Quando em visita à cidade na semana passada, para o anúncio do lançamento do Projeto Guri, a secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do estado de São Paulo, Marília Marton, também informou sobre a intenção de se criar um “polo da indústria fonográfica” em Tatuí.
Dois aspectos são claros e muito positivos quanto a esse projeto: primeiro, seria o ganho de mais um fator para a consolidação de Tatuí como Capital da Música, efetivamente e para muito além de nossas fronteiras.
Por ora, a verdade é que, sem o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, a cidade sequer teria alcançado o status de município turístico (MIT) do estado de São Paulo, muito menos sustentaria seu dístico mais relevante.
E exatamente a instituição local corresponde ao segundo excelente aspecto do anunciado, sabendo-se que, sem qualquer dúvida, não seria lógico, tampouco viável, pensar em polo musical sem a condição de protagonismo ocupada pelo Conservatório.
É no mínimo tranquilizador, portanto, testemunhar-se enunciados de projetos que apontem para investimentos na escola de música, teatro e luteria e, assim, contrários à intenção de um “desmonte” – termo reiteradamente observado em manifestações as mais diversas.
Seria mais que oportuno – necessário até – que logo mais se viesse apenas a abordar as opções didáticas quanto ao ensino da escola, sempre de forma embasada, responsável e por quem não só entende do assunto, mas tem reais intenções de “ajudar”, de “contribuir” com o Conservatório e, consequentemente, com Tatuí.
Por enquanto, conforme a secretária do estado, estão ocorrendo tratativas, junto aos profissionais do CDMCC, com o intuito de “ajustar o rumo” para o novo projeto da instituição.
Ela justificou a readequação do Conservatório por entender que a escola possui uma “fila reprimida de músicos”, os quais, segundo ela, querem estudar para dar aula. No entanto, a instituição não consegue atender a todos, argumentou.
Marília deu como exemplo o próprio Projeto Guri, sustentando que prefeitos querem implantar o programa, mas não conseguem contratar professores especializados, formados.
Em razão disso, ressaltou a importância do trabalho por meio do contrato de gestão celebrado com a Sustenidos Organização Social de Cultura, gestora do Conservatório, e a Santa Marcelina Cultura, do Projeto Guri, para que elas atendam às demandas de formação didática.
“E quem forma esse professor? O Conservatório de Tatuí. Então, estamos tentando organizar a secretaria a partir da vocação de cada uma das organizações sociais, para que elas, dentro de um conjunto de atividades, deem conta de tudo aquilo que a gente está demandando”, apontou.
Ela conta que a pasta vem fechando “inúmeros contratos” com os municípios interessados na implantação do projeto de iniciação musical. Em razão disso, defendeu que o Conservatório possa ser a porta de entrada para a formação desses professores a atuarem na ação, e não somente de músicos como atribuição principal, conforme ocorre atualmente.
Ela, entretanto, disse reconhecer o temor dos profissionais do Conservatório com a nova projeção. E afirmou que eles não deixarão de ministrar as aulas, no entanto, “trocarão a maneira” de como as aulas serão ministradas.
“Essa é a verdade: o Conservatório tem a sua vocação principal, primordial, que é a formação de músicos. Esse é o seu cerne central. Contudo, a cadeia produtiva da fonografia está exigindo muito mais da escola”, declarou.
De acordo com a secretária, na cadeia produtiva da indústria fonográfica, existem inúmeros profissionais precisando de formação específica. No entanto, segundo ela, para que esse processo de transformação possa ser concretizado, seria necessária a formação de profissionais técnicos, os quais disse ser insuficientes no país.
“Que lugar a pessoa procura para fazer este curso? Não existe. O estado de São Paulo, que tem o maior investimento em música, tem um Conservatório dedicado para isso, mas não faz (a formação)”, reafirmou.
Ela disse acreditar que, com a readequação, o Conservatório terá ampliadas as atribuições, tendo como consequência, o crescimento das atividades para os próximos anos. Marília reforçou, ainda, a necessidade de a escola voltar a ter um “olhar de excelência”.
A secretária também mencionou a Fatec como parte do crescimento da indústria fonográfica em Tatuí. No entanto, defendeu que, na faculdade de tecnologia, “ainda há uma certa peculiaridade na formação de algumas profissões”. E assegurou que a qualificação de músicos-professores estará atribuída ao Conservatório.
A secretária lembrou que essa formação também está direcionada à área de dramaturgia da instituição. E reforçou que as artes cênicas, além da própria excelência, também têm papel fundamental no setor musical.
Uma das falhas que ela atribui como não sendo apenas do Conservatório é a falta de uma “formação de gestão de carreira”, a qual impediria o músico de ter um estudo de como ele precificaria o trabalho dele, por exemplo.
“Nós não estamos aqui querendo inventar moda nenhuma, e sim olhar para o que todo mundo está fazendo. Estamos direcionando para as mudanças dessa indústria”, sustentou.
“A fonográfica, apesar de as pessoas acharem que, por conta de pronunciarmos a palavra indústria, queremos, de uma certa forma, dar algum tom comercial, ela existe desde a metade do século passado. Portanto, quando estamos olhando para essa evolução, não estamos abandonando a vocação do Conservatório”, concluiu Marília.
A assessoria de comunicação do CDMCC informou que a escola possui o curso de formação em educação musical, “que atende docentes da rede oficial de ensino interessados em conhecer os procedimentos da musicalização infantil, professores especialistas em música, assim como estudantes egressos do próprio Conservatório interessados em conhecer métodos e práticas pedagógicas facilitadores do exercício da profissão”.
A secretária ainda destacou a formação de grupos pedagógicos, assunto já tratado no ano passado, quando do anúncio de fechamento do alojamento do Conservatório.
Ela defendeu que os grupos pedagógicos não são voltados para professores. “Grupo de professor é outra coisa. Eles, inclusive, se associam e montam grupos, como todos fazem. A Osesp faz isso. Todo mundo faz”, apontou.
“A obrigação do Conservatório é formar e ensinar esses meninos a associarem-se em câmaras, para que vendam e aprendam a trabalhar no grupo daquilo que são os protagonistas”, enfatizou.
De acordo com ela, a decisão sobre o fim do alojamento não está afastada, mas adiada. “Obviamente, porque tivemos uma conversa, a qual ainda está em decisão com relação à ambientação desses alunos. No momento, eles vão continuar do jeito que estão”, esclareceu.
Seja como for, outros aspectos podem ser concluídos como também explícitos: os estudantes precisam ter suporte para estudarem e se formarem em Tatuí, seja como músicos, seja como futuros mestres, e, sim, a excelência do Conservatório deve ser sagrada!