Agência Health
São Paulo, 13 de março de 2024 – Nem todo mundo sabe, mas a miopia aumenta o risco de desenvolver o glaucoma, principal causa de cegueira irreversível em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050 metade da população mundial será míope.
No Brasil, a estimativa da entidade é que até 2040, o número de brasileiros com alta miopia deve aumentar 84%, passando de 6,6 milhões para 12,2 milhões.
A miopia tornou-se cada vez mais prevalente em todo o mundo, refletindo as mudanças significativas nos comportamentos de estilo de vida, principalmente no que diz respeito ao uso excessivo de telas e ao tempo reduzido das atividades ao ar livre.
Estes comportamentos afetam, principalmente, crianças, adolescentes e jovens adultos, população em que a miopia é cada vez mais prevalente.
De acordo com Dra. Maria Beatriz Guerios, oftalmologista geral e especialista em Glaucoma, a associação entre miopia e glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) está bem estabelecida. “Os estudos ao longo dos anos apontaram que esta relação é mais comum em pessoas com graus mais altos de miopia, mas também é importante em graus médios”.
Risco de glaucoma em míopes pode ser até 3 vezes maior do que em pessoas não míopes
Um estudo chamado Blue Mountains Eye Study descobriu que míopes baixos (-1,0 D a -3,0 D) tinham um risco duas vezes maior de glaucoma em comparação com não míopes, enquanto míopes moderados a altos (-3,0 D ou pior) tinham um risco três vezes maior.
Outro dado importante é que a miopia axial crescente, àquela em que há aumento da distância entre a parte de trás e a frente do olho, está associada a um risco ainda maior de surgimento de glaucoma.
A progressão do grau da miopia, cada vez mais comum na população infantojuvenil, é outra questão preocupante. Isto porque a cada 1 grau de aumento da miopia, o risco de glaucoma aumenta em 20%, principalmente em pessoas com alta miopia.
Afinal, por que a miopia está associada a um risco maior de desenvolver glaucoma?
A relação entre glaucoma e miopia não está totalmente esclarecida. “Mas, a miopia está relacionada a um globo ocular mais alongado. Estas características anatômicas em olhos de pessoas míopes podem impactar em algumas estruturas, como retina, esclera e nervo óptico, aumentando o risco de danos glaucomatosos”, explica Dra. Maria Beatriz.
Diagnóstico de glaucoma em pessoas com miopia pode ser um desafio
O diagnóstico do glaucoma em pessoas com miopia é um desafio para os oftalmologistas. Em muitos casos, a miopia pode causar alterações no campo visual e no nervo óptico, sem que isto esteja relacionado ao desenvolvimento de um glaucoma.
“Outro aspecto é que em alguns pacientes a pressão intraocular (PIO) está dentro dos parâmetros normais. Lembrando que o aumento da pressão dentro dos olhos é o principal fator de risco para os danos glaucomatosos”, alerta a especialista.
Felizmente, hoje existem exames que podem ajudar a fechar o diagnóstico como a OCT (tomografia de coerência óptica), a campimetria, entre outros. De qualquer maneira, é crucial que estes resultados sejam interpretados por oftalmologistas especializados em glaucoma.
Tratamento precoce evita perda da visão
“O objetivo do tratamento do glaucoma, independentemente se é causado ou não pela miopia, é prevenir a progressão da perda visual. Em muitos casos, os oftalmologistas optam por iniciar o tratamento do glaucoma em pessoas com miopia, mesmo quando não existe uma conclusão a respeito do diagnóstico”, comenta Dra. Maria Beatriz.
Míopes devem frequentar oftalmologista com mais frequência
Em resumo, a miopia é considerada uma epidemia global que preocupa os especialistas, devido ao fato de que este erro refrativo aumenta o risco de desenvolver doenças graves, como o glaucoma. Desta forma, a recomendação é que a partir do diagnóstico da miopia, o acompanhamento com o oftalmologista seja frequente.
“Para além disto, é fundamental reduzir o tempo em frente às telas e em atividades que exijam o uso da visão de perto por muito tempo. Por fim, é importante incentivar as atividades ao ar livre, bem como àquelas em que se usa mais a visão de longe do que a de perto”, finaliza Dra. Maria Beatriz.