Da reportagem
A Fábrica São Martinho poderá ser reconhecida como patrimônio histórico nacional. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) deu início aos estudos para o processo de tombamento da unidade fabril.
Os primeiros estudos foram realizados no sábado, 9, quando a coordenadora de educação patrimonial do Iphan, Sônia Rampim, esteve em Tatuí para visitar o espaço.
Ela esteve acompanhada por uma comissão do Iphan, além do secretário do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli, e do vereador Eduardo Dade Sallum (PT).
Conforme o secretário, durante a visita, a coordenadora e os técnicos avaliaram o edifício principal da fábrica, a casa da família proprietária (Casarão dos Guedes) e o antigo conjunto de moradias dos trabalhadores.
“Eles fizeram novas fotos, e a comissão ainda deve fazer um estudo histórico com memórias do local, envolvendo entrevistas e um levantamento aprofundado dos bens materiais e culturais existentes no local”, informou Sinisgalli.
O requerimento para o tombamento na esfera nacional foi apresentado pelo município, por meio do Condephat (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí), buscando “reforçar” a preservação do espaço.
O complexo já é tombado pelo estado desde dezembro de 2007, por meio do processo 31.877/94, do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do estado de São Paulo.
“A ideia é reforçar a preservação da unidade fabril. Ela faz arte da identidade do município, foi uma das primeiras fábricas têxteis do país e trouxe evolução para a cidade com novas usinas,entre outros investimentos que geraram emprego e renda”, comentou o secretário.
A Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho, foi inaugurada em 1881, tendo como fundador Manoel Guedes Pinto de Mello, em sociedade com a mãe, Maria Alves de Lima, e o irmão, João Guedes.
A fábrica, instalada à rua Coronel Aureliano de Camargo, na área central da cidade, é pioneira entre as indústrias têxteis no estado de São Paulo e ganhou destaque nacional na fabricação de tecidos, cuja manufatura incluía cobertores e toalhas.
O conjunto fabril soma 10 mil metros quadrados. O complexo era composto por fábrica, casarão de morada dos antigos proprietários (atualmente pertencente a um empresário), 25 casas para moradia dos operários, armazém e farmácia, além de quadra e área livre.
Para Sinisgalli, a aprovação do tombamento na instância nacional é quase certa, devido ao “valor histórico” do complexo fabril para o município e para o país. Ele elencou a coordenadora do Iphan como aliada no processo.
“Ela é tatuiana, conhece a história da fábrica e tem memórias ligadas ao espaço, assim como a maioria dos cidadãos que aqui residem ou residiram. Nós tivemos sorte de ter a Sônia nos auxiliando no processo, pois o local também tem relevância para ela”, observou o secretário.
Ele classificou o tombamento nacional como um “importante meio” para a preservação e “salvaguarda” do edifício principal da indústria têxtil, do Casarão dos Guedes e das casas construídas para abrigar os operários.
“Já temos a preservação assegurada pelo conselho estadual e fiscalizada pelo municipal, mas o tombamento pelo Iphan trará reconhecimento, valorização e uma segurança ainda maior para a história do complexo”, completou.
Sobre a situação dos prédios, cobrada por parlamentares na Câmara Municipal, e uma possível restauração do espaço, o secretário apontou ter feito fiscalizações, por meio do Condephat, e “limitações”, devido ao fato de o complexo ser de propriedade particular.
“Nós recebemos algumas cobranças de restauro, mas o complexo é um patrimônio particular, não é público. Então, mesmo que a prefeitura tivesse recursos, não poderia investir dinheiro público em um espaço particular”, explicou o secretário.
“Poderíamos até pensar em uma parceria que possibilitasse a restauração, mas, agora, estamos pensando apenas em resguardar o espaço, fazendo tudo o que está ao nosso alcance”, completou.
Sinisgalli apontou que, como o espaço é patrimônio do estado, o conselho municipal auxilia na preservação, e, em 2020, já encaminhou um relatório contendo documentação da Defesa Civil ao conselho estadual, informando a real situação do complexo e solicitando uma vistoria.
O conselho estadual de patrimônio emitiu documento notificando o proprietário do imóvel para que faça adequações com o intuito de o bem patrimonial não vir a perder as características.
“Mesmo não tendo verba para a restauração e o espaço não sendo um patrimônio público, estamos cobrando dos proprietários que eles façam as manutenções necessárias para preservar a estrutura do local”, concluiu o secretário.
De acordo com o Iphan, a visita faz parte da primeira etapa, dando início ao estudo para o processo de tombamento. O tombamento oficial se inicia quando o proprietário do espaço é notificado pelo órgão.
A notificação é considerada como tombamento provisório, com efeito de definitivo, até a finalização do processo, concluído com a inscrição do bem em um dos Livros do Tombo do Iphan. Da mesma maneira, ainda deve constar em livro de registro de imóveis e averbados.