Vamos iniciar, a partir desta edição, uma série de perguntas e respostas bastante frequentes no dia a dia do consultório pediátrico. Como são muitas, vamos por partes.
- As vacinas são importantes? Por que vacinar meu filho? Ele não vai sofrer?
As vacinas são extremamente importantes para proteger as crianças das doenças infecciosas graves e preveníveis, tais como: tuberculose e meningite tuberculosa (BCG intradérmica); poliomielite ou paralisia infantil – VIP (injetável) ou VOP (via oral); DTPa – tríplice acelular contra a difteria (crupe), tétano, coqueluche (tosse comprida), tríplice viral (contra o sarampo, a caxumba e rubéola); tetra viral – contra o sarampo, a caxumba, a rubéola e varicela (catapora); hepatite A; hepatite B; hepatite A+B (conjugada); meningite por Hemofilus influenza B; meningite por meningococos (A, B, C, W e Y); contra infecção por pneumococos (Prevenar 13 e Pneumo 23) – contra pneumonias e meningites; dengue (1, 2, 3 e 4); HPV (papiloma vírus humano) – que causa as verrugas genitais e o câncer de colo de útero; febre amarela; febre tifoide; herpes zoster (cobreiro); influenza (gripe normal e gripe suína – H1N1); e rotavírus (esta feita por via oral).
A vacina, ao ser injetada no organismo da criança, provoca a formação de anticorpos (“armas”) contra as doenças, e é por isso que devemos vacinar nossos filhos – para protegê-los!
Se as crianças sofrem ao serem vacinadas? Seria mentiroso dizer que as vacinas não provocam sofrimento. É lógico, porém, não é nada que não seja suportável. Esse é o sofrimento que chamo de “sofrimento necessário”, isto é, ele é inevitável, mas que pode ser amenizado por mães carinhosas e preocupadas com a saúde do filho. Existem várias vacinas que não fazem parte do calendário normal do SUS e são consideradas complementares. Aplicar vacina particular não é gasto – é investimento! Em breve, falaremos sobre elas.
- Quais são as contraindicações da vacinação em geral?
As contraindicações (que devem ser somente por ordem médica) a qualquer vacina são poucas: imunodeficiência congênita ou adquirida (“baixa resistência”), doenças com comprometimento do estado geral (câncer, por exemplo), reação alérgica à aplicação anterior da vacina, alergia a ovo de galinha (constatada clinicamente ao ingerir ovo), doenças agudas febris.
- Criança com chiado no peito pode ser vacinada?
Sim. As doenças alérgicas como asma e rinite, muito comuns na infância, não contraindicam a aplicação das vacinas anti-infecciosas. Em alguns casos, em que a crise for muito intensa, somente o médico deve decidir se deve ou não aplicar a vacina.
- Criança que apresentou febre na primeira vacina pode tomar a segunda dose dessa vacina?
Reações como febre inferior a 39ºc ou reações como dor, vermelhidão ou edema (inchaço) no local da aplicação da vacina não contraindicam a revacinação, principalmente no que se refere à tríplice (difteria, tétano e coqueluche).
- Qual a vacina a ser usada quando a criança teve reação grave com a DTP?
Quando houver reações graves ou intensas com a DTP (tríplice comum), a próxima dose pode estar contraindicada (a contraindicação é uma conduta médica). A vacina indicada é da DTPa – tríplice acelular, que protege contra a difteria, o tétano e a coqueluche (tosse comprida). O componente pertussis é o responsável pelas reações adversas graves quando ocorrem. Na tríplice comum, ela é feita a partir da cápsula da bactéria e, na acelular, com a proteína da bactéria, e dá pouquíssimas reações, se houverem!
- Criança que sofre de convulsão pode ser vacinada?
A princípio, sim. Contudo, podem ser necessários cuidados médicos e avaliação neurológica antes da aplicação. Nesta situação, deve ser sempre consultado o médico neurologista ou o pediatra. Em crianças que tiveram reação intensa com a tríplice (DTP), fazemos a “tríplice acelular”.
- O que é a tríplice acelular?
A vacina tríplice acelular é vacina DTPa (difteria, tétano, coqueluche), cujo componente Pertussis é modificado (feita com componentes da proteína) da “Bordetella pertussis”, o que possibilita a ocorrência de menos reações adversas, tais como febre, dor e as temíveis complicações neurológicas, como, por exemplo, as convulsões e reações de hiporresponsividade (reação forte, na qual a criança fica bastante comprometida – com sonolência intensa, chegando a dormir por 24 hs seguidas ou ter febre muito alta).
- Crianças com anemia podem ser vacinadas?
Sim, podem e devem ser vacinadas. A vacinação não deve ser adiada no paciente com anemia, pelo contrário, deve-se dar prioridade à vacinação nesses pacientes. Crianças esplenectomizadas (que foram operadas, retirando o baço), com anemia falciforme (comum na criança negra) ou com outras anemias hemolíticas (em que os glóbulos vermelhos são destruídos) têm maior risco de infecções bacterianas graves e, portanto, devem ser protegidas através da vacinação.
Por favor, mãe, não se esqueça: quem ama vacina o filho!
* Médico pediatra com TEP em Pediatria pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Pediatria