas” tem visitas realizadas apenas de segunda a sexta, das 9h às 19h. Ela teve abertura em agosto do ano passado e permanecerá no Sesi até o dia 1o de julho.
A obra de Andrey Zignnatto tem como base a frase “Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína”, de autoria de Claude Lévi-Strauss.
O antropólogo belga fez a declaração que é interpretada como reprodução do paradoxo da cultura brasileira (do consumismo enraizado que compele as pessoas à construção e reconstrução dos entornos) em uma das visitas que fez ao Brasil.
O trabalho consiste na instalação de um muro feito com tijolos baianos, no qual quase todos eles são quebrados para fora da estrutura do cimento. O resultado é a formação de uma espécie de ruínas sobre uma construção em desenvolvimento.
“Tudo é Sempre Construção, e Também Ruínas” faz parte do projeto Ocupação Artística no Sesi. A iniciativa oferece espaços diversos, como muros, arquibancadas, jardins, janelas, entre outros, para serem transformados em plataformas expositivas. Essas recebem interferências artísticas.
Criada em 2013, a iniciativa promove o contato do público com novas linguagens artísticas, oferecendo-as em locais de grande visualização e circulação. Além disso, propicia o contato direto do espectador com o artista, uma vez que o público pode acompanhar o processo de criação e construção da obra.
O autor nasceu em Jundiaí, São Paulo, e desenvolveu-se na arte de forma autodidata. Ele tomou como um de seus eixos formais o tijolo, a partir da própria vivência em olaria, onde trabalhou por quatro anos como assistente de pedreiro.