Acima das discussões sem lastro de coerência e contaminadas pela pandemia de fanatismo a envenenar a população desde 2018, finalmente se começa a alcançar consenso em pelo menos um tema – vital, literalmente: a importância da vacinação para o retorno a uma rotina menos dramática, anormal e mortífera.
Mesmo diante da força e atual preferência pelas “versões” em desfavor aos “fatos”, está cada vez mais difícil a defesa do negacionismo, que até então seguia minimizando a pandemia, menosprezando as medidas de prevenção e apostando em medidas alternativas para o combate ao novo coronavírus, como a tal imunização de rebanho, isolamento vertical e tratamento precoce.
Nada disso deu certo, e os meses de março e abril, particularmente, cuidaram de evidenciar o terror da crise sanitária, tanto quanto escancarar a inação, a incompetência e a insensibilidade grotesca com que a pandemia foi tratada no país por seu governo federal.
A morosidade para a efetivação das compras das vacinas – a despeito do volume de óbitos em alarmante crescimento – ainda é objeto de questionamentos – cujo mais significativo ocorre na respectiva CPI – e, muito provavelmente, ainda pode configurar-se em um dos maiores crimes da história da nação.
Quantas pessoas foram a óbito por conta da demora até o início da vacinação, há vários estudos em andamento, embora nenhum ainda definitivo.
Uns sustentam a morte prematura, pela Covid-19, de cerca de 150 mil brasileiros; outros defendem que a procrastinação da campanha nacional vitimou dois terços dos mortos – ou seja, algo em torno de 350 mil famílias perdendo seus entes queridos por descaso.
Se haverá punições aos responsáveis pela tragédia, já é outra situação, incerta. Por sua vez, dúvida é o que não há mais quanto à eficácia da vacinação em massa como único meio para o fim desta avassaladora crise sanitária.
E mais (para quem “só” com isto se importa): a imunização robusta também é a única alternativa capaz de permitir a tão esperada quanto vital retomada econômica do país.
Antes, a matemática era inquestionável – tal como o mundo ser redondo -, mas, na atualidade, frente à soberba do fanatismo, o redundante deixa de ser inoportuno, passando até a ser indispensável. Portanto, lembremos: a matemática é ciência “exata”, não permitindo “opiniões” em contrário. (“Tipo”, 2 + 2 continuam sendo 4).
Neste sentido, os números nacionais evidenciam, sem dúvida, o impacto da vacinação no número de contaminações, mortes e, sobretudo, na ocupação de leitos clínicos e de UTI em todo o país. Bastou o início da imunização em larga escala para, na mesma proporção, começarem as quedas dos impactos da pandemia.
Acerca dessa matemática de subtração das mazelas causadas pela Covid-19, Tatuí pode muito bem servir de exemplo. Dois aspectos em particular refletem a nova realidade proporcionada pela vacinação (inquestionáveis como 2 – 2 ainda resultam em 0). Eles indicam justamente os índices de procura pelos serviços da Santa Casa.
A imunização em maior escala no município teve início em junho e, imediatamente, após cinco meses seguidos com a UTI operando acima do limite, a ocupação desse setor no hospital público ficou abaixo de 100%.
Pelo monitoramento de leitos realizado pela Secretaria de Saúde, isso ocorreu na manhã de sexta-feira da semana passada, 9, com três vagas livres. Nesse dia, eram dez pacientes internados, correspondendo a 66% da capacidade do local, que possui 15 leitos.
Ao longo da semana, manteve-se a menor demanda pelo serviço de urgência – o que se espera siga em queda cada vez mais.
De acordo com a Secretaria de Saúde, o índice foi alcançado tanto pela ampliação do número de leitos disponíveis quanto pela gradual redução do número de internados. A primeira vez em que a UTI da Santa Casa atingiu o limite por causa da pandemia ocorreu em 3 de março.
O máximo de ocupação aconteceu no dia 31 de março, quando 270% dos leitos estavam em uso, atendendo a 27 pacientes para 15 vagas.
Por sua vez, na ala de leitos clínicos da Santa Casa, a ocupação também ficou abaixo dos 100% dias antes, na quarta-feira da semana passada, 7. Desde 6 de maio, até então, o serviço mantinha-se em superlotação, passando de 200% em alguns períodos.
Conforme a Vigilância Epidemiológica, o espaço reservado para tratamento de Covid-19 no hospital público comporta 22 pacientes. Na sexta-feira, 9, a ala voltou a registrar superlotação, com 23 leitos ocupados (105%). Contudo, também ao longo da semana, a oscilação demonstrou a tendência de queda nas hospitalizações.
A situação no hospital particular da Unimed, considerando-se o mesmo período, também veio a refletir a mesma inclinação municipal e nacional, com o desafogo nos atendimentos clínicos e emergenciais.
Além da melhora na situação de ocupação da Santa Casa e da Unimed, no começo desta semana, as curvas de moradores infectados pela Covid-19 e mortes pela doença apresentaram redução em comparação ao início da semana anterior.
Paralelamente, em claro reconhecimento à eficiência das vacinas, os brasileiros se manifestaram de maneira cristalina quanto ao interesse pela imunização, conforme apurado pelo Datafolha, em pesquisa divulgada nesta semana. O estudo apurou que 94% da população pretendem se vacinar.
Observando esta guinada sadia de postura, abre-se esperança para, realmente, o Brasil vir a acabar com a tragédia na saúde pública e, quem sabe, até salvar o Estado democrático de Direito.
Se o fanatismo extremista continuar perdendo força e contágio, tal o novo vírus corona diante das vacinas, será possível restabelecer ainda mais o bom senso e a conscientização dos brasileiros e, de repente, até esperar que, sim, em 2022 teremos eleições!