Tem mantido um trabalho merecedor de reconhecimento o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí (Condephat), com destaque para o tombamento em nível estadual da histórica Estação Ferroviária do município.
A antiga estação, parte de um complexo ferroviário, foi inaugurada em 1889 como ponta de linha de ramal. Em 1932, ganhou ainda mais importância, quando houve uma reforma e o estabelecimento de uma nova estação, maior que a anterior.
O conjunto é tombado pelo Condephaat do estado desde 2020 como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico, artístico, turístico e ambiental.
Em paralelo, o Condephat e autoridades locais do setor de cultura e turismo – partes de mais de um governo municipal -, há anos, têm atuado para tornar o complexo da estação mais um atrativo em Tatuí, preferencialmente como um novo centro cultural.
Para tanto, é necessário aval do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), cujo representante Arnaldo Bernardo esteve na cidade para avaliar as condições do local, em19 de junho de 2023, justamente com esse propósito.
Por sua vez, em que pese o fato de a atual concessionária da antes gloriosa linha férrea conhecida como Sorocabana não demonstrar interesse na preservação da estação, tampouco no uso dela em favor da cultura e do patrimônio de Tatuí, algumas autoridades, entusiastas e bons sonhadores seguem na tortuosa estrada da busca pela preservação.
Por sua vez, enquanto o trem da história segue resfolegando, ainda passível de deixar alguns bens materiais em seu rico e saudoso caminho, o Condephat conseguiu garantir o embarque na composição de preservação dos patrimônios tatuianos de mais uma de suas preciosidades: a Semana Paulo Setúbal de Tatuí.
Esse que é o maior evento anual da cultura do município, conforme divulgado na semana passada, passou a ser reconhecido como patrimônio cultural e imaterial da cidade. O decreto que instituiu a ação foi promulgado pelo prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior no dia 11 de dezembro de 2023.
O estudo, apresentado pelo presidente do Condephat, Antonio Celso Fiuza Júnior, em centenas de páginas, reúne documentos sobre a vida e a história do “imortal” tatuiano.
Por sua vez, conforme defendeu o diretor do Departamento Municipal de Cultura e gestor do Museu Histórico “Paulo Setúbal”, Rogério Vianna, a semana essencialmente literária significa o “maior bem cultural do município”.
Para Vianna, a Semana Paulo Setúbal ser transformada em patrimônio imaterial ressalta a importância e a valorização da cultura local. “E isso denota que o município tem interesse, tem preocupação em manter as tradições culturais da nossa cidade. Esse é o grande marco para o nosso patrimônio”, argumentou.
“Nós temos um cidadão que está imortalizado na Academia Brasileira de Letras. Temos que ter esse reconhecimento, e isso chegou, no mínimo, 50 anos atrasado”, emendou Fiuza Júnior.
A Semana Paulo Setúbal acontece no período entre os dias 1º e 8 de agosto. No entanto, Vianna conta que, logo após a conclusão dela, a comissão organizadora, junto com a organização do Departamento de Cultura. começa a trabalhar as ações para o ano seguinte.
Vianna reforçou as palavras de Fiuza Júnior ao dizer que o reconhecimento da Semana Paulo Setúbal em âmbito nacional e estadual é “de extrema importância para que a cidade continue dando a real valorização ao escritor ícone para o município e exemplo da arte e da cultura”.
Agora, com o decreto, o Condephat enviará o documento ao estado e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o reconhecimento do evento cultural tatuiano como “patrimônio imaterial de literatura de Tatuí”.
“Esse é um passo importante para o reconhecimento da Semana Paulo Setúbal, a qual terá o documento enviado para ser analisado e reconhecido em esferas estadual e federal”, salientou.
De acordo com a justificativa, o evento fomenta, por meio do Museu “Paulo Setúbal”, o “fazer literário” em três importantes certames. Além disso, mantém a produção literária local, enaltecendo a vida e a obra do escritor, fortalecendo e estimulando o interesse pela leitura e a literatura.
Ainda, promove a produção literária no município com os editais: “Prêmio Literário Paulo Setúbal – Contos, Crônicas e Poesias”, de abrangência nacional, o “Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais”, de abrangência municipal e dedicado exclusivamente à rede de educação; a publicação de livros por edital, também municipal; e o Festival de Arte e Cultura, focado na difusão de projetos de arte e cultura no calendário do Museu “PS”.
A primeira edição da Semana Paulo Setúbal aconteceu em 1943, idealizada por Fernando Guedes de Moraes, Celso Vieira de Camargo e Paulo Sílvio Azevedo, com incentivo sistemático do jornal O Progresso de Tatuí, e se tornou o principal evento de arte, cultura e literatura da cidade.
Em 11 de agosto de 1956, a ação passou a ser promovida pela “Casa de Paulo Setúbal” – em um prédio cedido pelo Banco Sul-Americano do Brasil, atualmente o Banco Itaú, cujo principal acionista era filho do escritor tatuiano Paulo Setúbal – no período de 5 a 11 de agosto. Depois, em 2 de janeiro de 1957, por meio da lei 3.690, o governo do Estado de São Paulo oficializou a Semana Paulo Setúbal. Já no dia 11 de julho de 1958, o decreto 33.092 instituiu dois concursos em dinheiro, com a denominação “Prêmio Literário Paulo Setúbal”.
Desde então, a iniciativa veio a tornar-se parte fundamental da programação cultural anual de Tatuí, dela fazendo parte oficialmente, mantendo como principais ações os certames literários municipal e nacional.
Por todo o histórico de décadas em favor da literatura, da cultura e da própria arte, o reconhecimento da Semana Paulo Setúbal como patrimônio imaterial é mais que justo.
Também por justiça, não obstante, seria oportuno não se deixar à espera na estação do trem da história a efetiva participação do jornal O Progresso de Tatuí nessa jornada em favor da “imortalidade” de Paulo Setúbal no município.
Esta atual administração registra isto com total tranquilidade, sem qualquer poeira de soberba na estação da história, vez que não tem nada a ver com a então família a administrar este jornal, os Ortiz de Camargo, os quais, sim, também merecem um afago de reconhecimento.