Redução de produção gera 718 demissões





AC Prefeitura / Evandro Ananias

Prefeito, presidenter do sindicato e representantes da Yazaki em primeira das reuniões agendadas pelo Executivo para analisar  situação

 

A queda no mercado de automóveis provocou um efeito cascata nas montadoras de todo o país, com sintomas sentidos em Tatuí. As principais indústrias do município – responsáveis pela geração da maioria dos empregos – estão demitindo.

Os desligamentos tiveram início em janeiro deste ano e são provocados, conforme o presidente do Sindimetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região) e secretário municipal da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Ronaldo José da Mota, pela redução das produções.

A análise do representante da entidade classista é que o setor automotivo está em retração. Produzindo menos, as montadoras necessitam de menos peças e componentes. Essa redução explica, em parte, as demissões do setor no município e região.

Além de Tatuí, registraram desligamentos empresas situadas em Sorocaba, Votorantim, Itu, Jundiaí e Indaiatuba – esta última com 1.600 pessoas perdendo o emprego, sendo a maioria ex-funcionários do complexo Hyundai, formado por empresas que fornecem peças e componentes para a sul-coreana.

“Em função da retração da economia, por conta do fim da redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) no fim do ano passado, as empresas (montadoras) passaram a estocar veículos. Tudo isso resultou na situação que as companhias enfrentam atualmente”, ponderou Mota.

De acordo com o sindicalista, as empresas tatuianas acenderam o farol amarelo já no início deste ano. Visando manter a lucratividade, começaram a rever o quadro de trabalhadores. No caso de uma em específico, a Yazaki do Brasil, a redução propriamente dita, do número de postos.

“A crise está atingindo mais as empresas que trabalham com as montadoras”, disse o presidente da entidade classista, referindo-se, particularmente, ao Grupo Rontan, Rontan Eletrometalúrgica e FBA (Fundição Brasileira de Alumínio), com grande parte da produção dedicada às montadoras.

Entretanto, algumas delas, como a Yazaki, têm apenas 5% da produção voltadas à indústria de automóveis, conforme dados do sindicato. Nesse caso, a política da empresa está ligada a uma disputa de mercado e mudança de estratégia.

A quantidade de pessoas demitidas pelas metalúrgicas no município impressiona, mas acompanha o cenário estadual e nacional.

Em janeiro deste ano, 98 pessoas tiveram “baixa” na carteira de trabalho. Em fevereiro, esse número caiu para 73. No mês seguinte, março, houve 39 desligamentos.

Em abril, as indústrias voltaram a demitir mais, desligando 136 trabalhadores. Em maio, foram 113 pessoas. O “pico” aconteceu em junho, com 259 “baixas”.

O número de demissões em Tatuí, entretanto, pode ser bem maior que o registrado pela entidade. O motivo é que o sindicato faz homologações de trabalhadores que têm mais de um ano de registro. “Funcionários com menos de um ano são demitidos diretamente pelas empresas”, explicou.

As demissões também se referem somente ao setor metalúrgico. O Sindimetal não responde, por exemplo, pelos desligamentos das indústrias do setor cerâmico, têxtil e outros. “O número é um pouco maior”, comentou Mota.

O sindicato começou a acompanhar a situação do mercado mais atentamente em janeiro. “Nós começamos a perceber que alguma coisa estava fora do normal quando os pedidos de homologações chegaram”.

A média diária dos pedidos variava entre três e quatro demissões. “Nós percebemos que elas agregavam mais de uma empresa e passamos a ‘segurar’ as rescisões. Chamamos as empresas para conversar e saber o motivo”, contou.

Mota disse que o sindicato percebeu uma “anormalidade”, uma vez que a rotatividade das indústrias é considerada baixa. De acordo com ele, a média de demissões gira em torno de 25 a 30 por mês.

Em janeiro, elas atingiram 98, no período de 20 dias. “Naquele mês, as empresas voltaram de férias coletivas, praticamente no dia 10. Então, em 20 dias, demitiram muita gente”, relatou.

Em fevereiro, as demissões continuaram altas e o sindicato chamou as empresas para negociações. “Demos uma segurada, e, no mês seguinte (março), houve uma diminuição grande nos desligamentos”, comentou.

Também em março, as empresas apresentaram a política de redução de postos e corte. Além das três indústrias, a Metalúrgica WA também anunciou demissões. Conforme Mota, dos 140 funcionários, 20 serão mandados embora. “Este é um caso à parte. Trata-se de questão administrativa”, falou.

Diante do quadro, o sindicato apresentou diferentes propostas às empresas. No caso da Yazaki, que iniciou redução do número de postos, a entidade disse que não pôde intervir mais incisivamente.

“Não há muito o que fazer. Quando a empresa desativa uma linha de produção, a mão de obra ficaria ociosa. Aí, não tem como se falar em remanejamento”.

Já no caso da Rontan e FBA, as sugestões da entidade surtiram efeito. “Essas duas são diferentes. Sabemos que elas reduziram o número de funcionários por conta da produção. A tendência é dar uma melhorada, e esse pessoal ser recontratado conforme a demanda de serviços”, afirmou o sindicalista.

Soluções

Durante as negociações com as empresas tatuianas, o sindicato apresentou três propostas. A primeira é o plano de demissão voluntária; a segunda, demissão por avaliação técnica; e a terceira, por verificação da condição social do trabalhador.

A demissão voluntária é considerada uma forma de evitar que funcionários que precisem do emprego sejam desligados. “Nós não queremos desemprego, mas, quando a empresa fala em mandar embora um grande número de pessoas, a primeira coisa que pedimos é que ela veja quem quer ser dispensado”.

Com o plano de desligamento, o funcionário é quem apresenta o nome para ser demitido. Nesse caso, são feitos desligamentos de pessoas que já estejam predispostas a sair ou trocar de emprego, caso de grávidas, de mães que estejam de licença-maternidade, ou mesmo de funcionários com “anos de casa”.

A suspensão do contrato de trabalho consiste num acordo feito entre o trabalhador e a empresa, por meio do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

O funcionário entra com pedido de seguro-desemprego (recebendo entre três e cinco parcelas) e, nesse período, faz um curso de requalificação.

Também durante o tempo em que permanecer em “suspensão”, o funcionário tem o salário complementado pela empresa. Por meio desse acordo, o empregado compromete-se a realizar curso de qualificação ou requalificação.

A empresa indica qual a capacitação a ser realizada. Ela fica responsável, ainda, pela realização do convênio com entidade de ensino que irá permitir o aperfeiçoamento do funcionário. Em Tatuí, já houve acordo nesse sentido, feito em 2009, e que envolveu a Etec (Escola Técnica) “Salles Gomes”.

Em geral, os cursos oferecidos são de meio período, e, após a conclusão, o trabalhador volta à ativa. “Se a empresa quiser que ele continue afastado, tem que bancar o salário dele com todos os encargos”, disse Mota.

Nesse caso, incorporam-se ao salário as contribuições e pagamentos, como férias e 13o salário. “Na maioria das vezes, as empresas chamam o pessoal de volta, até porque há uma estabilidade”, comentou o presidente.

Conforme ele, durante o período de treinamento, o funcionário pode ser mandado embora. Entretanto, como já usou o seguro-desemprego, a empresa é obrigada a oferecer a ele um salário pelo período que ficou em treinamento.

Também é sugerido, para efeito de redução do número de demissão, que a empresa institua um “banco de horas”. A ideia é que o trabalhador tenha a carga horária semanal reduzida e que compense as horas em haver quando a empresa retomar a produção. “O funcionário repõe sem cobrar hora extra”.

Por fim, há a demissão pelo critério social. Mota explicou que a intenção é evitar que o trabalhador tenha mais problemas com a demissão.

“Nós pedimos que a empresa veja as condições de saúde e familiares do empregado. Se ele tem problemas, se tem família e esposa que trabalha e se a demissão pode afetar mais gente que dependa dele”, exemplificou.

Entretanto, Mota afirmou que critérios podem não se aplicar a algumas empresas. “No caso da Yazaki, como é um grande número de dispensa, as demissões são aleatórias, sem critério”, afirmou. Mesmo assim, o sindicato conseguiu negociar com a empresa a redução do número de demissões. A previsão era dispensar entre 500 a 550 trabalhadores, número que caiu para 330.

No entanto, o cálculo pode envolver números já consolidados. “Nós estamos entendendo que as demissões já começaram e que esses números são de desligamentos que estão acontecendo desde janeiro deste ano”, argumentou.

A previsão do sindicato é de que a situação das indústrias deve melhorar a partir de agosto. Deste modo, o número de demissões deve “voltar aos patamares normais”. “Vai depender, claro, do setor como um todo”, disse o sindicalista.

Mota afirmou, porém, que a manutenção dos postos está condicionada a ações do governo federal. Conforme ele, há necessidade de uma revisão tributária (redução da alíquota do IPI) para que o mercado volte a se aquecer.

O sindicalista também avalia que a carga tributária (de impostos que envolvem a produção) atrapalha o crescimento das empresas no âmbito nacional.

Intervenção municipal

Ainda que o problema seja de ordem econômica, Mota solicitou a intervenção do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, junto às empresas. O sindicalista intermediou reuniões com empresários.

“Esses encontros estão acontecendo. O Executivo está fazendo um esforço para manter os postos de trabalho. Também para avaliar como está o cenário municipal e verificar se há e quais são as possibilidades”, detalhou Mota.

A intenção é envolver a “Salles Gomes” e a Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo” numa futura capacitação.

Com as demissões, o secretário espera que a cidade tenha “um impacto” no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE.

No entanto, Mota já havia previsto retração no mercado local em 2013, quando comentou sobre o desempenho da cidade no ano passado em comparação com 2012.

“A crise como ela está, nós havíamos previsto, mas ela ainda não se alastrou tanto por conta da Copa do Mundo. Nós estamos em recessão”, sustentou.

Na avaliação dele, o Mundial está retardando os efeitos da crise, uma vez que o consumo continua em alta com o setor alimentício, de hospedagem e outros.

“As empresas trabalharam dois, três dias por semana por causa dos jogos. Aí, nós tivemos feriados que emendaram. Além disso, há grupos de funcionários entrando em férias coletivas de 30 dias. O impacto virá depois”, encerrou.