Da reportagem
A prefeitura finalizou nesta semana as obras da UPA (unidade de pronto atendimento). Uma visita na segunda-feira, 22, com autoridades municipais, equipes médicas e outros profissionais de saúde marcou a entrega oficial das instalações.
O novo dispositivo de saúde, no entanto, ainda não será aberto à população, permanecendo como retaguarda, nos moldes de um “hospital de campanha”, ao atendimento prestado pelo Pronto-Socorro Municipal e pela Santa Casa aos pacientes acometidos pela Covid-19.
A prefeita Maria José Vieira de Camargo, o vice-prefeito Luiz Paulo Ribeiro da Silva e o assessor parlamentar Luiz Gonzaga Vieira de Camargo estiveram no local, assim como diretores, secretários municipais e médicos que atuarão na unidade.
Conforme anunciado anteriormente pela prefeita, a intenção era inaugurar a UPA para poder desafogar o atendimento do PS “Erasmo Peixoto” – que recebe, em média, 11 mil pessoas por mês.
Contudo, com a evolução da pandemia do novo coronavírus, a prefeitura alterou o planejamento e a unidade também foi equipada e preparada para servir como hospital de campanha.
A O Progresso, a secretária da Saúde, Tirza Luíza de Mello Meira Martins, informou que, no local, poderão ser atendidos pacientes suspeitos ou contaminados pela Covid-19, em nível de saúde considerado “intermediário” – ou seja, que não precisam de terapia intensiva, mas necessitam de internação.
A intenção é usar a UPA para disponibilizar mais leitos clínicos ao tratamento de Covid-19. Tirza assegurou que, com a nova unidade, será possível abrigar 42 pacientes – totalizando 96 leitos públicos de isolamento.
Atualmente, a Santa Casa dispõe de 22 leitos clínicos para tratamento da doença. Segundo a secretária, ainda há espaço e equipamentos para aumentar o atendimento, podendo-se chegar a 54 leitos.
“Até então, a taxa de ocupação tem variado entre 20% e 30%, mas nós pensamos em um segundo cenário, com um possível aumento. Se a Santa Casa atingir a ocupação total, temos mais este equipamento de saúde para poder atender os nossos pacientes”, frisou a secretária.
Segundo ela, a abertura da unidade nos moldes originais, para atendimento de urgência e emergência, dependerá de avaliações periódicas do Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento à Covid-19.
“Temos o PS, que tem atendido a demanda dele, então, neste momento, precisamos dessa retaguarda da UPA para a Covid-19. Se no decorrer das semanas houver melhora da situação epidemiológica, podemos ocupar a unidade no projeto original”, argumentou Tirza.
Conforme enfatizou a prefeita, a unidade terá sala de emergência e um espaço de atendimento diferenciado só para crianças. O investimento é de, aproximadamente, R$ 2 milhões, em área aproximada de 2.000 metros quadrados.
“Entregar este equipamento de saúde é uma grande conquista. A finalização da UPA foi dos principais desafios da minha gestão. Já em 2017, recebi o comunicado do Ministério da Saúde dizendo que tinha cancelado o convênio para a construção da unidade, e, a partir daí, foi uma grande luta para que a gente conseguisse realizar a obra”, ressaltou Maria José.
A construção do prédio havia sido anunciada em agosto de 2011, após o Ministério da Saúde liberar R$ 18,8 milhões para a edificação de dez unidades 24 horas no estado de São Paulo e para a compra de equipamentos. A pasta federal autorizou a edificação por meio de portaria editada em 28 de julho de 2011.
A construção fazia parte da versão 2 do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do programa de saúde “Toda Hora”, responsável por reorganizar a rede de atenção do SUS (Sistema Único de Saúde).
As obras na unidade, situada na avenida Domingues Bassi, ao lado do Corpo de Bombeiros, começaram um ano depois e, desde então, conforme acentuado pela prefeita, vêm passando por diversos processos, que acabaram atrasando a conclusão.
Em agosto de 2012, a prefeitura emitiu ordem de serviço para a edificação, orçada em R$ 2,6 milhões. O Executivo previa a construção de um prédio de 2.236,73 metros quadrados, em prazo de 180 dias.
Na prática, a UPA teria de estar terminada em fevereiro de 2013, mas as obras, iniciadas em 2012, pararam no início do ano seguinte, sendo retomadas em agosto de 2013.
Na época, a prefeitura, sob a administração do ex-prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, anunciou que recebera nova autorização do Ministério da Saúde – dessa vez, para reiniciar as obras com metragem menor.
A prefeitura refez a planta, reduzindo a construção dos mais de 2.200 metros quadrados para 1.800 metros quadrados, alegando que o ajuste seria necessário.
Por conta do redimensionamento do projeto, o Executivo sustentou, na época, que teria de aumentar a contrapartida. Pela proposta original, a prefeitura deveria aportar R$ 600 mil. Com a mudança, o orçamento aumentou em mais R$ 400 mil, passando a R$ 1 milhão.
Em maio de 2014, o processo voltou a parar, sendo retomado um ano depois. A prefeitura divulgou que aguardava autorização do TCE (Tribunal de Contas do Estado) de São Paulo para reiniciar os trabalhos, por conta da readequação de metragem.
A alegação era de que a UPA havia sido iniciada com tamanho maior que o preconizado pelo Ministério da Saúde. Na época, a prefeitura informou que as obras estavam 55% prontas. Entretanto, a edificação voltou a parar em setembro de 2015.
Em julho de 2016, a administração transferiu para o Instituto Hygia, uma OS (organização social), a cessão de administração da UPA, além de encarregá-lo de concluir as obras.
O acordo não teve prosseguimento, levando a unidade a não ser concluída como previsto, e, desde janeiro de 2017, a atual administração vem informando que busca alternativas para terminá-la.
Para retomar a construção, em março de 2018, a prefeitura realizou nova licitação para definir a construtora que finalizaria as obras. Em abril do mesmo ano, a empresa Nobre Empreendimentos foi homologada como vencedora e o contrato, enviado para assinatura dos diretores dela, em Ribeirão Pires. As obras foram, então, reiniciadas em maio de 2018, com recursos próprios da prefeitura.
“Quando eu entrei, encontrei aqui um esqueleto, uma UPA vandalizada, muitos materiais haviam sido roubados e a unidade estava em uma situação muito precária. A luta foi muito grande, e hoje é com muita alegria e satisfação que estou conseguindo entregar para a população de Tatuí está bela e moderna UPA, a maior da nossa região”, declarou Maria José.
As UPAs fazem parte da Política Nacional de Urgência e Emergência, lançada pelo Ministério da Saúde em 2008 e que objetiva estruturar e organizar a rede de urgência e emergência do país, integrando a atenção às urgências.
O atendimento dessas unidades acontece 24 horas por dia, sete dias por semana, com capacidade para resolver grande parte das urgências e emergências, como pressão e febre alta, fraturas, cortes, infarto e derrame.
Mesmo possuindo estrutura simplificada, a unidade – considerada um mini-hospital – é equipada com raio-X, eletrocardiograma, pediatria, laboratório de exames e leitos de observação.
Compete à UPA acolher os usuários e familiares; trabalhar articulada com a rede de Atenção Básica, Samu 192, hospitais, apoio diagnóstico e terapêutico, “construindo fluxos de referência e contrarreferência” assistidos pelas centrais de regulação.
Ainda segundo a prefeita, mesmo depois do período da pandemia, quando a UPA for ocupada para atendimento de urgência e emergência, a prefeitura manterá as atividades do PS local, reconfigurando o atendimento.
“O PS vai funcionar de ‘porta fechada’ somente para aquele atendimento urgente, que chega por meio do Samu, do Corpo de Bombeiros e de outros serviços de emergência, enquanto a UPA atenderá à demanda espontânea”, antecipou.
O cardiologista Roberto Simões é um dos médicos que esteve visitando o local e salientou a importância da disponibilização do espaço para o tratamento de pacientes infectados ou com suspeita da Covid-19.
Ele é filho dos biomédicos Leila e José Roberto Simões, que trabalham em uma clínica de radiologia em Tatuí – primeiros pacientes confirmados com a doença no município. A mãe dele, inclusive, chegou a passar 40 dias internada em UTI.
“É um espaço físico muito importante. Ter este equipamento disponível é uma segurança para a população como um todo pois, ninguém está livre da doença. Saber que temos um espaço com essa parte física impecável nos deixa um pouco mais tranquilos”, observou o médico.
Para o cardiologista, a unidade também é um “arsenal” que a prefeitura pode usar no combate à pandemia. “Conhecendo este espaço, fiquei aliviado em relação a atuar na cidade no Covid-19, por meus pacientes e também familiares que precisam do SUS”, salientou.
“A construção é muito bonita, o projeto é muito bem idealizado e aparenta ser bem maior e melhor do que outras UPAs que eu conheço na região. É uma estrutura física fantástica e, pelo que vi, vai suprir bem a necessidade da população”, completou Simões.