Baseado em Tatuí e atendendo aos mercados nacional e internacional, o Grupo Rontan está negociando a venda de suas unidades de produção com novos investidores. É o que informou a O Progresso o presidente do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), Ronaldo José da Mota.
De acordo com ele, os proprietários voltaram a conversar sobre o assunto após desistirem de fechar negócio com a GDSI (Global Digital Solutions Inc.). “Tivemos uma reunião com o pessoal da empresa ontem (terça-feira, 26 de abril), à tarde, e eles nos disseram que estão negociando”, antecipou o sindicalista.
No entanto, Mota informou não poder antecipar quem seriam os futuros compradores. O sindicalista explicou que acompanha de perto a negociação, uma vez que a unidade de Tatuí teve rotina afetada por conta da crise financeira nacional e conta com 600 trabalhadores (representados pela entidade).
A Rontan é a principal fornecedora de serviços (veículos adaptados, na maioria) para o governo federal. Com a alta dos juros e a redução na arrecadação, a União cortou despesas, o que afetou diretamente a produtividade do grupo. Em Tatuí, a queda na produção resultou em atrasos de pagamentos.
O mais recente deles gerou greve de três dias. A paralisação, discutida em assembleia, começou na quarta-feira, 27 de abril, sendo encerrada na sexta-feira, 29. As datas foram definidas pelos funcionários, após reunião mediada pelo sindicato e comunicadas à gerência, acompanhadas pelos motivos.
Mota explicou que a entidade classista precisa avisar a empresa para que ela tenha prazo para sanar eventuais dívidas ou pagar os vencimentos que estejam em atraso. Quando esse período expira e os débitos não são quitados, o sindicato convoca assembleia, na qual é votada e definida a paralisação.
Essa foi a segunda vez que os trabalhadores cruzaram os braços por curto período de tempo neste ano. Em março, os funcionários deixaram de trabalhar entre os dias 8 e 10, alegando falta de pagamento do salário de fevereiro.
Na ocasião, o sindicato ingressou com pedido de greve no TRT (Tribunal Regional do Trabalho). A entidade solicitou autorização para realizar “greve não abusiva e respeitando todos os direitos e deveres previstos na Constituição”.
Segundo o sindicalista, mesmo retornando aos postos, os funcionários podem deliberar por nova paralisação com base na pauta da assembleia de março. Mota explicou que a convenção continua valendo no caso de “reincidência”.
Como em março a Rontan fez o pagamento de fevereiro, os trabalhadores voltaram às atividades. Em abril, porém, a empresa teria atrasado o pagamento do vale referente a março. Ele deveria ser depositado em conta no dia 20.
Mota afirmou que a entidade esperou sete dias para deflagrar paralisação. “Nós aguardamos por causa do feriado, mas conversamos com a empresa, que se comprometeu a pagar no dia 29”, disse. O pagamento deve ser compensado nesta segunda-feira, 2. Do contrário, o sindicato convocará nova assembleia.
A expectativa da entidade é de haver regularização com uma possível venda. O grupo entrou em nova negociação depois de desistir de concluir o processo com investidores norte-americanos.
Conforme o sindicalista, os compradores teriam feito uso de “especulação financeira industrial” e, ao longo dos meses, solicitaram a redução do valor inicial combinado com os proprietários.
“Essa empresa (a GDSI) soltou, há um tempo, uma nota sobre a compra da Rontan, mas fez isso para a ação da bolsa em Nova Iorque estourar”, afirmou.
A companhia estrangeira divulgou a assinatura de termo de intenção de compra e venda com o Grupo Rontan no fim do ano passado. Na ocasião, Mota disse que o sindicato não confirmou a pauta por “não haver nada concreto”.
O documento previa que a finalização da compra e venda seria feita em março deste ano. Em abril, como o negócio não foi concretizado, o sindicalista informou que os norte-americanos preferiram soltar uma nota sobre o término das negociações.
“Toda vez que negociavam, eles iam pechinchando, até que chegou uma hora que a Rontan não quis mais e rompeu o contrato”, afirmou o sindicalista.
A GDSI (Global Digital Solutions Inc.) encaminhou comunicado a O Progresso informando que acionara a Comissão de Segurança e Câmbio (Securities and Exchange Commission), dos Estados Unidos, para fazer valer o contrato de compra e venda (SPSA – Share Purchase and Sale Agreement). A empresa quer manter o termo.
O documento havia sido assinado em outubro do ano passado, entre o presidente da GDSI, Richard J. Sullivan, e os proprietários do Grupo Rontan, os empresários João Alberto Bolzan e José Carlos Bolzan. Naquele mesmo mês, a companhia norte-americana divulgou a informação para a imprensa internacional.
A GDSI declarou que pretende evitar a rescisão do contrato com a Rontan. De acordo com os representantes da empresa, os sócios-proprietários do grupo notificaram os investidores que tinham a intenção de encerrar o contrato de compra e venda.
A informação consta no comunicado enviado ao bissemanário. No mês passado, a reportagem tentou contato com representantes do grupo em Tatuí. A intenção era confirmar a notícia extraoficial de que o processo de venda das empresas que integram o grupo havia sido concluído com a GDSI.
No dia 11 de abril, a empresa norte-americana enviou e-mail à reportagem, citando que a negociação não havia sido concretizada.
A empresa enfatizou, ainda, que “acredita que os vendedores não têm o direito de rescindir o SPSA (o contrato de compra e venda)”. Também reforçou que o aviso de cancelamento “não é permitido sob os termos do contrato”.
No documento que teria sido enviado para as autoridades norte-americanas que regulamentam negócios, a GDSI afirmou que a empresa acredita que o contrato tenha sido dado como satisfeito. De outra forma, citou que “os vendedores poderiam ter renunciado à condição para o fechamento do contrato”.
Os investidores norte-americanos enfatizaram, também, que, no dia 1º de abril, informaram os vendedores sobre a intenção de concluir o contrato. Na mesma ocasião, exigiram a entrega dos títulos de propriedade da Rontan.
A GDSI comunicou que envolveu advogados brasileiros e norte-americanos para “fazer valer os direitos e aplicar os remédios jurídicos” no sentido de garantir a conclusão do contrato.
Os investidores afirmaram, também, que vão fazer uso da legislação aplicável, por meio de medida cautelar. As ações devem incluir, “mas não limitar”, reembolso de despesas e eventuais danos.
No entendimento de representantes da GDSI, a decisão dos sócios-proprietários, de desistir da venda, “afeta a empresa Rontan como um todo e os trabalhadores de Tatuí”.
Em 2015, por conta de contenção de gastos em função da queda da produção, a Rontan precisou demitir boa parte dos funcionários. Com outros, fechou acordos, segundo informou o Sindmetal.
Fundada em 1970, a Rontan atua no ramo de desenvolvimento, manufatura e produção de equipamentos de sistemas de alarmes especificamente para organizações públicas.
A empresa exporta produtos para muitos dos mais competitivos mercados mundiais, incluindo Estados Unidos, Canadá, Américas Central e do Sul, Europa, Ásia, Austrália, Oriente Médio e África.
Conforme dados divulgados pela GDSI, por ocasião do anúncio da aquisição, a Rontan é considerada a maior empresa especializada em veículos equipados com instrumentos de sinalização visual e sonora da América Latina. Ela contabiliza, em média, a customização de 5.000 veículos por mês.
O ramo de atuação inclui manufatura em veículos pesados e para o Corpo de Bombeiros, instalação e distribuição de rádios de comunicação e de sistema de comunicação para forças policiais no Brasil, com equipamentos da Motorola.
A planta de Tatuí tem 600 mil metros quadrados, com cem mil metros quadrados de área construída. A maioria da produção atende ao mercado nacional, mas também abrange o internacional, sendo dividida nas categorias: adaptação de produção para veículos, caminhões, ambulâncias, veículos de resgate, de atendimento dentário, de patrulhamento e motocicletas.
A empresa tem plantas em Betim, no Estado de Minas Gerais, e escritórios em São Paulo, Brasília e Recife. O grupo é composto, também, pela Rontan North America, localizada em Miami, onde produz sinalizações para o mercado estrangeiro.
A notícia da intenção de rescisão do contrato movimentou o mercado norte-americano. Também afetou a cotação das ações da GDSI na Bolsa de Valores, uma vez que a Rontan seria a segunda empresa a desistir de fechar negócios com os investidores estrangeiros. A GDSI também não conseguiu efetivar a aquisição da Remington Outdoor Company, conforme previsto para o ano de 2014.
O preço anunciado pela GDSI para a compra era de U$S 1,082 bilhão, com estimativa de vendas anual de U$S 1,25 bilhão. Os dados constavam no documento chamado “8k”.
Trata-se de um relatório das ocorrências materiais não programadas ou alterações societárias em uma empresa que poderiam ser de importância para os acionistas ou para a Comissão de Segurança e Câmbio.
Com o anúncio da intenção de compra da Rontan, os norte-americanos registraram alta na Bolsa de Valores. Entretanto, a transação não foi finalizada. Ela estabelecia o pagamento em duas partes, sendo uma ao longo de 48 parcelas mensais, em dinheiro, e a outra em ações a serem emitidas.