As redes sociais têm aproximado virtualmente as pessoas. É um outro mundo, paralelo ao mundo físico, real. De vez em quando surgem ideias ou movimentos que estimulam as pessoas a opinar sobre os assuntos em voga a cada momento. O Facebook é um desses locais virtuais que é frequentado por milhões de pessoas em todo o mundo e, claro, também em Tatuí.
Pois estes dias, um internauta membro do grupo “Olá Somos Tatuianos!”, lembrou-se de uma coluna de humor de Celso Marvadão, no jornal “O Cruzeiro do Sul”, de Sorocaba, e teve a ideia de lançar aos tatuianos um jogo igual, cada um escrevendo “Sou velho de Tatuí se…” e colocando alguma coisa antiga.
Pois isso foi um sucesso!
Centenas de tatuianos se manifestaram com suas lembranças, que logo se mostraram comuns a muitos outros. Locais como as praças da cidade, prédios históricos, avenida das mangueiras, pessoas que marcaram a vida tatuiana, situações diversas, tristes ou hilariantes…
Tantas lembranças que remetem a outras épocas da cidade. Tatuí não tem mais suas caraterísticas específicas da cidade de outrora. A vida urbana é semelhante à maioria das cidades paulistas. As pessoas, o comércio e a vida social mudaram.
As mudanças acontecem lentamente, mas são significativas. Muitas delas nem notamos acontecer, e vamos nos acostumando com cada realidade, e tudo parece normal. Para se ter uma ideia da intensidade das mudanças, na semana passada minha prima de São Paulo, Claudia Ravais, que passou todas as férias de sua infância em Tatuí nos anos 50 e 60, visitou a cidade depois de quase 30 anos de ausência.
Quando esteve na Praça da Matriz, entristeceu-se ao ver as modificações físicas. Quando notou que o atual comércio da cidade conta com lojas e magazines que se espalham por todo o país, seus olhos lacrimejaram. Para ela, a cidade do seu passado havia morrido. Aquilo que se lembrava não existe mais. Não gostou do que viu!
Pois bem, o que aconteceu no Facebook tem muito a ver com isso tudo. Lembramos, todos que participamos, daquilo que marcou o passado comum a cada geração, foi muito bom.
Diversos personagens e situações que marcaram a vida da cidade foram lembrados, coisas inimagináveis para as atuais gerações: fugir das boiadas que atravessavam a cidade rumo ao matadouro, assistir a um filme na sessão “Zig Zag” do Cine São José, ou comer pão com mortadela do Biguá regada a Taubaína do Aniceto Machado lembram situações típicas de uma cidade que não mais existe.
A piscina do Carnielli, o show de Roberto Carlos ao vivo no Cine S. Martinho, a programação da ZYL-5 Rádio Difusora de Tatuí, as baladas no Tro-lo-ló, a apresentação dos Reis do Ringue com Ted Boy Marino e Fantomas, a dificuldade em passar no exame de admissão do “Barão de Suruí”, a barraca do coelhinho do Paulo Dragão na Praça da Matriz, os tipos populares como Conde Matarazzo, Zé Duarte, Joaquim Meia Garrafa, Cida Jacaré, Vadô Vai Fogo, Anacleto da vara…
Os tempos em que a falta de energia elétrica deixava todo mundo no escuro quase que todas as noites, o sinistro Packard da Funerária Moreno, a jardineira dos irmãos Arlindo e Nardão, a campanha “Ouro para o bem do Brasil” levando doações dos tatuianos sabe-se lá para quem, as cestas de Natal Amaral – desejo de consumo de final de ano, o XI de Agosto vencendo campeonatos, o copo com álcool do Dr. Jarbas assustando a criançada, o laço infalível do Romão Garcia, a bisteca do Caipirinha no Clube Princesa Isabel…
Das imediações da Praça da Matriz, além do footing, lembraram das balas de coco vendidas na porta do Cine S. Martinho, Casa Armênia, Bar do Sartorato, Bar XV, Bar e Restaurante 80, Pizzaria do Nazário, Casa de Frios do Alemão, Bar do Batista, Bar do Pio, Bar Itamarati… Os sorvetes da Leda Avalone, o banco da frente do Hotel Del Fiol, o posto de gasolina do seu Chiquinho Del Fiol, os bailes do Tatuiense e os bailinhos do Recreativo, o armazém do Ito Sá, Foto Menezes, a bicicletaria do Garcia Bittencourt… Não cabe aqui tudo que foi lembrado.
Mas aproveito para recordar algo que também foi lembrado no grupo do Facebook: o fogo no bambuzal do meu avô Tonico Luciano. Isso fez parte de uma outra realidade. O bambuzal cercava quase que o quarteirão inteiro onde funcionava sua serraria, e, como aconteceu de incendiar uma primeira vez, logo as pessoas, por malvadeza ou no meio das muitas brigas políticas da cidade, ateavam fogo à noite só para assistir aos estouros das taquaras.
Como os incêndios se tornaram frequentes, alguns funcionários da serraria, junto com meu pai e tio, passaram a fazer guarda armados de revólver, pistola, espingarda de caça e rifle. Todas as noites, até que as coisas se acalmaram. A única pessoa que flagraram nessas rondas foi um homem que se aproveitava de uma moita para descarregar o intestino. Com o susto, provavelmente ficou uns tempos com o intestino preso.
Uma tarde de um certo dia 7 de setembro, quando eu fui assistir um espetáculo em um circo armado onde hoje é o Conservatório, começou um novo incêndio. Corri lá e vi o Zé Pacuera saindo desajeitadamente do bambuzal com seu cachimbo. Ele dormia no meio do bambu e deixou cair seu cachimbo aceso no meio das folhas secas.
Fiquei tirando água do poço, enchendo os baldes para apagar o fogaréu, mas, apesar da trabalheira e do cheiro de queimado, até que o espetáculo era bonito!!! Os bambus, com seus caules divididos em compartimentos, explodiam como pipoca!
Mas há muito mais histórias, casos e recordações. Quem quiser recordar, é só entrar no grupo “Olá Somos Tatuianos!”, logo ali, no Facebook! Parabéns pela ideia, Carlinhos Mendes!