Ninguém mais olha os outros ou as coisas. Olha-se olhando as coisas. Visitando Foz do Iguaçu, surpreendi-me com a quantidade de visitantes de costas para as cataratas, buscando o melhor ângulo para aquele selfie consagrador. Senti um nó na garganta.
Algo, definitivamente, está sendo perdido para sempre no século 21. Desde que Guy Debord publicou o seu “Sociedade do Espetáculo”, nos anos 60, criticando a midiatização da sociedade, que a sensação de que estamos sempre posando para uma foto ou para um vídeo não parou. E olha que o intelectual francês nem imaginava o que estava por vir quando afirmou que o espetáculo é “a relação entre pessoas mediada por imagens”.
E uma relação que dura o tempo das imagens. Use e descarte. Curta e esqueça. Quem se lembra daquele cantor coreano que foi o primeiro a ser visto por mais de um bilhão de pessoas no YouTube? Quem lembra? Eu tô tentando…
O curador da Bienal do Livro de São Paulo afirmou que as atrações da feira não são os escritores (como?), mas youtubers, celebridades midiáticas que escrevem livros sob encomenda das editoras, reproduzindo as bobajadas que falam todos os dias para milhões de fãs. E esse é o sucesso do momento. Fora o livro que o Obama comentou que gostou – e que todo mundo precisa ler, é claro! – ou a Oprah ou, na falta de uma TV paga, a Fátima Bernardes mesmo.
Certa vez, um jornal de grande circulação do Paraná publicou uma reportagem de capa, falando sobre a importância de ler e de não ler qualquer coisa. Importância para o desenvolvimento cognitivo. Importância para o amadurecimento intelectual, condição para o exercício efetivo de uma vida digna e produtiva, transformadora e essencial para a comunidade, o mundo, o universo. Parece que não comoverá a legião de fãs que já se prepara para fazer fila na porta das livrarias para o lançamento do novo livro da autora do Harry Potter.
A cultura das celebridades já deixou vítimas, como a Lady Di, por exemplo. Mas as maiores vítimas são as silenciosas que, na frente dos computadores, expõem-se até o âmago em busca de um “like” a mais.
Ou como a moça que foi vaiada em Nova York porque acreditou que poderia repetir as nulidades que fazem sucesso entre 2,5 milhões de seguidores na internet para o público que tinha ido assistir ao show do Skank. Pensou ser uma artista, a moça.
Lógico que vaia é feio. Mas o mundo real ainda tem umas regrinhas que o espetáculo virtual e cibernético precisa aprender, como, por exemplo, ser feito de gente real, de carne e osso.
O excesso de informação tá longe de significar mais conhecimento, ou melhor, sabedoria. Já diz o ditado que informação é saber que tomate é fruta, mas sabedoria é nunca misturar tomate na salada de frutas!
Uma coisa o Google informa em nanossegundos. A outra, a vida ensina com os tropeções que damos nas coisas reais do que ela é feita. O tédio é, segundo o filósofo norueguês Lars Svendsen, o mal do século 21. E ele alerta: “Se o tédio aumenta, isso significa que há uma falha grave na sociedade ou na cultura como transmissores de significado”.
As redes sociais são o novo deserto dos tártaros: você fica o tempo todo esperando que alguma coisa espetacular aconteça depois que você postou aquelas fotos incríveis ou aquele vídeo incrível ou aquele post incrível e assim a vida passa.
Como diria Lord Byron: “Não sobrou muito senão ser entediado ou entediar”. Mas se esse artigo agradar, acho que vou tirar um selfie e publicar na minha página. Não percam. Bjs.
* Especialista em filosofia contemporânea, mestre e doutor em educação histórica e professor no Curso Positivo.