Protetora pede socorro para alimentar cães abandonados





Humberto Domingues

 

Desde que se aposentou, a dentista Sílvia Helena Gonçalves não consegue mais desenvolver um trabalho que realizava havia décadas. Aos 60 anos, a ex-fundadora da SPPA (Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais) e da associação tatuiana Ani+, se vê numa situação crítica. Não tem condições financeiras de cuidar, sozinha, dos mais de 30 animais retirados das ruas do município.

Os cães vivem na propriedade dela, no Santuário Nossa Senhora de Fátima, e demandam, pelo menos, de 15 sacos de rações por semana.

Além da alimentação, exigem cuidados como vacinação, vermifugação e consultas veterinárias, que deixaram de estar ao alcance monetário da dentista. Sílvia aposentou-se no ano passado, por conta de lúpus.

A doença autoimune, rara, impede a dentista de exercer qualquer tipo de atividade física. Em função disso, ela recebia benefício do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), de aproximadamente R$ 3.000. Em 2014, ao completar 60 anos, requereu aposentadoria, tendo a renda reduzida em quase 40%.

Sílvia considera-se “mais uma vítima do fator previdenciário”. Trata-se de uma fórmula matemática aplicada para cálculo das aposentadorias por tempo de contribuição e idade. Com a redução do salário, a protetora de animais não conseguiu mais custear os gastos com os cães resgatados.

Atualmente, ela tenta tratar de 30 vira-latas e 15 beagles. Para isso, conta com ajuda de voluntários. Entretanto, o número de colaboradores não é suficiente. Em entrevista, ela declarou que “está desesperada”.

“Estou passando por dificuldades para comprar ração. Os cães têm ração até amanhã (quarta-feira)”, comentou. O custo médio de um saco de 25 quilos é de R$ 65.

Até antes de se aposentar, Sílvia disse que conseguia bancar os custos de alimentação e tratamento. “Cheguei a pedir revisão da aposentadoria, mas não consegui. Agora, entrei no empréstimo consignado. Fiz o máximo que podia fazer para ajudar os cachorros, mas não tenho mais limite de crédito”, afirmou.

Com os financiamentos, a protetora teve o salário comprometido. Por mês, ela recebe R$ 1.024, que servem para pagar um funcionário contratado para limpar os espaços nos quais os cães dormem e tratar deles. “A minha doença me impede de sair de casa para pedir socorro para as pessoas”, declarou.

Para não desamparar os animais, Sílvia deixou de arcar com alguns dos compromissos, como a conta de telefone, por exemplo. A protetora afirmou que só não teve o número cortado pela companhia porque tem uma ordem judicial. “Por causa da minha doença, eu preciso do telefone para pedir ajuda”.

Não bastassem as complicações, Sílvia tem de dosar os gastos com os cachorros com as despesas pessoais. Em função da doença, teve nefrite lúpica (inflamação dos rins), o que demanda mais cuidados com a própria saúde.

Sempre envolvida com a causa animal, Sílvia tentou trazer para Tatuí a experiência que teve em Piracicaba. Lá, contava com 30 colaboradores e desenvolvia feiras de adoções.

Também mantinha um “lar transitório”, no qual animais abandonados eram resgatados das ruas, tratados e, posteriormente, colocados à adoção.

Na cidade, Sílvia começou a trabalhar a proposta a partir da fundação de um hotel para cães e com a criação de beagles. Depois, fundou a Ani+, associação cujos membros contribuem com dois sacos de ração.

Por conta de problemas de saúde, deixou de integrar a entidade, mas permaneceu com a responsabilidade de cuidar dos cães retirados das ruas.

Na tentativa de mantê-los, fez uso de todos os recursos possíveis. “Já acabei com meus limites de cheques especiais. Estou no negativo. Tanto que minhas filhas me ajudam com uma ou outra despesa em casa”, comentou. “Eu estou vivendo pela fé, por amor aos meus cachorros”, adicionou.

Para continuar a cuidar dos animais, a protetora pede a colaboração, por meio de doação de sacos de ração. Também disponibilizou os cães para adoção.

“Eles são animais velhos, que poucas pessoas aceitam. Mas, se alguém tiver disposição, pode ligar para agendar uma visita para vê-los”, afirmou.

Ela também pede que as pessoas que se dispuserem a doar ração entrem em contato, primeiro, pelo telefone 3251-5518.

“Eu tenho convênio com uma empresa da cidade que faz mais em conta para mim. O preço normal é de R$ 84 o saco, mas, para me ajudar, a empresa faz por R$ 65”, informou a protetora.