Tatuí responde que não quer golpe de estado

Celebrar o 7 de Setembro com desfiles, eventos públicos e manifestações as mais diversas tem sido, há décadas, uma maneira justa e oportuna de se lembrar e revalorizar a Independência do Brasil. Nisto, não há, em absoluto, nada de negativo.

Inclusive, resgatar a história, ou mesmo buscar conhecê-la com mais profundidade e realismo, é fundamental para que, justamente no presente, não mais se repitam os erros do passado, quando a população já foi ludibriada por falsos salvadores da pátria, que prometiam, em vão, liberdade e bonança a todos – não sem antes, contudo, alcançarem o poder total, sem qualquer oposição.

Ocorre que o poder absoluto – esse a não aceitar a divisão de comando entre os três Poderes, esse a querer fechamento de Congresso e STF – não serve a todos, muito menos ao povão em geral.

Na prática, a grande população só ganha um pouco mais de benefícios quando, verdadeiramente, o governo tem uma preocupação maior com a chamada “justiça social”. No que cabe a pergunta: alguém se recorda de um mísero “discurso” sério sobre justiça social em período de ditadura? Que dê o primeiro tiro de fuzil quem o lembrar…

Quanto a tal “liberdade” – sobretudo a de expressão –, somente permitida pela democracia e tão utilizada justamente para se tentar, ironicamente, destruir essa mesma democracia, aí a incoerência beira ao ridículo – embora um ridículo a seguir perigosamente a caminho do abismo institucional.

Em óbvio flagrante, o discurso é explícito em seu oportunismo quando, na verdade, todos sabem que o poder absoluto só se sustenta exatamente com a falta de liberdade – além da prisão, tortura e eventualmente morte de “opositores”.

O que ainda não percebeu uma parcela da população – essa que já foi maioria absoluta, baixou para um terço e, agora, encontra-se em torno de 20% – é que, sob um regime autoritário, se o cidadão “for pra rua” reclamar do preço do gás, da energia elétrica, da carne, da gasolina e de tudo o mais que não para de subir no país, ele não será recebido com afagos pelo “sistema de segurança” do governo absolutista.

Muito longe disso, se o “patriota” não aceitar calminho e calado as agruras causadas por um mau governo e protestar, ele vai é levar borrachada nas costas – se tiver sorte, claro, de escapar da mira dos fuzis, hoje colocados em mais alta conta que o arroz e o feijão como bens de primeira necessidade.

E, então, eleva-se outra questão: por que esse percentual de indivíduos – embora não seja parte de uma pequena elite a beneficiar-se com um golpe de estado – ainda apoia sua própria implosão social? Certamente, por falta de informação correta.

Não à toa, óbvio, a polêmica lei nacional a regulamentar as redes socais no país foi modificada, por medida provisória – ou seja, por imposição do governo -, no sentido de “não punir” fake news… Seria coincidência?

A se ponderar que o conhecimento efetivo tanto da história decorrida quanto do presente – vacina contra a enganação – não costuma ser encontrado na superficialidade danosa das redes sociais, a liberação da mentira só pode ser justificada por uma já indisfarçada intenção de enganar e arregimentar a população a serviço de um golpe institucional.

À luz desta (má) intenção, finalmente, observa-se o lado sinistro das celebrações deste 7 de Setembro, as quais, convenhamos, não tiveram nada a ver com os anos anteriores, então marcados meramente pela comemoração da Independência.

É possível crer que parte das pessoas vestidas de ver de amarelo estavam, sim, festejando a pátria, demonstrando seu amor pelo país. Sem dúvida!

Outra parte, contudo – não pequena, infelizmente -, esteve travestida com as cores da bandeira nacional da mesma forma que os nada saudosos supremacistas arianos ostentavam com orgulho a suástica, símbolo emblemático do mais tenebroso genocídio mundial.

É até um pecado com o Brasil suas cores identitárias terem sido, na prática, apropriadas por um movimento em nada democrático – embora o diga ser -, em nada familiar – dada a aposta flagrante no “nós contra eles” – e, por fim, em nada cristão – posto sua violência visceral.

Muito menos mal, é preciso reconhecer, aconteceu de essa costumeira agressão dos extremistas ter se resumido aos coices verbais neste 7 de Setembro, com as já enfadonhas ameaças ao Supremo, Congresso, imprensa, fantasmas comunistas etc., etc., etc… Não houve significativa desordem, violência física. Ótimo!

Por sua vez, seria a ausência das vias de fato corporais – aguardadas pelos extremistas, que sempre ganham com a convulsão social e, portanto, desejam-na – já um indicativo da perda de apoio ao golpe e um despertar de consciência das massas?

Seria esperança de um futuro menos sombrio, miserável e conturbado? Em observação a diversas pesquisas de opinião, pode-se concluir que sim!

Embora os fatos não sejam relevantes para os fanáticos – que têm por hábito negar o óbvio, em favor de suas fake news e versões -, já a imensa maioria está cansada de testemunhar a explícita falta de “trabalho” efetivo e excesso de incitação a golpe de estado e campanha eleitoral antecipada – o que seriam crimes, aliás, em um momento de “normalidade”.

E, com imensa satisfação, podemos afirmar que Tatuí segue nessa direção, no caminho da legalidade, do bom senso e – é possível até pensar – da tal justiça social.

Não com certo receio – confessamos -, a considerar-se a virulência extremista externada em redes sociais, o jornal O Progresso apresentou o 7 de Setembro como tema da enquete desta semana.

A intenção era saber como os tatuianos avaliam os movimentos a valer-se do ufanismo para outros propósitos que não os de enaltecer a pátria. Assim, perguntou se a data deveria servir para reafirmar a democracia, apenas lembrar a Independência ou como oportunidade para um golpe de estado.

Surpreendentemente (lembrando opiniões anteriores, mais sectárias), o resultado indicou esmagadora maioria posicionando-se a favor da democracia.

Em síntese, metade dos participantes respondeu que a data deveria servir para reforçar a democracia, enquanto apenas cerca de 15% apontaram querer golpe de estado.

Os demais, acentuando o desejo pela “normalidade”, indicaram que a data deveria simplesmente lembrar a Independência do Brasil.

O resultado geral espelha exatamente o que se tem apurado país afora quanto à aversão pelo totalitarismo e o apreço à democracia. Enfim, como se observa, o 7 de Setembro deixou a todos um verdadeiro motivo para esperança e celebração. Parabéns, Brasil. Parabéns, Tatuí!