Rolezinhos





Entre inúmeras performances e manifestações em espaços públicos, envolvendo jovens particularmente, muitas são francamente bem-vindas, necessárias, até. Existem diferenças, contudo.

O bem dá lugar ao mal, naturalmente, quando, ao invés da arte, há agressões; quando, no lugar de reivindicações e protestos justos, há vandalismo.

A arte pode ser vista, por exemplo, nas performances-relâmpago – os chamados “flash mobs” -, em que um grande número de pessoas se reúne em determinado horário e local público para a coreografia de uma música.

Encerrada a apresentação, que é registrada em vídeo e não põe abaixo nada em termos de patrimônio público ou privado, cada um vai embora – certamente, todos satisfeitos por terem realizado uma intervenção urbana tão inesperada quanto apreciada. Arte!

Também há outras intervenções, como a “tradicional” efetivada por alunos da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), no shopping Eldorado, zona oeste de São Paulo.

A ação consiste num trote nos calouros, levados ao shopping, onde os estudantes cantam, gritam bobagens inofensivas e tomam conta de boa parte da praça de alimentação. Isto há muitos anos, sem problemas.

O máximo de distúrbio causado pelos universitários é a elevação por sobre as mesas da praça, utilizadas como palco a performances, cuja consequência não passa da necessidade de um empenho maior por parte do pessoal da limpeza, posteriormente.

Outra consequência é que, após gastarem bastante energia, os estudantes gastam outro tanto – então, de dinheiro – no próprio local, amainando seus estômagos ronronantes e beneficiando os empresários da alimentação.

Não há mal nisto. A diferença com relação aos chamados “rolezinhos” acontece pela forma mais ostensiva com que estes ocorrem, aparentemente inspirados pela maresia calorosa dos arrastões litorâneos.

Uma situação é performática, inusitada, divertida; a outra, temerosa – ao menos do ponto de vista de pessoas idosas e crianças, forçadas e se abrigarem dentro das lojas por medo de serem atropeladas.

Não obstante, o aspecto que mais incomoda – salvo a possibilidade real da infiltração de “black blocs” nos rolezinhos – é a tentativa patética de transfigurar uma farra desorganizada em movimento político em protesto aos “templos do consumo”.

Mais uma vez, como no caso das manifestações de 2013, os mesmos oportunistas aparecem com discursos de que a classe oprimida se faz ouvir em espaços privilegiados, onde os coitadinhos não são bem recebidos – senão discriminados.

Pelo tamanho da bobagem, é possível concluir que essa politicada demagoga – essa, sim – não pisa em shopping… E, certamente, não por se sentir inferiorizada, discriminada para tanto. O que mais se vê em shopping é fauna humana: branca, negra, amarela, vermelha; jovem, velha; pobre e, até, rica…

Querer politizar um movimento sem causa – mais um – é mero oportunismo, retórica barata com propósitos eleitorais. Graças ao tanto de barulho causado pelos jovens recentemente, é unânime que eles serão determinantes nas próximas eleições, daí todo esse enfadonho burburinho bajulador de que são os novos arautos da justiça social.

Em simultâneo, esses mesmos oportunistas – que não têm, nitidamente, qualquer desapego ao capital, muito pelo contrário – instigam a imagem de “templo do consumo” e do lucro maldito. Afinal, qual o problema de o empresário auferir lucro com o negócio dele, desde que o faça honestamente?

Ora, enquanto um pessoal se diverte fazendo barulho e outro usa o tempo para maquinar estratégias eleitorais, os empresários dos shoppings estão trabalhando e gerando emprego – inclusive, para inúmeros jovens que, com o salário, ajudam em casa e pagam seus estudos.

No final das contas, essa tal justiça social seria mais tangível por meio de trabalho e estudo, ou com discursos hipócritas e gritaria?

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