Saúde da mulher é discutida na 1ª Conferência de Políticas Públicas

Deputada Juliana Cardoso falou sobre direitos em coletiva de imprensa

Encontro discute políticas públicas à mulher (Foto: Juliana Jardim)
Da reportagem

Na noite de sexta-feira da semana passada, 29 de setembro, um grupo de mulheres se reuniu no plenário da Câmara Municipal para discutir assuntos relacionados à saúde da mulher em Tatuí, na 1ª Conferência Municipal de Políticas Públicas para Mulheres.

No evento, que teve como tema “Saúde da Mulher e a Assistência Social”, os participantes acompanharam deliberações da psicóloga e artista Simone Pavanelli, da interventora da Santa Casa, a médica ginecologista e obstetra Maria Laura Lavorato Matias, da enfermeira e coordenadora do projeto “Promotoras Legais”, Heloísa Borges, e da deputada federal Juliana Cardoso (PT).

Além disso, foram apresentadas novas propostas para as políticas públicas voltadas às mulheres, as quais foram encaminhadas para o Legislativo.

Simone lembrou de uma reunião que antecedera ao encontro, na qual fora deliberado sobre a “saúde psicológica da mulher”. Ela mencionou a figura da mulher como o “pilar da família”, ao relatar que muitas delas entendem que, em razão disso, “acham-se na obrigação de permanecer em um ambiente onde sofrem diversas formas de agressões psicológicas”.

“E essa mulher, que é independente, não se percebe dessa forma e, ainda, acha que tem alguma dependência em relação aos homens”, argumentou.

E essa situação, segundo ela, impacta em diversas situações na saúde mental da mulher. “E temos que observar todas elas: tanto a mulher adolescente quanto a em estado de vulnerabilidade, a preta, a da comunidade LGBT”, elencou.

Ela culpou a “sociedade patriarcal, cultivada há séculos” como responsável pela forma de tratamento da figura feminina. “As mulheres foram perdendo direitos em tudo, e até hoje nós vivemos em uma constante luta”, reforçou.

Simone também apontou a falta de profissionais na rede municipal de saúde como questão a ser discutida. No entanto, também sustentou que, por mais que sejam feitas novas contratações, a rede não possui uma “gestão inteligente para a conexão desses profissionais”.

“Não podemos nem falar em rede, porque ela não se conversa. Levantamos a necessidade de uma equipe de profissionais multidisciplinares para dar conta da saúde mental das mulheres”, reforçou.

Maria Laura abordou o assunto sobre a humanização do parto, dizendo que, independentemente se o procedimento escolhido for o natural ou a cesárea, “a discussão não se refere à forma com a qual ele será conduzido, mas, sim, na assistência que o profissional de saúde prestará à mulher e a atenção que ela irá receber no momento do parto”.

“A ideia é justamente tirar aquela frieza do ambiente hospitalar, aquela sala cirúrgica horrorosa, onde a mulher é obrigada a ficar em uma determinada posição para o parto”, justificou.

Ela também mostrou, por meio de slides, uma proposta de ambiente hospitalar ideal, para que o parto viesse a ser “o mais fisiológico e natural possível para a mulher”.

“Essa é uma proposta que a gente vem discutindo e angariando fundos e apoio, para que possamos montar a sala de parto ‘PPP’, como é chamada aqui, no nosso hospital”, informou.

Ela também antecipou outra proposta, que está sendo discutida com os profissionais de saúde de Tatuí, para a formação de um grupo multidisciplinar para a orientação de gestantes durante o pré-natal.

Heloísa abordou levantamento feito por ela sobre “o pensamento e o sentimento” em relação aos equipamentos públicos. Para isso, explicou, foram entrevistadas 99 pessoas, as quais responderam sobre as questões: “o que seria bom que melhorasse na UBS de seu bairro?”; “gostaria de comentar alguma coisa sobre a maternidade ou a Santa Casa?”; e “na UPA, qual sua sugestão para que ela seja ainda melhor?”.

Na primeira questão, sobre as UBSs, a maioria das pessoas (40) respondeu a “falta médicos”, seguida pela “agilidade em marcar exames e consultas” (39).

Sobre a Santa Casa, segundo o levantamento, 39 pessoas não responderam e 30 delas disseram que o atendimento é “bom”.

A contratação de médicos como forma de diminuir o tempo de espera no pronto atendimento foi apontada por 23 pessoas para que o serviço na unidade fosse melhor, e oito disseram que faltam profissionais qualificados.

Após as deliberações, foram montados grupos para discutir as propostas de políticas públicas voltadas ao bem-estar da mulher.

O primeiro grupo falou sobre a “saúde mental na rede municipal”, com a orientação de Simone Pavanelli. A falta de dados referentes à violência sobre as mulheres foi um dos assuntos abordados pelo grupo, o qual também abordou a melhoria na capacidade de comunicação de equipes médicas do município, principalmente com as mulheres, e, ainda, a capacitação desses profissionais para uma comunicação em rede entre eles.

A comunidade LGBTQIAP+ também foi mencionada pelo grupo, ao manifestar apoio à classificação de gênero da pessoa, a qual teria o direito de escolha de como quer ser chamada.

No grupo dois, o tema discutido foi “equipamentos de saúde”, que teve como relatora a assistente social Luciana Reis. Nele, foi abordado o plano de acompanhamento familiar durante o pré-natal e os direitos de escolha da mulher, em razão da autonomia dela em querer, ou não, ter mais filhos.

Luciana falou do avanço da propositura, ao mencionar que não é mais preciso a autorização do companheiro para que ela possa tomar a decisão de fazer laqueadura, por exemplo.

“É ela que sabe o que vai passar. Inclusive, temos que ver como está a saúde mental dessa mulher, e não apenas as condições que as políticas impõem. É a mulher que tem que saber se tem condições psicológicas de cuidar, criar e educar um filho”, sustentou.

A criação de um programa de formação de direitos às mulheres foi questionada pelo grupo três, o qual abordou o tema “emancipação da mulher”, sob a coordenação de Cildete Saroba. Também falou sobre a capacitação de uma equipe multiplicadora.

Ao final, Cildete questionou o que é “de fato” a emancipação. “O que é emancipação para uma senhora de 68 anos a quem foi negado o Loas, por conta de o marido dela ser aposentado? Para essa mulher, a emancipação está longe”, concluiu.

O programa Loas é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

Coletiva

O presidente da Câmara, Eduardo Dade Sallum (PT), promoveu, na mesma noite, uma coletiva de imprensa com a deputa federal Juliana Cardoso (PT), a qual, antes de participar da conferência, falou da importância de discussões públicas voltadas às mulheres.

Ela falou sobre a falta de espaço feminino no poder de decisão e, ainda, por serem vistas por uma parte da sociedade “como objeto e pessoas que não podem ocupar espaços”. “Cada tempo que conseguimos avançar e dialogar sobre políticas públicas voltadas para as mulheres já é um avanço”, afirmou.

Ele argumentou que a mulher terá de “trabalhar muito” para conseguir o direito de igualdade perante os homens, em razão de uma “imposição de séculos’.

Também sustentou que os debates sobre esses direitos terão de ser constantes, para que as políticas públicas possam desenvolver projetos que dialoguem sobre a saúde, o mercado de trabalho e desenvolvam iniciativas contra a elevação de assédio.

“A gente tem uma legislação que reforça a igualdade salarial e políticas públicas voltadas às mulheres, para que possamos ocupar cada vez mais espaços”, emendou.

De raiz indígena, Juliana reforçou que os abusos contra a mulher são históricos, dizendo que a exploração teve início com a chegada dos portugueses no Brasil. “E, em seguida, tivemos a exploração de escravos, que também foram retirados de seus países para serem explorados”, concluiu.