Quem acompanhou a política paulista nas décadas de 60 a 90 do século passado certamente conheceu pessoalmente ou ouviu falar de José Felício Castellano – o querido e respeitado Gijo, ilustre filho de Rio Claro e “cidadão honorário” de dezenas e dezenas de cidades paulistas, inclusive a capital.
Foram merecidas homenagens prestadas pelas Câmaras Municipais em reconhecimento ao trabalho de Gijo como deputado e primeiro secretário de promoção social. No exercício de suas funções levou a todos os rincões de nosso estado os frutos de sua atividade sempre inspirada nos princípios do bem comum e da justiça social, da promoção humana e da decência na vida pública.
Por isso, Gijo nunca perdeu uma eleição. Foi deputado estadual enquanto quis até que chegou a hora de voltar ao Sesi, de onde saíra mocinho, para “servir” à política com a grandeza do seu caráter e a majestade de seus sonhos e projetos sociais.
Agora nonagenário, vivendo no aconchego familiar e suportando os encargos da idade com a ternura de sua formação cristã, Gijo resolveu atender a antigo e persistente apelo de seus amigos mais próximos: publicar em livro suas impressões, observações, emoções e espantos, recolhidos ao longo de sua prodigiosa e encantadora atuação no palco da vida pública.
O livro chegou agora e recebeu, na pia batismal, o nome que, por si só, nos arrasta ao mundo das indagações filosóficas, poéticas e musicais – o grande espetáculo da vida!
Li, há muito tempo, os “100 Pensamentos de Pascal” e não esperava que Gijo, aqui tão perto de nós e longe do pensador francês, um dia fosse nos brindar com seus pensamentos de alcance universal carregados de poesia e filosofia, música e humanismo, amor e solidariedade, ternura e otimismo.
Que pena este livro estar fora do mercado! Via de regra quando um político na idade provecta dispõe-se a publicar sua memória, chama um jornalista (ou mesmo um escritor) e então derrama seus delírios autobiográficos, muitas vezes tisnados com decepções, mágoas, frustrações e até acusações…
Gijo não exercita sua memória para proclamar “feitos” e “obras”, vitórias ou derrotas em suas atividades como político ou administrador. Ele vai além, muito além. E nos comove e nos ensina com seus pensamentos assim: … e, se faltar o vento, use o remo, porque o remo leva o barco e não fere a água (pág. 6), O verdadeiro professor é aquele que ensina o amor (pág. 14), Dar aula é uma coisa, ensinar é outra (pág. 15), Só os poetas e a juventude mantêm o som e as cores da infância (pág. 22), Não há fragilidade que a fé e a esperança não vençam (pág. 26), Ensinar é a melhor maneira de se amar a Deus (pág. 27), Saber ouvir é o primeiro passo para o diálogo e a amizade (pág. 33), As ruas têm calçadas de luar (pág. 42), O tempo é o professor que ensina o que sabemos da vida (pág. 52), Mais que falar, é preciso dar testemunho de nosso ideal (pág. 64).
Enfim, 99 páginas a embelezarem com seu conteúdo esse pequeno grande livro, “Retalhos da Vida”, verdadeira enciclopédia de sensibilidade de quem fez da política um sacerdócio de civismo, fé e esperança.
A capa do livro mostra um belo (e premiado) quadro de Maíse, esposa de Gijo, o que me leva a concluir que o feliz casal uniu-se pelos laços do amor e da arte. Ele, artista do pensamento; ela, artista das cores, sombras e luzes derramadas sobre suas telas como expressão de seu talento.
Maíse e Gijo, emocionei-me com a leitura de “Retalhos da Vida”. E foi uma emoção profunda.