Quem não acredita em milagres deveria conhecer o que hoje ocorre na Escola Estadual “Cesar Martinez”, situada na capital. O projeto “Adoção Afetiva” de escolas públicas estaduais sensibilizou a tabeliã Priscila de Castro Teixeira Pinto Lopes Agapito, titular do 29º Tabelionato da capital. Profissional vitoriosa, dinâmica, entusiasta, é humanista provida de senso ético tão escasso em nossos dias.
Conclamou seus funcionários, suas equipes de convívio e, mesmo recebendo mais recusas do que aceites, aceitou o desafio. Obteve a concordância da diretora Roseli A. Lira Leite e se propôs a fazer a diferença dentro da unidade escolar que tem 380 alunos, entre 5 e 11 anos. Hoje, são 115 voluntários de diversa formação profissional, que abraçaram iniciativas que deram outra fisionomia ao ambiente físico e ao convívio social do colégio.
Houve a revitalização de ambientes, como o laboratório de ciências, laboratório de informática, matemateca, Sala do “faz de conta” e “cantinhos de leitura”.
As oficinas educativas envolvem o educando, seus pais e funcionários. Cuida-se de higiene bucal, saúde, orientação jurídica, educação financeira, coaching e orientação de carreira, promovem-se palestras com voluntários kids, oferece-se aula de culinária, costura e artesanato.
O apoio pedagógico funciona com adotantes de sala, educação ambiental, treinamento para professores, papo sobre bullying, reforço escolar em português, matemática e inglês. Sem prejuízo do desenvolvimento de atividades culturais, esportivas e recreativas, como recreios dirigidos, conto de história, música e teatro, meditação, yoga e bem estar, karatê, dança e futebol e projeto “Parabéns a Você”, com festa de aniversário para os aniversariantes do mês.
O projeto deu certo porque há planejamento e determinação na liderança. As frentes de gestão envolvem a arrecadação de recursos e de doações, um secretariado voluntário, comunicação interna e externa, controle financeiro, logística, matriz de responsabilidades, planejamento e organização de eventos e gerenciamento de rotinas. Tudo é minudenciado e discutido em equipes. O amor à causa é inspirador e não há quem não se emocione ao assistir ao resultado: crianças felizes, respeitadas em sua dignidade, abraçadas e acarinhadas por quem possui uma alma generosa, altruísta e patriota.
O exemplo de Priscila Agapito e de sua equipe, a partir do marido Daniel e do filho Danielzinho, ambos integrantes ativos do quadro fixo de colaboradores, é algo que reforça a esperança de que o Brasil tem jeito. Jeito que depende de assunção de responsabilidades, de consciência de que educação não é dever exclusivo do governo, mas é obrigação solidária da família e da sociedade. Brasileiros de fato preocupados com a situação nacional podem atuar efetivamente para mudar este estado de coisas, a partir da adoção afetiva de escolas públicas.
Esses os milagres contemporâneos, fruto de uma postura não egoística, aparentemente na contramão do que costuma ocorrer.
* Secretário da Educação do Estado de São Paulo e docente da Uninove