Torneio de acrobacias aéreas volta a Tatuí

Da redação

No dia em que o Aeroclube de Tatuí celebrou 45 anos de operações, no domingo da semana passada, 8, o Comitê Brasileiro de Acrobacia e Competições Aéreas (CBA) anunciou que o local sediará, mais uma vez, o Campeonato Nacional de Acrobacia Aérea.

Tatuí receberá a oitava edição da disputa nacional entre os dias 16 e 18 de julho, de quinta-feira a sábado. Pela segunda vez, o evento acontecerá fora da AFA (Academia da Força Aérea), em Pirassununga, onde o público é restrito aos familiares dos pilotos.

No ano passado, o município foi palco do 7º Campeonato Nacional de Acrobacia Aérea, entre os dias 18 e 21 de julho. Na ocasião, o piloto e vice-presidente do Aeroclube de Tatuí, Kaio Puertas, conquistou o título da categoria “planador”.

Na disputa de uma categoria estreante no evento, Puertas, a bordo do modelo “Puchacz SZD50-3”, alcançou a nota total de 730,65, ficando à frente dos pilotos “Gordinho”, com 627,92, e Eduardo Costa Rodrigues, com 512,21.

Além da disputa entre planadores, a competição nacional promoveu outras seis categorias: “básica”, “esporte”, “intermediária”, “avançada”, “ilimitada” e “4 minutos freestyle”.

A cidade ainda foi representada pelo diretor de segurança de voo do Aeroclube, Thalles Coutinho, e pelo piloto “Bolafly”, no show aéreo de planadores. Já pelas competições, além de Puertas, o município teve o piloto Arthur Mazzucatto, na categoria básica.

No dia seguinte ao fim da competição, o Aeroclube promoveu diversas atividades. Com entrada gratuita, o público teve à disposição uma praça de alimentação, espaço kids, venda de suvenires do Aeroclube e da Cidade Ternura, além de estacionamento privado. Ainda houve palco com shows de bandas locais e uma barraca itens da Esquadrilha da Fumaça.

No evento, além da competição nacional, o Aeroclube recebeu show aéreo com os pilotos participantes da competição, exibição do jato “L-39”, acrobacia de planador, aeromodelismo e paraquedismo.

O público ainda pôde visitar o simulador de voo e aeronaves e participar de voos de passeio de planador – inclusive, com sorteio de duas decolagens à população.

A Esquadrilha da Fumaça foi a atração na tarde do dia 20. Conforme o presidente do Aeroclube tatuiano, Alexandre Simões, durante os quatro dias, o local recebeu cerca de 26 mil pessoas, sendo mais de 15 mil somente para acompanhar a apresentação aérea.

A O Progresso, o presidente revelou que todos estão felizes com o anúncio de sediar o evento pelo segundo ano consecutivo. Ele contou que a candidatura para sediar a competição foi enviada em janeiro e, desde então, estava na torcida.

Conforme Simões, apesar de ter competido com cidades de todas as regiões do país, Tatuí foi escolhida, justamente, pelos “bons frutos” que a edição do ano passado rendeu à CBA. Pela primeira vez aberta aos visitantes, a premiação dos pilotos aconteceu no meio do público.

“Isso foi muito bacana, e os pilotos adoraram. Eles ainda gostaram da recepção que receberam, de toda a organização e do suporte que a prefeitura prestou”, expôs o presidente.

“Acredito que as coisas se encaixaram. A CBA estava procurando público e encontrou um ótimo público em Tatuí. Ao ver dos organizadores, a sétima edição do campeonato foi um sucesso”, complementou.

Simões ainda falou a respeito do 62º Campeonato de Voo a Vela do Sudeste. A cidade sediaria, pelo segundo ano consecutivo, o evento durante as festividades de Carnaval, entre os dias 21 e 26 de fevereiro. Em decisão conjunta, a FBVP (Federação Brasileira de Voo em Planadores) e o Aeroclube optaram pela não realização da competição, quatro dias antes do início.

Conforme nota divulgada pela FBVP, o cancelamento ocorreu devido às condições meteorológicas previstas, à baixa adesão nas inscrições e ao alto risco de não validação do campeonato.

“A decisão visa poupar recursos dos pilotos para futuras competições com melhores possibilidades de aproveitamento”, explicou Simões, na oportunidade.

Em 2019, o piloto Eduardo Costa Rodrigues conquistou o título da classe “kw1/clube” ao Aeroclube de Tatuí, no 61º Campeonato de Voo a Vela do Sudeste. Neste ano, ele tentaria o bicampeonato representando o município, assim como o pai dele, o piloto Bruno Nogueira Rodrigues.

Segundo Simões, o Aeroclube tatuiano está em constantes negociações com a FBVP. Ele afirma ter sido realizado um estudo meteorológico e que, em breve, será divulgada uma nova data para realização do campeonato.

(foto: arquivo O Progesso)

45 anos

No domingo anterior, 8, o Aeroclube de Tatuí celebrou 45 anos de operações. A data se refere à primeira operação do então Aeroclube de Planadores de Tietê, na cidade vizinha.

Anteriormente, o aeródromo de Tatuí havia sido construído em 1941, como uma pista de terra e um hangar, durante a gestão do ex-prefeito Antônio Tricta Júnior.

Dois anos depois, 28 tatuianos, amantes da aviação, reuniram-se no Clube Recreativo Onze de Agosto para formalizar a fundação do Aeroclube de Tatuí.

O primeiro presidente do aeroclube tatuiano foi o jornalista tatuiano Maurício Loureiro Gama, filho de Teophilo de Andrade Gama e de Anésia Loureiro Gama.

Ele iniciou a carreira, aos 17 anos, escrevendo textos em O Progresso. Gama também se notabilizou por ter sido o primeiro apresentador de telejornal do Brasil, em 1950, pela TV Tupi.

Naquela época, o governo arrecadava doações para o desenvolvimento da aviação e formação de pilotos, como previa a CNA (Campanha Nacional de Aviação), idealizada pelo jornalista Assis Chateaubriand. O último registro de reunião do Aeroclube de Tatuí é de 1963.

Paralelamente, o piloto croata Dejan A. Golik, ex-combatente na Segunda Guerra Mundial, procurava por um clube de planadores para continuar voando, como hobby, após ter se instalado em São Paulo.

Ele voou por um período na capital paulista e chegou a ser presidente do Aeroclube de Jundiaí. Posteriormente, em 1973, diante da proximidade de São Paulo, Golik decidiu se instalar em Tietê. Segundo Simões, o local contava com hangares e uma infraestrutura adequada, pois era sede de um clube de aviões.

Em 1974, Golik realizou a assembleia de fundação do Aeroclube de Planadores de Tietê, na casa dele, em São Paulo. Meses depois, ainda com sede na capital paulista, no dia 8 de março de 1975, iniciaram-se as operações do clube de planadores.

Para tanto, Golik teve de ajudar na reforma de um avião acidentado, do Aeroclube de Tietê. Dessa forma, a infraestrutura do local passou a receber voos das duas entidades: do Aeroclube de Tietê e do Aeroclube de Planadores de Tietê, simultaneamente.

Conforme Simões, em menos de um ano de as duas modalidades do aerodesporto operando juntas, surgiram atritos. O atual presidente do Aeroclube de Tatuí conta que os pilotos de aviões entendiam que os planadores estavam atrapalhando os voos deles.

“Isso é comum, pois os planadores têm prioridade de pouso em relação a aeronaves a motor”, esclarece Simões.

Em busca de um novo espaço, Golik realizou uma série de estudos e chegou ao entendimento de que Araçoiaba da Serra possuía uma pista e infraestrutura adequadas. No entanto, o projeto não foi aprovado pelos vereadores do município.

Naquela época, a pista tatuiana era utilizada por um clube de girocópteros e, por este motivo, o croata não cogitava o município. Devido aos atritos em Tietê, Golik desejava um espaço exclusivo para planadores.

Contudo, em 1976, um acidente fatal envolvendo o presidente do Clube de Girocópteros de Tatuí provocou o encerramento das atividades aéreas na pista tatuiana. Então, Golik levou o projeto à prefeitura e firmou um comodato para trazer o Aeroclube de Planadores de Tietê até a pista de Tatuí.

Voando, uma aeronave rebocadora, o Citábria (PT-JJX), e dois planadores bipostos para instrução, Neivão (PT-PAM) e Specht (PT-PDG), vieram ao município no mês de fevereiro de 1977.

“Os dois planadores permanecem em Tatuí, porém, somente o PT-PAM ainda está em condições de voo. Ele é o único Neivão voando no Brasil”, conta Simões.

Após uma festa de comemoração pelo translado, no dia 26 de março de 1977, aconteceu a primeira operação do Aeroclube de Planadores de Tietê em Tatuí. Em 1983, houve a alteração do nome para Aeroclube de Planadores de Tatuí e, posteriormente, para Aeroclube de Tatuí.

Quando ainda estava em Jundiaí, Golik conheceu o piloto alemão Karl Heinz Jahmann. Durante a Segunda Guerra Mundial, Jahmann voava com os planadores que levavam soldados alemães a pontos estratégicos de combate.

Jahmann “seguiu” Golik a Tietê e até Tatuí, sendo um dos fundadores do atual aeroclube tatuiano. O piloto alemão foi homenageado como patrono do quarto hangar do aeródromo e ainda deu nome à via municipal Karl Heinz Jahmann, no bairro dos Fragas, onde está instalado o Aeroclube de Tatuí.

“Nós ainda estamos lá e queremos continuar, de forma a modernizar e desenvolver o aerodesporto como um todo, mantendo o voo a vela como esporte principal, mas permitindo que outros aeroesportes funcionem no nosso aeródromo”, finalizou Simões.