Regulamento do Estadual de Futebol barra time heroico de Tatuí

Tatuí faz jogo de superação e derrota o Américo por 1 a 0 (crédito: Divulgação)

 

“Os campeões estão indo embora”, é a frase que se ouviu nas arquibancadas após o jogo entre Tatuí e Américo Brasiliense, no dia 13 de dezembro, em Poá, pela categoria sub-11 do 46º Campeonato Estadual de Futebol.

O time de Tatuí acabara de obter um resultado heroico, vencendo por 1 a 0 com apenas oito jogadores em campo, incluindo um goleiro improvisado na função. Contudo, em vez de comemorar, os meninos tatuianos estavam indo embora de Poá sem conseguir a vaga para as semifinais do torneio.

Uma grande injustiça, na avaliação do técnico de Tatuí, Diego Barros. “Nós tivemos a melhor campanha entre todos os times que jogaram aquela fase do campeonato, com duas vitórias em um empate e, mesmo assim, acabamos eliminados”, lamenta.

Os motivos da eliminação do time de Tatuí estão fora do campo. Meses antes, um dos atletas jogou o Campeonato Paulista sub-11 pela Ponte Preta, de Campinas. Algo vedado pelo regulamento do Campeonato Estadual.

“Esse menino está há três anos com a gente. No início do ano nós fomos jogar em Campinas e o pessoal da Ponte gostou dele. Ele acabou indo jogar lá, só que o regulamento do Estadual não permitia que menino federado por outra cidade jogasse por Tatuí”, explica o treinador.

Apesar do vínculo com a Ponte Preta, o menino continuou morando em Tatuí, indo a Campinas em todos os dias de treinos ou jogos. Bugre sustenta que, pelo fato de o jogador morar em Tatuí, ele mantém o vínculo com a cidade.

 

Outros dois jogadores de Tatuí foram denunciados porque haviam jogado futsal por um time de Capão Bonito. “Antes de começar eu consultei a inspetoria e eles me garantiram que não haveria problema”, alega o técnico.

A representação contra os três jogadores partiu do time de Santa Cruz do Rio Pardo, adversário de Tatuí no primeiro jogo da segunda fase e cujo placar ficou em 1 a 1.

Duas vitórias heroicas e um

alerta do treinador tatuiano

Com a representação após o primeiro jogo, o time de Tatuí teve que jogador as duas últimas partidas da segunda fase sem os três atletas denunciados. Surgia o primeiro problema do técnico Diego Barros. “Perdemos esses três meninos e eu já tinha viajado só com 13, porque nessa idade é difícil reunir um grupo muito grande”.

A equipe local entrou em campo contra a Penapolense com um jogador a menos e, mesmo assim, ganhou por 1 a 0. “Com um a menos desde o início, ganhamos de um time que joga o Campeonato Paulista. Eles têm 18 jogadores federados, nós só um”, orgulha-se Barros.

O jogo seguinte, contra o Américo Brasiliense, foi ainda mais dramático. Com medo de novas denúncias, o técnico contou com apenas oito jogadores e, entre eles, nenhum goleiro. Nova vitória, também por 1 a 0.

Se fossem considerados os pontos conquistados em campo, Tatuí teria se classificado em primeiro lugar, com oito pontos (no Estadual, a vitória vale três pontos, o empate dois e a derrota, um ponto).

Contudo, além da suspensão dos três jogadores, a equipe local foi condenada a perder seis pontos (o regulamento prevê a perda do dobro dos pontos que estavam em disputa no jogo denunciado). Dessa forma, Tatuí terminou a primeira fase com apenas dois pontos.

Barros, que também foi punido com suspensão de um ano por conta da inscrição dos três jogadores, se diz triste com a forma como o regulamento trata as equipes menores. E lamenta pelo que aconteceu com os jogadores dele. “A suspensão não me preocupa. Posso reverter. Mas quando que esses meninos vão ter a possibilidade de jogar de novo um estadual?”.

“Esse item do regulamento vai acabar com o trabalho que a gente faz aqui. Se o menino não puder jogar futsal na região, o Estadual vai ficar restrito aos times que são bases de clube. Aí o menino mora na cidade, é federado pelo clube e joga o Estadual. A tendência nas cidades menores é o trabalho diminuir e a gente afastar os meninos de coisas boas”, acrescenta.

Em texto divulgado após a eliminação, o treinador chama os jogadores de heróis. “Tenho grandes heróis em minha vida. Não são o Super Homem ou o Homem Aranha e sim o Kike, Kayky, Eduardo Gonçalves, Cauan, João Vitor, Eduardinho, Pedrinho, Ricardinho, Maik, Thiago, Bruninho, Gabriel. Esses heróis estão entre nós e foram campeões de coração”.