Da reportagem
Os policiais militares da 2ª Companhia da Polícia Militar de Tatuí passaram por novo treinamento, nos dias 14 e 15, para melhorar o atendimento à população e evitar casos de violência praticada por PMs contra a população.
O treinamento foi realizado no salão do hotel Ibis e dividido em duas turmas, sendo uma a cada dia de curso, para haver revezamento entre a tropa em exercício e possibilidade de se atingir a todos os integrantes da corporação.
De acordo o comandante da companhia tatuiana, capitão Júlio César da Costa, não foram ensinados novos protocolos. A intenção do programa, batizado de “Retreinar”, é reforçar o que já é ensinado à Polícia Militar.
Costa assegurou que não houve ocorrências de violência policial registradas na cidade e apontou que o retreinamento é uma determinação do governo de São Paulo, após casos envolvendo violência policial em outros municípios.
O treinamento foi passado aos militares tatuianos pelo capitão, com ajuda de vídeos institucionais do governo do estado. Antes, porém, o comandante passou por retreinamento em Itapetininga.
Conforme Costa, nos dois dias, foram tratados cinco temas: “direitos humanos”, “abordagem policial”, “controle de tumultos”, “mídias sociais e divulgação das ocorrências” e “Polícia Judiciária Militar”.
“O objetivo é instruir a tropa e evitar dissabores futuros e também para dar um atendimento melhor nas ocorrências. Com isso, toda a população é beneficiada. O policial vai ter uma qualidade melhor e o atendimento dele também será melhor”, apontou o capitão.
Costa reiterou que o treinamento do efetivo é uma das principais metas da companhia e que quer continuar com programas nesse sentido, realizando pelo menos um curso por mês para os militares da corporação.
“Aqui na cidade, temos bons policiais, e todos eles já receberam treinamento na própria formação, mas estes programas podem ajudar a fortalecer os ensinamentos da PM e melhorar ainda mais o atendimento à população”, destacou o capitão.
O governador João Doria anunciou a criação do programa Retreinar no dia 22 de junho, e, desde então, coronéis, tenentes-coronéis, majores, capitães e tenentes já receberam orientação em todo o estado.
“Maus policiais que insistem em usar violência desnecessária junto à população vão compreender que isto não é aceitável na PM de São Paulo”, declarou o governador no lançamento do programa.
Em coletiva, o governador reforçou o rigor nas investigações sobre casos de má conduta policial ou uso excessivo da força durante ocorrências e disse que ao menos 220 policiais envolvidos em falhas graves ou crimes já foram demitidos ou expulsos das forças de segurança de São Paulo desde o início de 2019.
“Esse tipo de comportamento é investigado de forma rápida, objetiva e justa. Policiais são punidos e afastados em definitivo da corporação. Já declarei e volto a reafirmar: não haverá condescendência com a violência policial, sob nenhuma justificativa”, reiterou o governador.
As promessas de apurações rígidas e o lançamento do programa Retreinar ocorreram após uma série de casos de violência policial ter sido registrada no estado. O primeiro ocorreu em Barueri, dia 12 junho, quando um homem rendido foi agredido por policiais militares.
Vídeo feito por uma testemunha mostra que o homem estava sentado na calçada com o celular na mão quando a viatura estaciona. Policiais saem do carro e um deles imobiliza a vítima com um “mata-leão”.
Vizinhos que tentaram proteger a vítima também foram atacados pelos PMs, que foram afastados. No dia 13 de junho, policiais foram filmados agredindo um jovem que já estava rendido, no Jaçanã (zona norte de São Paulo).
Além da vítima, pelo menos outras duas pessoas acusaram os mesmos policiais de as terem torturado, com agressões físicas e queimaduras.
Durante manifestações na avenida Paulista, um policial militar, sem identificação na farda, empurrou um repórter pelas costas para atrapalhar uma gravação. Em nota, a PM prometeu tomar as medidas cabíveis.
Veio a público, ainda, uma ação da PM em 6 de junho, que mostrou, em vídeo, policiais militares atropelando e chutando a cabeça de um motoqueiro rendido depois de perseguição.
O jovem negro Guilherme Silva Guedes, 15, foi sequestrado, torturado e morto na zona sul de São Paulo. Segundo a Polícia Civil, o principal suspeito de ter cometido o crime é um sargento da PM, que já está preso.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os policiais militares envolvidos nos casos foram afastados do serviço operacional até a conclusão das investigações, realizadas pela corregedoria da PM.
“Estamos retreinando toda nossa tropa para evitar que 1% de nossos policiais, que insiste em usar a violência desnecessária, comprometa 99%, que é uma polícia séria”, afirmou Doria.
Comentando sobre os casos que ocorreram em outros municípios, Costa classificou as punições como necessárias. “Nós trabalhamos para manter a ordem e garantir a segurança da população, qualquer atitude que saia deste objetivo deve ser punida”, concluiu o capitão.