Que o pós-pandemia seja doce em Tatuí

Pode até parecer cedo pensar no pós-pandemia em Tatuí (e no mundo), mas, não! É fundamental, também levando em conta que algo a prejudicar o país de maneira dramática neste momento tem sido justamente a falta de planejamento para o futuro, sobretudo no combate à própria Covid-19.

Portanto, já se começa a questionar a manutenção do reconhecimento do município como Cidade Ternura, Capital da Música e Terra dos Doces Caseiros.

A preocupação é legítima a se ponderar os benefícios garantidos pelo privilégio dessas tradições, as quais englobam simpatia, arte e gastronomia.

Afinal, graças a elas – a essas tradições -, Tatuí acabou elevada a Município de Interesse Turístico do estado de São Paulo, condição a render-lhe não apenas recursos para investimentos na área, mas um status de relevância por demais convidativo. Logo, ninguém bem-intencionado com a cidade aceitaria perdê-los.

Tradição é algo enraizado e custoso de apagar-se, porém, não impossível. Por este aspecto, a “Cidade Ternura” é mais um emblema que uma prática convencional – aliás, mais uma vez lembrando, título cunhado por artigo do jornalista Osmar Pimentel, publicado neste O Progresso em 14 de outubro de 1934.

Se bem explorado, por carregar um apelo muito atraente – a “ternura” -, pode seguir contribuindo com o município em suas pretensões turísticas.

Não obstante e sem qualquer oposição, a música é o grande diferencial da cidade, sua maior virtude, seu maior “ativo”, seu maior orgulho!

Neste âmbito, também sem qualquer dúvida, o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” sustenta quase a totalidade não só da tradição, mas da própria manutenção da arte como prática inerente ao município.

A renomada instituição de música, teatro e luteria é, na verdade, duplamente imprescindível a Tatuí, tanto por cumprir sua missão básica, de ensinar na condição de escola, quanto por ocupar posição de destaque no próprio estado feito uma grande casa de espetáculos, particularmente por meio do teatro “Procópio Ferreira”.

Não seria nada justo, neste momento tão atípico, sequer intuir qualquer cenário de futuro quanto à escola, justamente porque a pandemia impôs mudança radical no formato didático da instituição, além de ter sumariamente extinguido os eventos.

Assim sendo, todos os tatuianos esperam que, com o arrefecimento da pandemia, a nova gestão do Conservatório tenha a oportunidade de seguir com a tradição desse que é o maior patrimônio tatuiano, tanto em seu ensino de qualidade internacional quanto em sua posição de maior agente da cultura local – e um dos mais significativos do estado.

Tatuí, em seu propósito não apenas de manter o status de MIT, senão o de ascender a estância turística, depende fundamentalmente da sustentação da cidade, realmente, como Capital da Música.

Por sua vez, o futuro vislumbra-se como um desafio de proporções ainda incertas – em todas as áreas, não poupando a cultura, tão injusta e incoerentemente vilipendiada nestes anos recentes. Ocorre, daí, que Tatuí teria mais a perder que a maioria dos municípios, os quais não são sequer periféricos da tradição musical erudita, quem dera a “capital”.

Por tudo isso, é muito oportuna a tentativa de também se reconhecer Tatuí, oficialmente pelo estado, em sua outra forte tradição: a dos doces caseiros.

Um projeto de lei em tramitação na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) pode levar Tatuí a ser reconhecida em todo o território paulista pela tradição doceira, sendo declarada por lei estadual como a “Terra dos Doces Caseiros”.

De acordo com o secretário do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, a proposta foi apresentada na Casa de Leis pela deputada estadual Damaris Moura (PSDB), por meio de reivindicação da pasta.

A parlamentar esteve em Tatuí na terça-feira da semana passada, 15, participando de uma live promovida pelo Fusstat (Fundo Social de Solidariedade), em razão do Dia Mundial de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa, e o secretário aproveitou para oficializar o pedido.

Segundo Sinisgalli, na ocasião, Damaris parabenizou o destaque da cidade na produção de doces caseiros e garantiu que elaboraria e protocolaria um projeto de lei buscando formalizar o novo título à cidade.

Dois dias depois (na quinta-feira, 17), o Diário Oficial da Assembleia Legislativa do Estado divulgou a apresentação do projeto de lei 383/2021. O próximo passo é ter o PL aprovado pela casa legislativa.

Na justificativa do pedido para o PL, Sinisgalli aponta todos os títulos tatuianos, entretanto, evidencia os doces caseiros como a tradição a ganhar mais reconhecimento como patrimônio local nos últimos anos.

Para mostrar a importância do título ao município, ele ressaltou a tradição doceira, com início nos anos 50, como responsável por a cidade já ser conhecida na região como a “Terra dos Doces Caseiros”.

Desde então, variedades de doces surgiram e são fabricadas na cidade. Contudo, o mais tradicional ainda é o ABC, declarado patrimônio cultural e imaterial da gastronomia tatuiana desde 2015, por meio da lei municipal 4.972.

Sinisgalli aponta que somente a produção deste tipo de doce chega a uma tonelada por semana, sendo intensificada nos meses de junho e julho, época em que ocorre aumento na venda e produção, devido às festas juninas e à Feira do Doce – instituída no Calendário Turístico Oficial do Estado desde julho de 2015.

Quanto a este evento, nascido “festa” e depois tornado “feira”, felizmente não há receio, dado ser de tamanho sucesso que, muito além do fim da pandemia, certamente nenhum futuro administrador público, seja qual for, cometeria a insanidade de preteri-lo do calendário turístico e de eventos local – até porque nem negacionista rasga dinheiro.

“A tradição doceira de Tatuí teve início em 1952, quando Belarmina (de Campos Oliveira) começou a produzir os tradicionais doces ABC, sem qualquer preocupação ou pretensão comercial. Hoje, o ramo cresceu tanto que a cidade merece este reconhecimento estadual”, acentuou o secretário.

Para Sinisgalli, o título fará a cidade ser reconhecida em todo o território paulista, pelo “sucesso dos doces caseiros tatuianos”, e ainda pode contribuir para que a cidade seja elevada de MIT a estância turística.

Para o alcance das pretensões tatuianas, é fazer o possível para que não somente a doçura musical da Cidade Ternura continue a encantar o estado e o mundo, mas que o sucesso de público dos doces caseiros justifique mais um espetáculo de conquistas, seguindo a partitura iniciada pelas saborosas notas do “A, B C”.