Claudio Lottenberg *
Já faz algum tempo que os judeus do mundo inteiro vêm constatando uma tendência preocupante: a cada ano, o grau de ignorância das gerações mais jovens acerca do Holocausto parece aumentar.
Hoje, oito décadas após o genocídio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista, uma parcela ampla da sociedade desconhece informações básicas a seu respeito. Não sabem o que foi, quem o causou, por que ocorreu.
No Brasil, pesquisa de 2019 da Anti-Defamation League, organização histórica no combate ao antissemitismo, mostrou que 22% dos entrevistados nunca haviam ouvido falar no Holocausto, e 15% acreditavam que o número de mortos teria sido exagerado.
A ignorância generalizada é terreno fértil para o ódio. À medida que a memória coletiva do Holocausto esmaece, grupos mal-intencionados vêm preenchendo o espaço que ela ocupava de forma metódica e intensiva, com banalizações, negacionismo e discursos violentos.
Em 2022, é possível ver os frutos dessa ignorância em todo lugar. Na Europa, partidos com inclinações neonazistas, como a AfD (Alternativa para a Alemanha), proliferam e conquistam adeptos, aproximando-se perigosamente dos espaços de poder.
Nos EUA, são cada vez mais frequentes ataques a sinagogas e outras formas de violência — física ou simbólica — direcionada a judeus. Os mesmos grupos antissemitas que organizam esses ataques têm a erosão e a manipulação da memória como projeto prioritário, e conseguem propagar suas mensagens com um grau de penetração surpreendente. Muitos jovens americanos já declararam ter visto na internet símbolos nazistas e posts negando ou distorcendo o Holocausto.
Já o Brasil vive uma explosão de grupos extremistas, dos quais a maioria é neonazista. Segundo a antropóloga Adriana Dias, essas células cresceram 270% entre 2019 e 2021, chegando a 530 grupos — cerca de 10 mil pessoas.
Gestados em fóruns online, eles têm dado sinais alarmantes de que não pretendem se limitar a disseminar mensagens de ódio na internet, mas a efetivá-las na vida real, adquirindo armas e organizando treinamentos paramilitares.
Essas circunstâncias atestam a falência coletiva da sociedade em educar seus jovens. Enquanto não fizermos um esforço concreto para reverter essa realidade, corremos riscos sérios, para além da comunidade judaica.
O antissemitismo contemporâneo, afinal, é a manifestação de um mal mais profundo – a intolerância. No Brasil, os mesmos grupos que pregam a violência contra os judeus já se organizam para praticá-la contra negros, nordestinos e LGBTs.
Nesse sentido, trabalhar contra a banalização do Holocausto é crucial não apenas para os judeus, mas para a nossa sobrevivência enquanto civilização. Ao falar do Holocausto, estamos lutando também contra outros genocídios.
À medida que nos distanciamos do Holocausto, é crucial preservar sua memória, reforçar a sua dimensão enquanto trauma coletivo. Neste 27 de janeiro, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, lembramos do óbvio: aprender com o passado é a única forma de proteger o futuro.