Da reportagem
Um vice-campeonato da “série ouro” e o título da “série prata”. Este é o saldo de André Corrêa nas duas primeiras participações dele em torneios promovidos pela LSFM (Liga Sorocabana de Futebol de Mesa).
As competições organizadas pela LSFM costumam reunir dezenas de “botonistas” de São Paulo e do interior do estado. Eles se enfrentam na fase de grupos, em jogos com dois tempos de dez minutos. Os dois melhores do grupo seguem para a fase eliminatória da série ouro, enquanto os demais seguem para a série prata.
Na primeira competição de Corrêa, realizada em dezembro do ano passado, a qual teve a Copa do Mundo como tema, o tatuiano participou com a seleção da Croácia. Após ficar entre os dois melhores da fase de grupos e conseguir uma vaga na série ouro, ele só foi derrotado na decisão.
Em janeiro, pelo torneio denominado “Copa Interior de Futebol de Mesa”, os participantes competiram com equipes de cidades do interior. Defendendo o Botafogo de Ribeirão Preto, Corrêa não obteve classificação à série ouro, entretanto, conquistou o título da série prata.
A terceira competição do tatuiano acontece neste sábado, 21. Corrêa participa do quinto campeonato promovido pela LSFM com a temática da Copa Libertadores da América, com os botões que representam o River Plate, da Argentina.
A LSFM destaca que as disputas seguem todos os protocolos sanitários e de saúde para a prevenção e combate à Covid-19, como distanciamento (as mesas utilizadas para os jogos são “bem” afastadas umas das outras), além da obrigatoriedade do uso de máscaras e do álcool em gel.
Atualmente com 40 anos e gerente de contas de uma empresa de telefonia móvel, Corrêa conta que jogava bastante futebol de botão durante a infância.
“Era o videogame da minha época de criança. Futebol de botão era mais legal do que o Atari (um dos primeiros videogames lançado na década de 1970)”, garante.
Ele relembra idas ao shopping, acompanhado do pai, para comprar os jogos de botão, das marcas Brianezi e Crakes, chamados de “oficiais”.
Corrêa morava em um prédio e costumava fazer campeonatos contra outras crianças que residiam no local. “Na época, havia um mousse de chocolate que vinha em uma ‘tacinha’ preta, e nós a decorávamos, falando que era taça de copa”, recorda.
O tatuiano reconhece que gostaria, mas nunca participou de competições de futebol de botão. Durante a pandemia e com a necessidade de ter de ficar isolado na residência, Corrêa encontrou um antigo time de botão nos pertences dele.
A partir desse momento, começou a pesquisar sobre a modalidade e soube da LSFM, decidindo inscrever-se nos torneios. “Sempre gostei de futebol de botão, desde criança, mas, sendo bem sincero, faz cerca de quatro meses que voltei a praticar o esporte”, relata.
Corrêa garante que adora futebol, tanto que conquistou os vice-campeonatos da categoria veterana da Copa Rádio Notícias de Futebol Máster de 2015, defendendo o Santa Cruz, e do Tem Games (campeonato de videogame), em 2014.
“Gosto de jogar de qualquer jeito, até aquele com vários pregos que se joga com moedas (pregobol)”, ressalta.
Ele reconhece que jogava muito futebol virtual, mas optou por substituir o videogame pelo futebol de botão. Corrêa justifica dizendo que, “devido à falta de tempo, atualizações e por ser cheio de “bugs” (problemas) e macetes durante o jogo, se “estressava mais do que curtia o jogo”.
O tatuiano conta que a esposa prefere os botões aos controles. Conforme Corrêa, a companheira garante que ele fica mais calmo jogando futebol de botão. “É um esporte que exige mais frieza do que no videogame, o qual, quando errava, xingava sozinho no quarto”, conta.
Paralelamente, Corrêa encontrou no futebol de botão uma nova terapia, ao fabricar as mesas, as traves e os jogadores. Também comenta que esse trabalho o ajuda a economizar dinheiro.
“É caro. Uma mesa oficial custa R$ 1.000; cada time, em torno de R$ 100; e o par de traves, cerca de R$ 160. Meus custos reduziram para a metade”, analisa Corrêa.
“Os modelos de botões de campeonatos são muito mais baratos (vidrilhas, que parecem tampas). Os botões de acrílico (argola), que são bem mais caros, e cada time custa de R$ 300 a R$ 750, tanto que só tenho um do Corinthians”, completa.
Para a montagem dos times, o botonista explica que adquire pacotes com diversas equipes e baixa as artes pela internet. Na sequência, imprime, cola, pinta e lixa os botões.
“Faço tudo o que é preciso para o botão ficar perfeito para jogo. Foi um aprendizado ficar comprando e testando as lentes para ver qual era a melhor para o meu estilo de jogo”, explica.
O tatuiano confeccionou a mesa com medidas oficiais, porém, quando começou a jogar campeonatos, passou a sentir dificuldades com o deslize do botão. Coincidentemente, a LSFM optou por renovar as mesas, e Corrêa conseguiu adquirir uma nova, com custo menor.
Com duas mesas na casa, ele demonstra que, assim como outros esportes, é preciso dedicação nos treinamentos. Segundo o botonista, ele possui um cronograma com treinamentos diários, de uma a duas horas, após as 18h.
Corrêa reforça que o “reencontro” com o futebol de botão durante a pandemia resgatou-lhe a nostalgia de jogos antigos com pouca influência de máquinas.
“O futebol de botão mistura um pouco de jogos mais antigos. Eu falo que é preciso ter a estratégia do xadrez para montar a sua armação, além da precisão da sinuca para bater com o botão na bolinha e fazer a jogada”, avalia.
O tatuiano ainda acrescenta que a modalidade possui “a emoção do futebol tradicional”, pois, semelhantemente, as classificações e títulos podem ser definidos no último lance ou em uma disputa de pênaltis.
“É muito igual ao futebol, e tudo isso que faz ele ser diferenciado. O futebol de botão não é uma brincadeira de criança, mas uma brincadeira de adulto”, finaliza Corrêa.