Edson Beltrami retorna ao Conservatório de Tatuí

(foto: AI Conservatório / Paulo Rogério Ribeiro)

“Excêntrico como todo maestro”. Assim se definiu Edson Beltrami, que assumiu nesta semana o comando da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí.

Afastado há cerca de uma década do grupo, Beltrami volta com a proposta de reforçar o nome do Conservatório como destaque no cenário internacional da música clássica e aproximar a escola da própria cidade.

“Nosso objetivo é retomar o contato com a comunidade tatuiana, que se perdeu ao longo destes anos. As pessoas se afastaram do Conservatório, porque este deixou de se interessar pelas pessoas da cidade”, argumentou.

Agora, de acordo com o maestro, a nova administração demonstrou que tem como parte do projeto de gestão levar o Conservatório a retomar seu papel junto à comunidade e buscar destaque nos cenários nacional e internacional.

O regente recordou que, em sua passagem anterior pela escola, a entidade era conhecida no mundo todo. “Vinham pessoas de todo lugar do mundo, que chegavam aqui, a princípio, com a ideia de que o Brasil era sinônimo de selva amazônica e que vivíamos em árvores. Mas, voltavam com uma imagem positiva do país, mesmo com a nossa realidade”.

O maestro também acredita que a Orquestra Sinfônica precisa se tornar uma espécie de vitrine da entidade, mostrando o que ela tem de melhor, tanto na questão pedagógica como técnica dos alunos.

Beltrami se reuniu pela primeira vez nesta nova fase, na quarta-feira, 4, com os músicos da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, formada por 21 professores e alunos, chegando a 50 integrantes.

O regente afirmou que conhece grande parte dos instrumentistas e estima que 99% deles tocaram com ele na Orquestra Jovem, há 15 anos. E prometeu muito trabalho e estudo.

“Temos que colocar a Sinfônica num nível que, realmente, represente esta escola, no nível que merece e que seja compatível com o que a nova administração espera para o Conservatório”, acentuou.

No entanto, o regente argumentou que, “para retomarmos o nível altíssimo que tínhamos, precisaremos adaptá-la aos tempos modernos. Esse negócio de voltar ao que era não funciona. Tudo passa. O mundo muda, e precisamos nos encaixar à realidade atual”.

Exemplo disso, segundo ele, são as ações para incentivar e despertar o interesse do jovem pela música clássica. “Existem grupos, orquestras e escolas que estão usando soluções muito interessantes”, observou.

“Uma delas é mesclar, fazer um concerto misto para desenvolver a curiosidade para o erudito e fazer com que se desperte nele (no jovem) o interesse para, mesmo não entendendo, sair à busca de respostas”. Para Beltrami essas atitudes ajudam a desmistificar e levar a música clássica a mais gente.

O maestro acredita que, para essa desmistificação, são necessárias “ações radicais”. “A gente fala muito de levar a música até o público, mas acho que temos que ir além disso”, apontou.

“Um dos grandes problemas é que o público tem medo dos teatros. Então, também temos que trazer o público para cá. Mostrar que aqui não é lugar de pessoas chiques e ricas, que só podem vir de terno e gravata”, acrescentou.

“Quem vem ao teatro, ao Conservatório, são pessoas normais. São duas vias de atuações: temos que levar até eles e também trazê-los até nós”.

Beltrami defendeu que a educação musical deveria começar muito cedo. Para ele, a partir do momento em que é criado o feto, deve-se apresentar a música ao bebê.

“Existem coisas lindíssimas na Europa. Há lugares, espécie de clínicas, em que a gestante fica por uma ou duas horas relaxada, ouvindo música para ela e para a criança. Começa aí a educação musical”, exemplificou.

O músico falou, também, sobre a importância de Tatuí e da região no cenário musical, o que remonta há muito tempo. “Temos registros históricos de bandas da metade do século 19. Muitas delas até bem pouco tempo ainda estavam em atividade”, lembrou.

“Nesse passado mais longo começa essa tradição, mas, na história recente, de 50, 60 anos, o Conservatório é um grande responsável por isso”, asseverou, acrescentando: “Talvez, haja uma justificativa mística para essa ligação da cidade com a música”.

Parceria com João Carlos Martins

Edson Beltrami, que assumiu nesta semana o comanda da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, tem outras metas de trabalho. Em parceria com o também maestro João Carlos Martins, ele realiza um projeto, segundo ele, “corajoso”: formar mil orquestras pelo país. “É um projeto ambicioso, mas que traz resultados”, garantiu.

O regente explicou que a proposta, idealizada por Martins, consiste na formação de orquestras em cidades com menos de 50 mil habitantes. O objetivo é atingir o número de mil.

“Vamos até a cidade e fazemos a ponte entre as pessoas responsáveis pela arte, que é feita de forma simples e precária, e os reunimos com o setor governamental. As prefeituras se responsabilizam pelo projeto e nós damos o suporte”, detalhou.

Ele contou que o próprio Martins faz o primeiro contato e que, mesmo depois de firmada a parceria, a atenção é constante. “É um projeto longo, que depende de apoio. Não fazemos nada sem dinheiro. Tudo tem um custo. Mas, já estamos com 65 orquestras e chegaremos as mil”, concluiu, orgulhoso.