Raymundo Farias de Oliveira
Eu estava sozinho à mesa, iniciando meu almoço no restaurante, quando entrou uma mulher, moça e bonita, bem vestida, na companhia de um menino, muito bem arrumadinho, exibindo o encanto dos seus quatro ou cinco anos de idade. Mãe e filho, conclui com meus botões.
A garçonete, mais que depressa, apresentou-se com o cardápio e o colocou sobre a mesa, sob o olhar da recém-chegada. O menino levantou-se da cadeira e começou uma caminhada pelo salão parando aqui, ali, espiando cada mesa, para saciar sua curiosidade infantil.
Quando passou pertinho de mim encantou-me com seu doce olhar de inocência.
Nisso, a mãe veio buscá-lo e o levou segurando sua mãozinha. O pai havia acabado de chegar.
Bem afeiçoado, trajando roupa esporte, o celular na mão, os dois olharam-se quase formalmente. O menino, já sentadinho em sua cadeira, foi esquecido; nem foi cumprimentado.
Após a escolha dos pratos feita pelo casal na presença da garçonete, continuei admirando o belo par e o garotinho vivaz.
O marido e pai colocou o celular sobre a mesa, abaixou a cabeça, e não deu mais sossego ao dedo indicador, em pleno momento sagrado da refeição.
Absorto, digitando sem parar, mergulhou no seu mundo virtual e misterioso, ignorando a presença da mulher e do filho, ali à sua frente, na mesma mesa.
Tomei meu cafezinho com leite, paguei a conta e fui embora, matutando: o mundo está precisando de mais humildade e menos arrogância, mais afeto e menos máquina, mais amor e menos tecnologia…