A “opressão” é uma característica essencialmente própria aos governos totalitários. Basicamente, conforme os dicionários, consiste em “sujeitar alguém a alguma coisa”, “sujeição pelo uso da força ou violência”.
Por esta definição, obrigar à vacinação seria algo não só violento, mas sentenciosamente antidemocrático – atitude típica de ditaduras –, sendo questão delicada, neste ponto, porque o Brasil ainda segue em uma democracia.
Face a isto, todas as nações não governadas por déspotas negacionistas encontram-se em um impasse: obrigar a vacinação em toda a população, em ato a agredir a liberdade individual de cada um, ou não impor a imunização, permitindo a continuidade da pandemia não “sem hora”, mas sem “século para acabar!”.
Não há consenso para solução do problema sem conflitos de toda ordem e parte. Sem perspectiva de acordo, alguns pontos, pelo menos, valem ser destacados.
Primeiro, em caso de eventual imposição da vacina – o que, claro, não ocorreria no Brasil neste ano por razões óbvias e mesmo que viesse a morrer metade da população -, somente deveriam ser isentos da imunização os que comprovassem, por avaliação médica, não poderem ser vacinados.
Ou seja, as pessoas liberadas da imunização contra a Covid-19 precisariam, antes, provar que os custos para elas seriam maiores que os benefícios garantidos a todos os demais do planeta.
Isto parece ser bastante difícil. Contudo, ainda que pelo bem da humanidade, ninguém pode ter a vida posta em risco se sabe, com certeza, que a imunização contra o novo coronavírus lhe seria fatal.
Outros pontos já não apresentam tanta dúvida, apenas discordâncias do ponto de vista ideológico/político, sendo que, quando manifestados com fanatismo, simplesmente não merecem atenção e muito menos respeito.
Tatuí, então, pode servir muito bem à observação quanto a muitas das certezas sobre a pandemia. Uma delas é a explosão de casos confirmados.
Até então, a semana com mais registros tinha sido a de 29 de maio a 4 de junho de 2021, com 979 exames positivos e 12 óbitos (indicando a letalidade proporcional na ordem de 1,22%).
Por sua vez, a se priorizar o número de óbitos, a semana mais cruel aconteceu entre os dias 3 e 9 de abril de 2021, quando foram confirmados 547 casos e 34 tatuianos perderam a vida para a Covid-19, equivalendo a 6,21% pelo mesmo comparativo.
Aí, chegamos nesta semana, entre os dias 8 e 14 de janeiro de 2022, em que houve a extraordinária confirmação de 2.522 casos e, de forma ainda mais incrível, nenhum falecimento – resultando na letalidade de “0%”!
Esta maneira de aferição sobre os óbitos – importante reconhecer – não é a usual (a “científica”), mas, para efeito de comparação com a realidade atual, ajuda muito a evidenciar o efeito brutal da vacinação contra o vírus.
Por essa simples observação, fica praticamente impossível não reconhecer, neste exato momento, a imunização como a principal causa da preservação de centenas de vidas em Tatuí, milhares no Brasil e milhões no planeta!
Esta percepção é cada vez mais abrangente, alastrando-se mundo afora com a mesma rapidez com que a ômicron tem contaminado. Novamente, Tatuí integra este movimento, conforme comprovado pela enquete semanal do jornal O Progresso de Tatuí desta semana.
A pesquisa teve como tema justamente o número de contaminações frente ao de óbitos, que não aumentou (nem de longe) na mesma proporção. Como resposta, três a cada quatro tatuianos, lúcida e obviamente, indicaram as vacinas como as maiores responsáveis pela contenção das mortes.
Então, chegamos ao ponto primordial desta série de fatos e argumentos: o grande “mal” – com risco literal de morte – causado pelos antivacinas ao planeta como um todo neste momento tão crucial.
A depender de sua quantidade, eles podem tornar esta pandemia novamente muito mais mortífera – conforme o surgimento de novas cepas -, além de estendê-la por tempo indeterminado.
Tendo Tatuí mais uma vez como exemplo, pode-se notar o tamanho do problema. A prefeitura informou nesta semana – e O Progresso repercutiu a informação – que, até o início deste mês, mais de 24 mil pessoas não haviam comparecido para a dose de reforço.
Os dados da Vigilância Epidemiológica incluem ainda o número dos que deixaram de receber a segunda dose. De acordo com a VE, 7.756 pessoas não tinham até então retornado ao posto de vacinação para a segunda aplicação. Sobre a dose de reforço, a quantidade era ainda maior, somando 24.514 faltantes.
Como combater este “mal”, por derradeiro? Parte do contingente em atraso, com certeza, será impelido a completar a imunização, seja por contaminações em suas casas e no trabalho, seja porque notará o estrago que as ausências nos serviços estão causando, a partir do afastamento obrigatório dos infectados – ainda que com sintomas leves.
Outros tantos podem ser convencidos por meio de campanhas de conscientização, as quais ganham cada vez mais credibilidade na medida em que os negacionistas a perdem, desacreditados pela explícita e contundente eficácia dos imunizantes.
Restam, por fim, exatamente os sectários fanáticos, que ora colocam em risco a vida de todos, até a de crianças, de maneira só não mais inacreditável que hedionda.
Obrigar-lhes à vacinação seria muito bem-vindo para a saúde pública, contudo, não para as liberdades individuais garantidas somente pela democracia – curiosamente, a mesma à qual esse pessoal busca exterminar. Seria a tal “opressão”.
Que fazer com eles, então? Pergunta de resposta também complicada… Talvez, impor-lhes cada vez mais restrições, de tal forma a, finalmente, limitá-los ao espaço que, aparentemente, nem tanto os incomoda: o chamado “cercadinho”? Mas, não! Ninguém merece tal castigo!
Por tudo a se considerar, conclui-se que, sim, a democracia não é perfeita, a tal ponto que chega a obrigar sacrifícios de uma maioria a favor da liberdade de uma minoria. Contudo, ainda assim, segue como o regime menos ruim entre todos os demais.
Significaria um mínimo de bom senso, gratidão e “humanidade”, por conseguinte, que essa parcela de não vacinados se dispusesse a pensar na vida dos outros – nesses que lhes defendem a autonomia e a liberdade – e se imunizassem o quanto antes. Isso, sim, seria coisa “do bem!”.
Triste exemplo da degeneração de valores, finalmente, ainda é evidente pela seguinte verdade: no passado, quando sob ditadura, muitos colocaram suas vidas em risco para se ganhar a liberdade, enquanto, no presente, muitos colocam a vida dos outros em risco só para demonstrar apoio a um golpe na ciência, na educação, no meio ambiente, na saúde e, sobretudo, na própria democracia. A que ponto chegamos…