Instalada a 1ª basílica católica de Tatuí

Cerimônia integra celebrações dos 200 anos da Matriz N. Senhora da Conceição

Igreja Matriz elevada à basílica tem 200 anos de fundação (foto: AI Prefeitura)
Da reportagem

Tatuí teve na tarde de quinta-feira, 21, feriado de Tiradentes, a cerimônia de instalação canônica da Basílica de Nossa Senhora da Conceição, o primeiro templo católico da cidade, elevado pelo Vaticano à categoria de basílica menor. A celebração faz parte das comemorações de 200 anos da Igreja Matriz, fundada em 1822.

A missa foi presidida pelo bispo diocesano dom Gorgônio Alves da Encarnação Neto e concelebrada por: dom Júlio Endi Akamine, arcebispo de Sorocaba; dom Arnaldo Cavalheiro Neto, bispo de Itapeva; dom Manoel Ferreira dos Santos Júnior, bispo de Registro; dom José Benedito Cardoso e dom Jorge Pierozan, bispos auxiliares de São Paulo; e pelo padre Élcio Roberto de Góes, reitor da basílica.

A celebração também contou com a presença de padres da diocese e de outras regiões, diáconos, religiosos, seminaristas, autoridades civis e militares e cerca de 1.500 fiéis, que lotaram a Igreja Matriz.

Logo no início da missa, o padre Luiz Paulo Braga, chanceler do bispado de Itapetininga, apresentou o decreto pontifício, no qual constam as motivações que fundamentaram a concessão do título de basílica menor à igreja, e a outorga do papa Francisco por meio da “Congregação para o Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos”, que dispõe sobre os privilégios e as obrigações inerentes à elevação.

Após a leitura do decreto, foram acolhidas as insígnias basilicais: Virga Rubra (uma espécie de bastão, revestido de tinta vermelha com decorações e ponteiro em prata, que é levada processionalmente); Tintinábulo (espécie de estandarte com um pequeno sino); e Umbela Basilical (um tipo de guarda-sol, com as cores do Vaticano e os brasões do papa, do bispo, da diocese, do reitor da época da eleição e a bandeira do município onde está instalada a basílica).

Durante a homília, o bispo de Itapetininga comentou que todos “são agraciados” com a concessão do título concedido pelo papa Francisco. “Este título expressa comunhão com o papa, a unidade da igreja e a nossa caminhada de fé”, disse o bispo.

Dom Gorgônio ainda ressaltou as comemorações dos 200 anos do templo e lembrou-se das pessoas que passaram pela igreja de Tatuí “deixando marca e testemunhando o bem no amor e na fé”.

Em procissão, bispos chegam à cerimônia de elevação da Igreja Matriz (foto: AI Prefeitura)

“Benditos sejam aqueles que vieram antes de nós, que construíram essa bela igreja, que fundaram nessa cidade a fé católica para que nós pudéssemos também viver, participar e ser o verdadeiro povo de Deus”, declarou o religioso.

O bispo concluiu pedindo aos fiéis compromisso e responsabilidade com a evangelização. “Ser basílica não é apenas uma honra ou privilégio, e sim um compromisso de caminhar com Cristo, unidos ao Santo Padre, o papa, sempre fazendo o bem”, acentuou.

No final da celebração, o reitor da basílica falou da alegria de receber o reconhecimento e classificou a elevação como “uma missão em servir mais e melhor, sendo fiel ao magistério do Santo Padre, sendo um lugar de oração, perdão, de misericórdia e acolhida para todos os filhos de Deus e devotos de Nossa Senhora da Conceição”.

A O Progresso de Tatuí, o bispo classificou o título como uma valorização de todo o trabalho realizado na paróquia. Para o sacerdote, a elevação também é “um avanço na missão evangelizadora da igreja”.

“É uma valorização para este templo com esta arquitetura bonita, mas não é só esta honra: é também um incentivo para a evangelização, e penso também que seja uma motivação para uma vivência de fé e de busca de Deus”, salientou.

O bispo também falou do processo iniciado em fevereiro de 2020 para que o Vaticano analisasse e aprovasse o pedido da elevação canônica do até então Santuário de Nossa Senhora da Conceição.

“Por ocasião dos 200 anos, entramos com o pedido para a elevação a basílica, apresentamos ao Vaticano todas as documentações exigidas para justificar o título, com a história da igreja, o projeto arquitetônico, a dimensão devocional e toda a estrutura dela. Isso foi analisado e aprovado pelo papa”, enfatizou.

O bispo explicou que a elevação é autorizada pelo papa às igrejas consideradas importantes no que diz respeito à veneração popular, relevância histórica e beleza na arquitetura. Segundo ele, o título é concedido pelo Vaticano “após análise minuciosa”.

Com a elevação, a Igreja Matriz de Tatuí se torna a 74ª basílica menor do Brasil, a 22ª do estado de São Paulo e a 2ª da diocese de Itapetininga, juntamente com a basílica de São Miguel Arcanjo, na cidade homônima, que conquistou a elevação em 2018.

“Lá, existe uma devoção muito grande a São Miguel Arcanjo. O templo recebe muitos fiéis, e ali se desenvolveu todo um turismo religioso que justificou a elevação”, acrescentou o sacerdote.

Conforme o bispo, este é um título antigo da Igreja Católica. O papa é a única pessoa que pode conceder o título de basílica a um templo. Depois que o Império Romano, historicamente, tornou-se cristão, o título foi concedido a igrejas importantes pelos mais diversos motivos, como veneração das devoções cristãs, historicidade, beleza artística e arquitetônica.

Segundo o direito canônico, a basílica tem certas particularidades, como altar reservado ao papa, ao cardeal ou ao bispo, conferindo-lhe, sobretudo, uma dimensão de status internacional, pois não se submete apenas à jurisdição eclesiástica local.

Da esquerda para a direita: Padre Élcio Roberto de Góes (reitor da basílica); dom Arnaldo Cavalheiro Neto (bispo de Itapeva); dom Manoel Ferreira dos Santos Júnior (bispo de Registro; dom Gorgônio Alves da Encarnação Neto (bispo de Itapeninga); dom Júlio Endi Akamine, arcebispo de Sorocaba; dom Jorge Pierozan (bispo auxiliar de São Paulo) e dom José Benedito Cardoso (bispo auxiliar de São Paulo) (foto: Adriana Ventura)

No mundo, existem apenas quatro basílicas intituladas maiores, situadas na cidade de Roma: São Pedro, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros. As demais basílicas são intituladas menores, somando mais de 1.800 em todo o mundo.

O reitor da basílica tatuiana elencou a cerimônia como “o ápice de um trabalho iniciado há dois anos”. “Nós passamos por um grande processo, com a juntada dos documentos, álbum de fotos e outros procedimentos, até recebermos a notícia da aprovação da elevação e podermos oficializar o título nesta cerimônia”, lembrou o padre.

Segundo Góes, desde 2013, quando ele assumiu a Paróquia e Santuário Nossa Senhora da Conceição, o desejo da diocese era comemorar os 200 anos de fundação do templo religioso com o título de básica menor.

“De fato, era um sonho, e isso se realizou. O processo de elevação poderia ter durado mais tempo, devido às análises do Vaticano, contudo, deu tudo certo, e iniciamos o ano do bicentenário já com título de basílica”, concluiu o reitor.

A elevação

Conforme Góes, o processo de elevação foi sugerido em reunião entre os padres das comunidades tatuianas e o bispo da diocese de Itapetininga, dom Gorgônio, e teve início em fevereiro de 2020.

Na ocasião, foram encaminhadas duas cartas, uma à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a outra ao prefeito da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, cardeal Robert Sarah.

O parecer favorável da presidência da CNBB chegou à diocese de Itapetininga em 11 de maio de 2020, em carta assinada pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em Minas Gerais, dom Walmor Oliveira de Azevedo.

Fiéis lotam a nova basílica em cerimônia de instalação canônica (foto: Pablo Ruiz)

A partir da autorização da CNBB, a diocese e a paróquia começaram a montar um processo completo, com fotos da igreja, histórico e arquitetura detalhada do templo religioso para enviar ao Vaticano.

Já o Vaticano autorizou o processo de análise e enviou o questionário ao bispo diocesano no dia 12 de junho, em carta assinada por dom Arthur Roche, arcebispo secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, quando a paróquia iniciou nova fase na busca pela elevação.

Uma comissão formada por lideranças paroquiais ficou responsável pelo preenchimento do material e, por meio dos dados apresentados, a Santa Sé definiu que o santuário atendia aos requisitos necessários para ser elevado.

A primeira reunião da comissão ocorreu no dia 24 de agosto, com participação do padre Márcio Almeida, reitor da Basílica de São Miguel Arcanjo, primeira igreja elevada à basílica na diocese de Itapetininga.

O reitor orientou os membros da comissão sobre os passos necessários para a composição do questionário e às etapas seguintes dentro do processo de solicitação de elevação da igreja a basílica.

A comissão foi dividida por membros responsáveis pelo levantamento das fotografias, planta baixa, relatório da vida pastoral, material litúrgico, imagens dos santos, brasões, histórico, vida litúrgica e financeira.

A documentação exigida para o processo de concessão foi reunida e, depois de pronta, entregue ao Vaticano pelo paroquiano Leonardo Costa de Camargo Barros, que esteve em Roma em agosto de 2021.

Barros participou de reunião com o secretário ecônomo da Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, dom Salvatore, no dia 23 de agosto, na qual entregou um questionário respondido pela paróquia e um processo completo do local, com fotos, histórico e arquitetura detalhada do templo religioso.

No Vaticano, o paroquiano ainda participou de audiência pública com o papa Francisco e entregou ao pontífice uma cópia resumida do relatório sobre o processo de elevação canônica, além de uma pasta personalizada do Santuário Nossa Senhora da Conceição.

Depois de quase dois anos de espera, o santuário recebeu a notícia da elevação a basílica menor, justamente na semana em que iniciou a programação dos 200 anos de fundação no município.

O evento teve abertura no dia 3 de janeiro, com a Missa da Solenidade de Epifania do Senhor, celebrada pelo bispo diocesano dom Gorgônio e pelo padre Élcio de Góes.

A elevação ao título de basílica menor traz mudanças na estrutura física e espiritual do templo religioso, “em virtude das muitas graças que uma basílica pode conceder aos fiéis”.

Dom Júlio Endi Akamine, arcebispo de Sorocaba é uma das autoridades religiosas presentes (foto: Pablo Ruiz)

“Espiritualmente, a basílica passa a ser uma Igreja de comunhão mais ampla, mais próxima ao Vaticano. Além disso, passa a ter elementos próprios de uma basílica – que nos remetem à figura do papa e são próprias dessas igrejas”, explicou o reitor.

“Ela também passa a oferecer graças especiais, como as indulgências plenárias em seis datas ao ano, tudo isso próprio de uma basílica. Além de se tornar referência de beleza, arquitetura e, principalmente, de uma vida litúrgica vivida a partir dos ensinamentos da igreja”, completou.

História

O templo religioso foi tombado por decreto municipal em junho de 2007. O prédio é um patrimônio histórico que preserva detalhes arquitetônicos do século 19 e possui afrescos pintados pelo artista plástico piracicabano Mário Tomazzi.

A pedra fundamental do prédio, que tem porte e estilo de catedral, foi instalada no dia 9 de agosto de 1884, sendo a primeira obra da cidade a utilizar tijolos cerâmicos.

Para a construção do edifício central – já com dois pavimentos – e das duas torres de 30 metros de altura cada, foram gastos 550 mil tijolos, 355 carradas (cargas de um carro) de pedra e 8.000 sacas de cal.

O templo foi eleito, em 8 de dezembro de 2006, patrimônio histórico e cultural da cidade e, em 2007, com o tombamento, passou a integrar o conjunto de prédios históricos do município.

Já em dezembro de 2009, na comemoração dos 180 anos, a pedido do padre Milton de Campos Rocha, a diocese de Itapetininga elevou a paróquia ao título de santuário.