Parlamentar reivindica ações para a preservação da Fábrica S. Martinho

Vereador Rodnei Rocha deu declarações em “tom de despedida” da Câmara Municipal (foto: Eduardo Domingues)
Da reportagem

A Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho foi assunto na sessão ordinária, na noite de segunda-feira, 14, da Câmara Municipal. Nela, o vereador Eduardo Dade Sallum (PT) cobrou ações para a preservação do local.

Pelos requerimentos 1.595 e 1.596/20, o parlamentar pede que a prefeitura e o Condephat (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí) informem quais providências estão sendo tomadas sobre “a situação de abandono da Fábrica São Martinho, Casarão dos Guedes, ‘casinhas operárias’ e o Bangalô dos Guedes”.

Para Sallum, “a Fábrica São Martinho conta sobre a memória e uma época de ouro da cidade, além de simbolizar a identidade e a cultura do povo, que, em determinado momento, representava mais do que a metade da população de São Paulo (capital)”.

Conforme o vereador, Tatuí e a Fábrica São Martinho foram responsáveis pelo desenvolvimento da região. Como exemplo, lembrou da Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Ponte, em Sorocaba, considerada uma filial da fábrica tatuiana.

Construída em 1881, no local onde está situado o atual Pátio Cianê, a Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Ponte permitiu que Sorocaba passasse a ser conhecida como a “Manchester Paulista” – em alusão à cidade inglesa famosa por indústrias de tecelagem.

De acordo com Sallum, atualmente, ele vê a “carcaça de uma fábrica com dívidas”. Segundo o vereador, há cerca de três anos, a dívida era de R$ 1 milhão somente com a prefeitura.

“Ou paga, à vista, a dívida do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) ou vamos pegar para o poder público, fazendo um espaço cultural ou dando concessão, abrindo um lugar para gerar empregos. Aquilo tem de voltar para as mãos do nosso povo”, completou Sallum.

O parlamentar afirmou que “o local é o principal patrimônio da primeira metade do século 20 da região, quiçá do estado de São Paulo”. Segundo Sallum, como Tatuí já é MIT (município de interesse turístico) e pleiteia tornar-se estância, deve explorar o local turisticamente.

“É um complexo que conta a história de Tatuí e tem de ser explorado do ponto de vista econômico do turismo. Como Tatuí merece ser uma estância turística, sendo que o principal patrimônio histórico da cidade está deteriorando?”, questionou.

Sallum ainda relembrou o trabalho realizado entre o vereador Rodnei Rocha (PSL) e a prefeitura, junto à Promotoria de Justiça, pelo qual fora conquistada a verba de R$ 1,4 milhão destinado à construção de um prédio para abrigar a Ceat (Clínica-Escola para Autistas de Tatuí), destinada a atender pessoas com TEA (transtorno do espectro autista) e outras síndromes

“Com o esforço dele, a prefeitura conseguiu intervir junto à Promotoria. Nós precisamos de ações como essa para a Fábrica São Martinho, para que ela possa ser geradora de empregos e seguir carregando a memória do nosso povo”, apontou.

À reportagem de O Progresso, o presidente do Condephat, Rogério Vianna, lembrou que o local já é tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado), órgão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do governo de São Paulo, sendo que o conselho municipal auxilia na preservação.

“O papel do Condephat, além de tombar os patrimônios culturais da cidade, também é o de preservar aquilo que já é tombado pelo estado”, reforçou.

Vianna afirmou que, neste ano, o conselho municipal já encaminhou um relatório contendo documentação da Defesa Civil ao conselho estadual, informando a real situação do complexo e solicitando uma vistoria.

Conforme Vianna, o conselho estadual emitiu documento notificando o proprietário do imóvel para que faça adequações com o intuito de o bem patrimonial não vir a perder as características.

“Esses foram alguns dos passos dados pelo conselho neste ano, justamente para tentar salvaguardar e transformar aquele espaço em um local para todos, para que nós não percamos esse bem cultural”, completou o presidente do Condephat.

Votações

Em tom de despedida, Rocha protocolou três moções, endereçadas à prefeita Maria José Vieira de Camargo, ao presidente e ao diretor administrativo da Câmara Municipal, Antonio Marcos de Abreu (PSDB) e Adilson Fernando dos Santos, respectivamente.

O vereador – que não pleiteou a reeleição ao Poder Legislativo – agradeceu as ações realizadas ao longo do mandato em prol das pessoas com deficiência. A filha de Rocha, de 26 anos, tem paralisia cerebral e ele diz “jamais ter visto todo esse trabalho realizado em favor das pessoas com deficiência”.

Durante a sessão ordinária, os parlamentares discutiram, apreciaram e aprovaram 36 matérias, sendo 6 indicações, 22 requerimentos e 8 moções de aplausos e congratulações.

Na sequência, em sessão extraordinária, ainda acataram dois projetos de lei e seis projetos de decretos legislativos, outorgando títulos de cidadania.

Entre os PLs, aprovaram o documento 42/20, de autoria de Abreu, que altera a redação da lei municipal 4.677, de 14 de novembro de 2012, a qual dispõe sobre denominação de vias, logradouros e edifícios público sem Tatuí.

Na prática, a proposta permite que pessoas, datas ou fatos históricos que já tenham dado nome a alguma rua, logradouro ou edifícios públicos possam ser novamente homenageados, denominando novos locais.

O PL 57/20, apresentado por Alexandre de Jesus Bossolan (PSDB), pretende criar a campanha “Paciente Cidadão”, para a “conscientização dos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) sobre a importância de comunicar, imediatamente, a impossibilidade de comparecer a consultas médicas”.

Conforme a justificativa do PL, quando o paciente não comparece a uma consulta agendada, ele prejudica outros que estão aguardando para receber atendimento médico, além de gerarem desperdício de recursos e provocarem demora na marcação de consultas.

A partir da aprovação em plenário, os PLs são encaminhados para avaliação do Executivo. Posteriormente, a prefeita Maria José pode sancioná-los, ou não, com possibilidade de vetos ou inclusões de artigos, além de determinar data para que os projetos então tornados leis passem a ter vigência no município.