Prova revela nova promessa do ‘off-road’

Bruno (à esquerda) e Nathan (à direita) e navegadores (ao centro) conquistam pódio logo na estreia (foto: divulgação)

Aos 16 anos, Nathan Domingues já é considerado nova promessa do rali. Filho de um dos maiores nomes da modalidade, o piloto Edu Piano, o adolescente teve participação de destaque no 21º Rally dos Amigos. O evento aconteceu no dia 8 deste mês, um sábado, na cidade de Barra Bonita, em São Paulo.

Nathan finalizou a prova que encerrou o Campeonato Brasileiro de Rally Baja na terceira colocação. Ele competiu na UTV Start, mesma categoria de outra revelação da equipe de Tatuí, Bruno Luppi, de 14 anos.

A Território Motorsport levou quatro atletas para a competição, sendo que três deles subiram ao pódio. Além dos jovens, Piano conquistou posição vitoriosa.

O piloto completou o especial (trecho cronometrado) de 124 quilômetros com o quarto tempo da geral. Ele também finalizou na mesma posição pela UTV Pró-Elite, totalizando 1h37m46s. Rodrigo Luppi, que disputou o evento também na especial, não completou a prova por problemas com a homocinética.

A prova marcou a estreia de Nathan no rali e aproximou ainda mais pai e filho. “Partiu dele. Ele tinha vontade, mas nunca dava certo de participar, por conta das correrias, dos compromissos”, explicou Piano, único piloto recordista de títulos da história do Rally dos Sertões.

Ao longo dos 26 anos da maior prova off-road do país, ele conquistou um total de oito títulos, sendo um na geral dos carros, seis nos caminhões e um nos UTVs (categoria Over 45).

De acordo com o pai, as chances do filho de participar da competição surgiram por uma série de fatores. Com o fim do ano, a equipe costuma diminuir o ritmo dos trabalhos, o que resulta em reestruturação. “Demos uma enxugada muito grande e, agora, na última etapa, incluímos os jovens”, contou.

De uma só vez, a equipe resolveu experimentar Nathan e Bruno, ambos incentivados pelos respectivos pais. Como a UTV Start permite pilotos menores, os jovens foram escalados. A competição é realizada em circuito fechado. Entretanto, menores podem participar desde que acompanhados por um adulto.

Nathan participou da prova acompanhado do navegador Manuel Ruivo, e Bruno, de Henrique Furika. Para competir, os jovens se cadastraram na CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo) e realizaram treinos preparatórios.

Apesar de já ter andado com o veículo UTV, Nathan não tinha experiência em prova. “Ele só andava nas imediações da empresa, quando íamos gravar alguma reportagem, mas nunca disputou”, contou Piano, a respeito da prática do filho.

Por isso, o desempenho do jovem surpreendeu tanto. Além disso, Piano ressaltou que a expectativa era de que Nathan apenas concluísse a prova. “Noventa por cento das pessoas que andam pela primeira vez não terminam. Sempre acontece alguma coisa, bate, quebra, capota, o que é normal, por não haver prática”.

Essa estatística tem a ver com a complexidade da disputa. A prova é considerada “muito dura” até mesmo para pilotos experientes. “O Rally dos Amigos tem a fama de ser muito pesado, e, por isso, é feito em um dia só”, acrescentou.

Outras competições têm, em geral, dois dias de duração. A de Barra Bonita somou percurso de 150 quilômetros e quase 40 pilotos. “Várias pessoas capotaram, bateram. Isso porque o percurso é desconhecido para nós”, explicou Piano.

Segundo o piloto, na categoria baja, os competidores são guiados apenas por placas. São elas que indicam quando há mudança de direção, o que exige rapidez dos pilotos. Como eles andam em altas velocidades, têm pouco tempo para responder aos comandos e conseguir manter-se na trilha e na disputa.

Além disso, os pilotos enfrentam as dificuldades do solo, como erosão ou buracos. Nos trechos de maior risco, há placas (com sinal de exclamação) indicando perigo. “Mas é muito fácil de errar, por isso que acontece bastante de o pessoal quebrar, bater o carro ou até mesmo capotar”, ressaltou Piano.

Já no rali de velocidade, os pilotos fazem um reconhecimento do percurso no dia anterior. Verificam, assim, pontos cegos e eventuais dificuldades no terreno.  “Nós, não. Nós nos baseamos apenas em GPS (sistema de posicionamento global), que fornece o ‘track’ (traçado) da prova”, descreveu.

Para Nathan, o relevo não foi o obstáculo. O estreante disse que o maior desafio era manter o controle do UTV. “Eu não controlava tão bem como aqui. A estreia para mim foi algo novo. Lá, o carro deslizava muito”, relatou.

Para manter o veículo no caminho o maior tempo possível, Nathan seguiu dicas do navegador. O acompanhamento de profissional é obrigatório na categoria com menores de idade e na “double”. Na UTV Pró Elite, pela qual Piano concorreu, não há navegador.

“Na minha categoria, os UTVs são muito rápidos, e nós brigamos muito por causa de peso. Se levarmos um navegador, estamos levando mais de cem quilos, somando o peso da pessoa e dos equipamentos. Aí, optamos por não”, contou Piano.

Nathan gostou de ter recebido ajuda, em especial por não ter experiência em disputas. “Achei mais fácil, porque não sabia o que era para fazer, se tinha que acelerar, frear, como iria virar as curvas e onde tinha de ir”, argumentou.

Para se acostumar ao ritmo, o jovem treinou um mês antes da competição. Ele pilotou um UTV pertencente à Território Motorsport, mas preferiu não utilizar o sobrenome adotado pelo pai. Piano explicou que não queria que o jovem sentisse pressão em sua primeira participação e não fossem criadas expectativas.

“Desde o começo, falei que ele não precisava provar nada para ninguém. Ele estava indo para se divertir e avaliar se gostava ou não da competição”, contou.

O desempenho chamou a atenção de patrocinadores, mas uma eventual carreira dependerá do interesse do jovem. Piano reforçou que deixa a critério do filho seguir a carreira.

Em março de 2019, um novo desafio pode voltar a juntar pai e filho em uma competição. “Teremos uma prova em Minas Gerais, de dois dias, mas vai dele, se querer participar ou não”, comentou.

Caso a resposta seja sim, Nathan já tem passe garantido para integrar a equipe com sede em Tatuí. Para o ano que vem, no entanto, os planos são de concluir o ensino médio. “Meu foco são os estudos. Ainda não parei para pensar nisso, mas, no ano que vem, tenho muitas decisões a tomar”, disse o jovem.