Acidente escorpiônico ou escorpionismo

Dr. Jorge Sidnei Rodrigues da Costa - Cremesp 34708 *

É o envenenamento provocado por um escorpião quando este injeta o veneno por meio do ferrão. Os escorpiões pertencem à classe dos aracnídeos (assim como as aranhas), predominantes nas zonas tropicais (como no Brasil) e subtropicais do mundo, tendo maior incidência nos meses mais quentes e úmidos (entre outubro e março). No estado de São Paulo, há duas espécies principais, que causam acidentes com seres humanos:

Tityus serrulatus: conhecido como escorpião amarelo. Possui pernas e cauda amarela clara e o tronco escuro. Medem até sete cm de comprimento. É responsável pela maior parte dos acidentes.

Tityus bahiensis: conhecido como escorpião marrom ou preto. Possui o tronco escuro, pernas e cauda marrons avermelhadas com manchas escuras. Possuem cerca de sete cm de comprimento. São menos numerosos que o Tityus serrulatus em áreas urbanas.

Pessoas vulneráveis: são crianças abaixo de dez anos e idosos. Outros grupos: trabalhadores da construção civil, de madeireiras, transportadoras e distribuidoras de hortifrutigranjeiros, por manusear objetos e alimentos onde os escorpiões podem estar alojados, além de pessoas que permanecem grandes períodos dentro de casa (exe.: acamados, com problemas de mobilidade) ou nos arredores (como quintais), principalmente nas áreas onde sabidamente ocorre alta infestação do animal.

Primeiros socorros

O que fazer: limpar o local com água e sabão; aplicar compressa morna no local; procurar o serviço de saúde mais próximo (UPA ou PS) para que possa receber o tratamento o mais rápido possível; se for possível (com segurança e desde que não leve muito tempo), capturar o animal e levá-lo ao serviço de saúde. Mas a prioridade é o atendimento médico, o mais breve possível.

O que não fazer: não fazer torniquete ou garrote, não furar, não cortar, não queimar, não espremer o local da picada; não fazer sucção no local da ferida; não aplicar qualquer tipo de substância sobre o local da picada (fezes, álcool, querosene, fumo, ervas, urina, pó de café, terra), nem fazer curativos que fechem o local, pois isso pode favorecer a ocorrência de infecções; não ingerir bebida alcoólica, álcool, querosene, gasolina ou fumo no intuito de tirar a dor, pois, além de não agir contra o veneno, ainda poderá causar complicações no quadro clínico; não colocar gelo ou água fria no local da picada, pois acentua a dor.

Sintomas

A dor local intensa é um sintoma que aparece logo após a picada, em 100% dos casos. Além da dor, pode ocorrer aumento da temperatura, inchaço leve, vermelhidão, arrepio dos pelos e suor no local da picada. Se a picada for na mão ou no pé (principais locais acometidos), esses sinais podem atingir todo o braço ou perna.

Posteriormente a estes sintomas, poderão ocorrer, principalmente em crianças abaixo de dez anos, aumento do suor pelo corpo, vômitos, agitação (devido à ansiedade, medo e dor), tremores, produção excessiva de saliva (começa a babar), falta de ar e respiração aumentada.

Portanto, se esses sintomas ocorrerem, mesmo que não se tenha visto o escorpião, deve-se pensar em acidente escorpiônico e correr com a pessoa acidentada para o serviço de saúde mais próximo (de preferência um pronto atendimento, pronto-socorro, UPA ou hospital).

Prevenção

Manter jardins e quintais limpos; evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das casas (principalmente tijolos em blocos furados); evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas; manter a grama aparada; limpar periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos, numa faixa de um a dois metros junto às casas; sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picar ao serem comprimidos contra o corpo; não por as mãos em buracos, sob pedras e troncos podres; usar calçados e luvas de raspas de couro para atividades em que seja preciso colocar a mão e pisar em buracos, entulhos e pedras; o escorpião apresenta hábito noturno e, assim, para evitar sua entrada nas casas, devem-se vedar as soleiras das portas e janelas quando começar a escurecer; usar telas em ralos do chão, pias ou tanques; vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e vãos entre o forro e as paredes, consertar rodapés despregados, colocar saquinhos de areia nas portas, colocar telas nas janelas; afastar as camas e berços das paredes; evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem-se ao chão; não pendurar roupas nas paredes; acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes que possam ser mantidos fechados, para evitar baratas, moscas ou outros insetos que servem de alimento para os escorpiões; preservar os inimigos naturais de escorpiões e aranhas: aves de hábitos noturnos (coruja, por exemplo), lagartos, lagartixas e sapos.

O escorpião é um animal originalmente de mata, mas se adaptou ao meio urbano devido à ocupação humana, que vem invadindo hábitats naturais dos escorpiões e facilitando a disponibilidade de abrigo em terrenos baldios com acúmulo de entulho e lixo, e de alimento em abundância, como baratas.

Alterações climáticas, por sua vez, têm elevado a temperatura, favorecendo uma maior atividade e reprodução desses animais e, em particular, do Tityus serrulatus, por sua característica partenogenética.

A forma mais adequada de se evitar o aparecimento de escorpiões nas residências é evitar o acúmulo de detritos e entulhos no terreno (tijolos baianos acumulados durante algum tempo), principalmente aqueles que possam atrair baratas, e servir de abrigo para o escorpião.

Além disso, devem-se vedar frestas, vãos e ralos que permitam a entrada desses animais. Cuidados especiais para residências próximas à linha de trens, porque onde são mais encontrados os escorpiões. Não existe vacina para evitar o veneno do escorpião. Ter muito cuidado neste momento que estamos vivendo, de verão e chuvas. Fique alerta!

Fonte: artigo retirado do www.cve.saude.sp.gov.br (alerta); arquivos próprios do autor.

* Médico pediatra com título de especialista em pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Médica Brasileira e diretor clínico da Clínica de Vacinação Humana Sou Doutor Cevac e vacinador da mesma desde 1983.