É sempre bom ter cuidado ao fazer generalizações, pois elas têm o mau hábito de serem desmentidas pela realidade. Exemplificando: basta dizer que tal operadora de celular não presta, que alguém por perto vai jurar que trabalha com ela há anos e nunca teve uma queda de ligação ou falta de sinal –e pronto, lá se vai a credibilidade do maledicente. Não por acaso o inteligente estadista Disraeli disse, ainda no século 19: “Nenhuma generalização é inteiramente verdadeira – nem esta.”
Além disso, juízos de valor abrangentes podem ser muito nocivos se aplicados a grupos étnicos, religiosos ou populacionais. Generalizações dessa categoria costumam ser filhas da ignorância e mães do preconceito, ou seja: são estúpidas de família; e podem gerar de simples implicâncias a crimes de guerra. Um exemplo suave: a pessoa passa uma semana em Paris, tem contatos rápidos e superficiais com duas dúzias de nativos, mas ao voltar sentencia aos amigos: “Os franceses são mal-educados”. Ao tomar 65 milhões de habitantes por uma minúscula parte, ela expressa um conceito negativo e sem base que, no entanto, acabará sendo acatado e repassado por outros. Pois um tolo sempre encontra outro mais
tolo, que o admira. Gosto dessa generalização.
Os parágrafos acima servem para justificar porque, mesmo morando em Tatuí há mais de cinco anos, não ouso escrever que o tatuiano é assim ou assado. Um termo depreciativo seria injusto para com a maioria, e um elogioso seria imerecido por uns tantos, pois – obviamente – há todo tipo de pessoa entre 110 mil. Mas, não querendo ficar “em cima do muro”, vou relatar algumas impressões que tive nesse período.
Alguns motoqueiros tatuianos têm um jeito muito perigoso de estacionar. Eles embicam a moto na direção da calçada, e quando você, vindo atrás, acelera o carro pensando que o caminho está livre, vê a moto ressurgir de repente na sua frente, porque ele está fazendo um “u” para parar de ré. Várias vezes tive de frear bruscamente para não me envolver em acidente. Alguns motoristas tatuianos não dão seta antes de fazer conversões. E alguns motoristas estacionam e já vão abrindo a porta, sem olhar no retrovisor se vem vindo outro carro. “Alguns”, escrevi – nada de generalizações.
Por três meses morei num hotel quando vim para cá. E a primeira vez que não jantei sozinho nesse período foi a convite de um simpático casal que, me conhecendo apenas de ouvir falar por uma parente, pegou o filho de colo, buscou-me no hotel e me levou a uma pizzaria, de onde saí bem alimentado e com a agradável sensação de que já tinha dois amigos e meio, feito a série de tevê.
Alguns tatuianos me receberam muito bem em suas casas, em visita alegraram a minha ou confraternizaram comigo em restaurantes, bares e pesqueiros. Alguns desses tatuianos me tratam como membro da família, e me são muito queridos. Dois desses tatuianos se tornaram minha família aqui.
Tomar cuidado no trânsito. Ser cuidado por essa gente. Receita de felicidade em Tatuí.