Forasteiro

 

Raymundo Farias de Oliveira

Sou um triste forasteiro vagando

sozinho em minha própria cidade.

E minha cidade se transforma em duas

cidades ao mesmo tempo. Estranha metamorfose!

É a cidade pequena com sua vidinha

paroquial colorida com seus fuxicos

seus negócios e seus amores

suas alegrias e tristezas e todos se conhecem.

É a cidade grande com sua vida agitada

as multidões nas ruas

a ambulância suplicando passagem

com sua sirene desesperada

buzinas raivosas contra o farol vermelho

palavrões e ninguém se conhece.

Saio do anonimato da cidade grande

sigo caminhando pela rua vazia

da cidade pequena. Ouço o ruído monótono

de meus sapatos na calçada por onde

tantos passaram na calma do tempo…

Contemplo a casa de varanda na esquina

e a veneziana à espera de serenatas!

Vencido pelo espanto paro e pergunto ao silêncio:

cadê o café e a sorveteria e o pipoqueiro

o cinema e o desfile das moças bonitas?

cadê o bar alegre onde a boemia acolhia

os sócios da mesma dor de cotovelo

ao som nostálgico do violão amigo?

O silêncio não me responde.

Uma voz misteriosa murmura afagando

meu ouvido: tudo passa.