Ainda bem que ninguém quer se sacrificar em Tatuí

A observar-se a persistente aversão à democracia, à solidariedade, à tolerância, à diversidade e, claro, à arte e à cultura, pode-se intuir que o extremismo segue firme e sedento por sangue e lágrimas (suor nem tanto) em significativa parte da população – a despeito da explícita condição de menos tensão, agressões e ameaças vivida por todos no momento.

Interessa, com atenção ao fato, reconhecer o peso ainda sustentado no país – e em Tatuí, certamente – por opções políticas não apenas nada afeitas às regras democráticas constitucionais, mas simpáticas demais às teorias alternativas de percepção da realidade – ou distorções desta, melhor pode-se dizer…

Uma das mais preocupantes e danosas reinterpretações do mundo real é o chamado “negacionismo”, pródigo em envolver incontáveis teorias da conspiração, as quais apenas não são mais risíveis que perigosas, sobretudo quando envolvem a vida de terceiros.

De todas as picardias político-alucinógenas, a mais trágica veio a ser a que prejudicou a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, levando indivíduos a colocar a própria vida em risco – algo só não pior que colocar a vida “dos outros” em perigo…

Menos mal, contudo, que, pelos índices de vacinação contra o novo coronavírus, mesmo entre os mais sectários, poucos aceitam se colocar em risco de morte em nome de seus difusos conceitos ideológicos, tampouco por amor a algum clã político autoproclamado salvador da pátria – ainda que antes, para isso, não disfarce a intenção de botar o país em chamas abaixo.

Em outras palavras, vale ódio aos direitos humanos, à Constituição, à liberdade religiosa, aos gêneros diferentes (e aos diferentes em geral), à Educação, à arte… mas, no final das contas, prevalece a tal “vacina no braço”.

Claro, porque ninguém se dispõe a dar à vida em sacrifício, seja por alguma hipotética ideologia ou, na pior das hipóteses, a favor de milícias criminosas disfarçadas de arautos dos interesses da “família”.

E que bom ser assim. Caso contrário, o morticínio teria sido muito maior. Neste momento, não obstante, tocar em assunto tão incômodo é devido por uma razão prática: os casos de Covid-19 em Tatuí estão tendo aumento expressivo, exigindo cuidado redobrado, tal como no resto do país.

A situação foi reportada pelo jornal O Progresso de Tatuí na semana passada, a partir de informações da Secretaria Municipal de Saúde. De acordo com a secretária da pasta, Roseli de Fátima Mocchi, somente no mês de outubro, o município havia registrado 422 pacientes infectados pelo vírus. É o maior número de casos desde que o órgão deixou de emitir os boletins diários, em junho deste ano.

Os dados confirmam informação do Infogripe (programa de monitoramento da Fiocruz, que visa monitorar e apresentar níveis de alerta para os casos reportados de síndrome respiratória aguda grave) sobre o crescimento no número de infectados no país.

A coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Rosana Oliveira, comentou que, apesar dos quadros dos sintomas da Covid-19 “serem fracos”, por conta das vacinas imunizantes, ainda há pessoas que não completaram o esquema vacinal.

“Deixamos um alerta a essas pessoas e, também, às imunocomprometidas, idosos e gestantes, para que sigam as etiquetas respiratórias”, reforçou. A prefeitura deixou de divulgar as atualizações diárias por meio do site oficial no mês de junho. No entanto, de acordo com a pasta, os dados são computados internamente.

Até o mês seis, haviam sido contabilizados 34.719 casos da Covid-19 em Tatuí, sendo 103.453 descartados, 138.172 notificações, 34.182 pacientes recuperados e 528 óbitos.

Referente às doses vacinais, até o mês seis, tinham sido registradas 366.649 aplicações. Desse total, 113.957 correspondiam à primeira dose, equivalendo a 92% da população vacinada; 107.239, à segunda (87%); 73.485, à terceira (60%); 38.968, à quarta (32%); 15.822, à quinta (13%); 3.092, à dose única (3%); e 14.086, à dose bivalente (12%).

Apesar do número significativo de infectados, Roseli relata que, até o começo deste mês, havia apenas três pacientes hospitalizados na cidade, todos estáveis.

Roseli alerta sobre os cuidados básicos para evitar a transmissão do vírus, reforçando o isolamento como medida para conter a propagação da Covid-19.

Por sua vez, o Ministério da Saúde anunciou, no dia 31 de outubro, que a imunização contra a Covid-19 será anual para grupos prioritários, a exemplo do que ocorre com a campanha de vacinação contra o Influenza (gripe), e passará a integrar o calendário nacional para crianças entre seis meses e menores de cinco anos.
Até agora, as ações de imunização contra a doença eram conduzidas de forma excepcional, por causa da emergência sanitária. Em 2021, a campanha foi organizada de acordo com a disponibilidade de vacinas e públicos com maior necessidade.

Entre 2022 e 2023, após toda a população adulta ter acesso às duas doses iniciais, foram disponibilizadas vacinas infantis, doses de reforço e o imunizante bivalente, versão atualizada para conferir maior proteção também contra as cepas da variante ômicron.
Atualmente, o grupo prioritário contempla idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas, trabalhadores da Saúde, pessoas com comorbidades, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pessoas vivendo em instituições de longa permanência e funcionários desses locais, com deficiência permanente, privadas de liberdade, adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas e indivíduos em situação de rua.

O órgão da Saúde local lembra que a vacinação acontece em várias UBSs durante toda a semana e, ainda, que as vacinas e os testes de Covid-19 estão disponíveis na rede municipal.

Para isso, o cidadão deve comparecer aos locais munidos de cartão SUS, CPF, documento com foto, comprovante de endereço e carteira de vacinação ou comprovantes anteriores de recebimento das vacinas contra Covid-19.

Na vacinação de menores de idade, um responsável precisa estar presente. Informações podem ser obtidas na Vigilância Epidemiológica, por meio do telefone (15) 3259-6358.

Enfim, se ainda não inventaram vacina contra sectarismo, a que combate a Covid-19 segue disponível. É só tomar e seguir vivendo – já “viver melhor” aí pode demorar um pouco mais. Mas, como bem se diz, há uma coisa imune a vírus e que nunca morre: a esperança!