Santa Casa aposta em equipe para ‘melhorar’





Incentivar funcionários a apresentarem projetos que resultem em economia. Esta é a nova proposta da comissão provisória da provedoria que administra a Santa Casa de Misericórdia, anunciada na tarde de quinta-feira, 7, a O Progresso.

Em pouco mais de um mês de trabalho, Fernanda Rodrigues Laranjeira, que integra a comissão responsável pela gestão do hospital, anunciou metas. A primeira delas deve gerar economia de R$ 45 mil por mês.

A proposta é a primeira de várias que a comissão pretende colocar em prática. O objetivo do comitê – integrado, ainda, por Vera Lúcia das Dores, Alexandre Novais do Carmo e João Carlos Costa – é “sair do vermelho”. A comissão foi instituída em abril, com a renúncia coletiva da provedoria anterior.

“O estatuto da Santa Casa estabelece que, nesse caso, é preciso eleger uma comissão provisória com quatro membros e sem hierarquia entre eles”, explicou Fernanda. O grupo administrará o hospital até que haja eleição.

Desde maio, Fernanda disse que a equipe passou a dialogar com os funcionários. “Nós promovemos mudanças e, para isso, estamos contando com o próprio pessoal. Eles estão nos apresentando ideias e trazendo o que eles imaginavam como melhorias para que possamos implantá-las”, descreveu.

A prática tem relação com a saúde financeira do hospital. Fernanda informou que, até o momento, o quadro ainda é deficitário. “Infelizmente, temos problemas, e as pessoas não conseguem compreender bem quando falamos isso”, disse.

De acordo com ela, há um erro de interpretação com relação aos valores que o hospital recebe de repasses da Prefeitura. Fernanda afirmou que a entidade mantém três contratos de prestação de serviços com o Executivo.

Sendo assim, os valores enviados ao hospital pelo trabalho só podem ser aplicados para custos dos contratos. “Não podemos usar valores para melhorias do hospital, sob pena de responder por crime de responsabilidade”, apontou.

Em paralelo ao trabalho de buscar receita própria, a comissão está apostando em novos projetos. São propostas apresentadas pelos próprios funcionários e que estão “quase prontas”. As ideias serão “apresentadas à sociedade” nos próximos dias. A primeira delas será colocada em prática no mês que vem.

Trata-se da implantação de farmácias satélites (descentralizadas e que atendem a um setor em específico). “O maior custo do hospital é a farmácia”, declarou a farmacêutica responsável da Santa Casa, Andressa Marinheiro do Canto e Silva.

Para reduzir o custo, o hospital vai retomar o funcionamento desse modelo de descentralização. A operação está em fase de implantação e deve diminuir o uso dos medicamentos (em quantidades), padronizá-los e gerar economia.

Para iniciar o trabalho, Fernanda contou que a comissão optou por remédios “de melhor qualidade”. “Eles podem parecer um pouco mais caros, mas vão reduzir o nosso custo com medicamentos e outros gastos”, argumentou.

Conforme a farmacêutica, a troca de remédios fará com que pacientes fiquem menos dias em internação. Em geral, pessoas que permaneceriam por 15 dias, poderiam ficar somente sete. A explicação é que os medicamentos antes usados eram similares, não tendo a mesma eficiência de genéricos.

Para a Santa Casa, usando como base o exemplo anterior – da redução do tempo de internação de 15 para sete dias –, o custo poderia cair para até R$ 2.800. Isso porque, em média, um paciente custa R$ 400 por dia de internação. O valor varia conforme o tipo de tratamento e o de complicação de saúde.

“O número de dias aumenta o custo para o hospital, porque o SUS (Sistema Único de Saúde) repassa uma verba única, independentemente dos dias de internação”, argumentou a farmacêutica. Andressa disse que, para evitar esse tipo de situação, a equipe padronizou os antibióticos para genéricos.

Aceito pelos médicos do hospital, o projeto de implantação de farmácias satélites representa um modelo a ser replicado pela administração da Santa Casa. Fernanda disse que a proposta prevê unidades descentralizadas em três setores.

O primeiro a ser beneficiado será o centro cirúrgico. O plano é levar a iniciativa para o Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto” e para o centro obstétrico.

A proposta só esbarra em uma questão: para tanto, a Santa Casa precisará contratar novos profissionais. Seria necessário pelo menos um por unidade descentralizada.

Atualmente, os profissionais do centro cirúrgico dirigem-se a uma sala para pegar os medicamentos e os itens a serem utilizados. Em agosto, deverão se reportar a um funcionário responsável pela entrada e saída.

Ele fará as anotações dos materiais a serem retirados pelos profissionais. Segundo informou Andressa, o hospital deverá registrar economia de R$ 15 mil por unidade de farmácia satélite. O modelo chegou a ser implantado anteriormente, sendo interrompido por conta de mudança no comando da Santa Casa.

Na época, o entrave foi a contratação de novos profissionais. Neste ano, o funcionário que vai trabalhar na nova farmácia deve custar, aproximadamente, R$ 4.000. Entretanto, o balanço seria positivo, uma vez que a Santa Casa deixaria de gastar R$ 11 mil (R$ 15 mil descontado o salário do novo funcionário).

O servidor atuaria na elaboração dos kits já aprovados pelos médicos. A equipe fez a montagem dos itens que estão padronizados por procedimentos (cirurgias de hérnia, de vesícula, entre outras).

“Um dia antes das cirurgias, a equipe envia uma lista com os procedimentos que vão ser realizados no dia seguinte. O funcionário vai montar o kit por nome de paciente, e nós conseguiremos ter devolução”, disse Andressa.

Para Fernanda, a medida não vingou, anteriormente, por “uma falta de vontade”. “Não por parte da farmacêutica responsável, mas da administração em, de repente, enxergar que a ideia do funcionário, que está com a mão na massa, é melhor que a de alguém que vem de fora”, considerou.

Nos dois meses em que funcionou no PS, a Santa Casa registrou economia de R$ 14 mil. Para a integrante da comissão, a redução ocorreu devido à organização, que despertou, nos funcionários, um “espírito de colaboração”. Tanto que a administração atual vai aumentar a participação dos trabalhadores na gestão.

Por mês, a Santa Casa gasta R$ 200 mil na compra de materiais hospitalares e medicamentos, incluindo a Maternidade “Maria Odete de Campos”. No ano, o valor pode chegar a R$ 2,8 milhões. No período de 12 meses, a economia gerada a partir de três farmácias satélites poderia ser de R$ 540 mil.

Em “outra frente de trabalho”, mas também por iniciativa da funcionária, a Santa Casa passou a oferecer kits às mães que têm filhos na maternidade. Andressa estabeleceu parceria com a Mantecorp Indústria Farmacêutica, que vale pelo período de um ano e teve início no mês passado.

“Conversei com a coordenadora geral da empresa porque queria desenvolver algo dentro do hospital. Consegui deles a doação de 200 kits por mês, que vão atender a nossa média de 170 a 180 partos”, contou.

Os kits contêm vitamina D, um medicamento produzido pela empresa e paracetamol. Os remédios são considerados essenciais e obrigatórios na saída da maternidade.

“Quando as mães têm alta, a primeira coisa que têm de fazer é passar na farmácia para comprar os três remédios. Essa foi a maneira que encontramos de ajudá-las nesse momento importante”, disse Andressa.

Mais projetos nesses mesmos moldes deverão ser incentivados pela provedoria. Fabiana antecipou que a ideia da farmácia satélite começou em função do posicionamento de Andressa. “Ela foi a primeira a nos procurar, mas outros funcionários já conversaram conosco, e estamos ouvindo”, finalizou.