Hora certa, pra quê?

Mouzar Benedito *

Eu implico muito com cidades ou povoados que mudam de nome. Geralmente mudam para pior. Tiram um nome interessante e colocam um sem graça, muitas vezes homenageando algum político qualquer, uma família que manda no lugar, coisas por aí.

Em Goiás, muitas cidades têm a terminação “lândia”, homenageando alguém. Uma delas eu até poderia brincar que é em minha homenagem: o povoado Barreirinho, quando se tornou cidade, passou a se chamar Mozarlândia, homenageando seu fundador, que, é claro, não sou eu.

O certo é que poucas vezes mudam para nomes interessantes. É o caso de um povoado de Goiás que tinha um nome curioso, Paletó Rasgado. Entre as versões para explicar esse nome tinha a história de um viajante que parava sempre pra descansar debaixo de um pequizeiro. E pendurava um paletó velho nele. Virou ponto de referência e deu nome ao povoado. Mas quando passou a cidade mudaram para um nome até interessante, Santa Rita do Novo Destino. A única complicação é que não dava para escrever o nome inteiro nas placas de carros, tinham que resumir.

Um amigo que mora em Brasília, o Juarez, nasceu lá, num distrito que antes se chamava Capão Verde e mudou o nome para Verdelândia. Ele tem boas lembranças e conta muitas histórias dali.

Uma delas é de que, quando era criança, seu pai, chamado Valter, era um dos poucos que tinha rádio. Na época, existia uma emissora de rádio no Rio de Janeiro que dava a hora certa de um em um minuto. No intervalo tinha comerciais curtos e curiosidades, tipo “a ilha do Bananal é a maior ilha fluvial do mundo, você sabia?”. A Rádio Relógio pegava quase no Brasil inteiro. E era muito comum as pessoas ligarem nela para saberem a hora certa.

Um homem chamado Manezinho da Cassemira passava sempre lá pra ouvir a Rádio Relógio, para saber a hora certa. Não sei pra quê, pois o tempo corria devagar ali.

Um dia o Manezinho passou lá e conversou bastante com o seu Valter. E ia saindo sem perguntar as horas. O seu Valter falou com ele:

─ Você não vai querer ouvir a hora certa no rádio, Manezinho?

O homem ficou meio sem jeito e falou:

─ Desculpe, seu Várti, mas num quero não. O Paulão comprou um rádio novo e acho que ele dá a hora mais certa do que o teu.

E foi à casa do Paulão, a uma légua de distância, para ouvir a Rádio Relógio no aparelho que julgava mais confiável.

Jornalista, escritor e contador de causos

Livros do Mouzar Benedito pelas editoras Boitempo, Limiar e Terra Redonda.

https://www.terraredondaeditora.com.br/product-page/o-voo-da-canoa

https://www.editoralimiar.com.br/product-page/dois-livros-com-desconto-especial

https://www.boitempoeditorial.com.br/busca/Mouzar+Benedito