Tatuianas vencem disputa e serão deputadas estaduais por dois dias





David Bonis

Professora Jocélia vai a São Paulo acompanhar Maria Vitória junto ao Parlamento

 

Duas alunas de escolas estaduais de Tatuí foram eleitas “deputadas” na semana passada. Elas comporão o Parlamento Jovem Paulista, da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).

A vitória garante a elas o direito de irem a São Paulo nos próximos dias 6 e 7 de novembro – com tudo pago – para receberem a titulação parlamentar e apresentarem o projeto de lei que criaram. O resultado saiu na sexta-feira da semana passada, 20.

As escolhidas foram as estudantes Maria Vitória Vieira da Costa, da 7ª série da escola “Professor Ary de Almeida Sinisgalli”, e Vitória Manoele de Almeida, da 9ª série do colégio “José Celso de Melo”.

Apenas 94 alunos de escolas públicas e privadas de todo o Estado foram eleitos deputados mirins – mesmo número de deputados que compõem o legislativo estadual. A iniciativa faz parte do projeto Parlamento Jovem, organizado pela Alesp desde 1999.

O objetivo é levar estudantes ao parlamento estadual a fim de que aprendam sobre o funcionamento da Casa de Leis. Na edição de 2014, apenas estudantes de ensino fundamental puderam participar.

Em junho, as diretorias de cada colégio passaram a receber o lembrete sobre o projeto. Normalmente, apenas um professor é designado para coordenar a participação da escola.

No colégio “Professor Ary de Almeida Sinisgalli”, a escolhida foi a professora Jocélia Francisca Reis Gonçalves, que leciona história. Mesma matéria que a docente Ana Maria das Dores, responsável pela coordenação do projeto na escola “José Celso de Melo”.

A função do professor é auxiliar os alunos interessados em participar da iniciativa a criar um projeto de lei. Jocélia, por exemplo, conta que passou o período das férias de meio de ano conversando com Vitória, pelo Facebook, para acertar os detalhes da proposta.

O texto pronto foi enviado apenas na segunda quinzena de julho aos técnicos da Alesp, responsáveis pela seleção dos projetos de lei. Nos dias 6 e 7 de novembro, cada um dos jovens congressistas terá três minutos para subir ao plenário e apresentar sua ideia.

O projeto de Maria Vitória obriga a Secretaria Estadual da Educação a inserir no currículo letivo, já a partir de 2015, atividades extracurriculares que destaquem temas regionais.

A ideia seria criar feiras de exposições que contenham trabalhos escolares elaborados pelo alunado de cada instituição. Esses projetos deveriam tratar das comidas, danças típicas, história e outras formas de expressão de cada região do Brasil.

A proposta estabelece que em cada bimestre do ano letivo seja organizada uma atividade do tipo. A região Norte seria tratada no primeiro bimestre; a Nordeste, no segundo; a Centro-Oeste, no terceiro; e as regiões Sul e Sudeste, no quarto bimestre.

“A atividade irá permitir uma integração entre culturas, aproximar famílias que vieram das mesmas regiões, podendo, com isso, trazer para dentro da escola não só a comunidade, mas pessoas que vivem no entorno, abrindo oportunidade para rever sua história e de sua família, e, com isso, integrando a escola e a sociedade”, escreveu a aluna, para justificar a proposta.

Os alunos eleitos deputados são divididos por partidos políticos correspondentes à área que seu projeto defende. Por exemplo, Maria Vitória ficou no Partido da Educação, já que sua proposta insere novas diretrizes no ensino estadual.

A maioria dos jovens deputados eleitos para o ciclo 2014-2015, que começa a partir da titulação, no dia 6 de novembro, e termina no momento em que o novo Parlamento Jovem toma posse, no ano seguinte, foi eleita pelo mesmo partido de Maria Vitória.

O Partido da Educação teve 33 eleitos, seguido pelo Partido da Natureza (17), Saúde (8), Cultura (7), Direitos Humanos (6), Segurança Pública (6), Defesa do Consumidor (5), Agricultura (3), Emprego (3), Esportes (3), Habitação (2) e Juventude (1).

Já a aluna da escola “José Celso de Melo”, Vitória Manoele de Almeida, faz parte do Partido do Esporte. O projeto dela determina a construção de um centro esportivo e cultural próximo aos conjuntos habitacionais.

De acordo com a professora Ana Maria, a ideia seria construir uma arena cultural nas imediações de conjuntos habitacionais. No local, deveria haver uma biblioteca, uma videoteca, espaço de lazer para idosos e uma quadra poliesportiva.

“O que vemos, hoje em dia, são crianças que vivem próximas, ou em conjuntos habitacionais, sempre brincando na rua. Com essa proposta, elas não precisarão mais disso. Além do mais, o projeto também contempla os idosos, inserindo todos os tipos de pessoas”, explica Ana Maria.

Para ela, a participação dos alunos no projeto Parlamento Jovem representa uma ganho “excepcional” aos estudantes, sobretudo do ponto de vista político. “Eles aprendem sobre o funcionamento do Legislativo, sobre a política de modo geral. Mostra que eles podem chegar lá”, ponderou.

Em conversa com a reportagem, Maria Vitória disse que já está notando o ganho que a participação no projeto levou para ela. Como teve de pesquisar sobre as regiões do país, diz que já percebe melhora, sobretudo nas aulas de geografia.

Conforme Jocélia, o projeto não representa apenas um ganho ao alunado. É importante para os professores orientadores e, também, às escolas envolvidas.

Para ela, a escolha de um aluno do colégio onde leciona para ser deputado jovem ajuda a melhorar a imagem da própria instituição, que recebeu nota 3,3 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), vinculado ao Ministério da Educação. A nota é considerada “baixa”.

“Como a escola ‘Ary Sinisgalli’ sempre busca participar do projeto e sempre leva o aluno para representar Tatuí, eleva o nome da instituição, porque tudo o que aparece do ‘Ary’ é coisa negativa. Mas, nós temos alunos muito bons aqui”, ressalta.

Em dez anos, esta é a sexta vez (2014, 2013, 2011, 2008 e 2006) que um aluno do colégio “Professor Ary de Almeida Sinisgalli” é eleito para participar do Parlamento Jovem.

As escolas estaduais, como a “Sinisgalli”, respondem pelo maior número de alunos inscritos para participar do projeto. Dentre os eleitos, 50 são oriundos de instituições de nível estadual, seguidos por estudantes de instituições privadas (33) e alunos de escolas municipais (11).

A participação de meninas também é maior. Entre as propostas eleitas, 64 são de estudantes do sexo feminino.