Rodrigo Otávio Dos Santos *
As conversas no WhatsApp nunca são concluídas. Estão sempre acontecendo. Não há um fechamento, um “então, tá, tchau!”. O que existe é um contínuo desenrolar de temas, as pessoas não se preocupam mais em concluir uma conversa.
As pessoas não param a conversa, simplesmente uma delas (ou ambas) decide continuar aquele tema daqui dois dias ou dois meses. Muitas vezes, porém, o tema não é exaurido. Simplesmente ele “morre” e um novo tema é iniciado.
Isso parece interessante mesmo porque um bom papo com uma pessoa superlegal não precisa ter um final, não é mesmo? Entretanto, esse fenômeno se chama “feedback incompleto” e é uma das maiores causas de ansiedade em jovens no mundo todo, de acordo com a especialista Jean Twenge.
E a ansiedade pode causar graves problemas, como TAG (transtorno de ansiedade generalizada), síndrome do pânico, depressão e, no pior dos casos, suicídio).
O “tchau”, “até logo” ou “amanhã a gente se fala” é importante nas comunicações humanas. Sem o desfecho da conversa, ela permanece em nosso cérebro, ela continua conosco indefinidamente não deixando dar o próximo passo.
A prática do feedback incompleto é a prática de estar “sempre esperando” um retorno. Seja do colega de trabalho, do chefe ou do namorado, estar sempre “à espera” é angustiante para boa parte das pessoas, daí a ansiedade.
As sensações são conhecidas: um incômodo no estômago, a garganta seca, os músculos enrijecidos etc. Normalmente os efeitos passam tão logo o futuro incerto se torna o presente.
Seja recebendo o aumento e ficando feliz, seja tendo o aumento negado e ficando frustrado, a sensação de ansiedade passa. Passa porque acabou. Porque chegou ao seu fim.
Só que, atualmente, essa sensação fica constante no fato de não ter finalização nas conversas. Em um dia comum, uma pessoa conversa com dezenas de outras pessoas no WhatsApp.
Seja diretamente, seja em grupos, as conversas não cessam e, pior do que não cessar, elas não têm hora para início ou término. São comuns os relatos de pessoas recebendo mensagens de trabalho das 7 da manhã às 11 da noite.
As coisas são piores para os jovens, entretanto. Se as pessoas com 40 ou 50 anos relutam, mas conseguem desligar seus telefones celulares, o mesmo não podemos dizer dos jovens. Para eles o smartphone é um apêndice do corpo.
Não há possibilidade de dizer a um adolescente de 17 anos que ele precisa ficar com seu telefone desligado durante oito horas por dia para trabalhar ou dormir. Isso não vai acontecer, ou acontece à força, por exemplo, com os pais pegando o aparelho.
Mas a ansiedade ainda estará lá. Mesmo com o celular desligado, a mente do jovem está conectada ao equipamento, esperando por um feedback. E que é sempre incompleto.
A única forma da sociedade combater esse problema é por meio da educação. Quanto a isso, aparentemente não há dúvidas. Desde muito cedo, os pais devem orientar seus filhos a utilizar o aparelho de telefonia móvel e os aplicativos de mensagens de forma moderada.
Todos queremos conversar, todos queremos nos comunicar. Mas ficar escravo do aparelho, como já dizia Vilém Flusser, não parece ser boa ideia.
Precisamos tentar evitar a ansiedade que está trazendo tanto mal à sociedade. Oriente seus filhos e procure usar as mensagens de forma moderada, seja o exemplo. E, claro, diga “tchau” ao final das conversas.
* Doutor em história, mestre em Tecnologia, e professor do Centro Universitário Internacional Uninter.