Minha profissão é a carpintaria. Portanto, me chamam de Zé Batata – carpinteiro. Dizem as Escrituras que o pai de Jesus também era carpinteiro – José de Arimateia. Se ele tivesse nascido em Tatuí, seria José de Tatuí; já em tupi-guarani, seria Zé de Tatu uyú.
Não sei por que comecei desse jeito o meu escrito, deixemos o pai do Homem em paz e vamos continuar falando da profissão. Profissão difícil, pesada, uma mistura de arte, artesanato e técnica.
No passado, houve até alguns marceneiros/escultores que tiravam da madeira lindas peças religiosas, a mais pura arte sacra, mas que, na realidade, eram “santos do pau oco”. Em vez de servir a fé, serviam para esconder, em seu interior, grandes porções de ouro ou de pedras preciosas.
Transitando pelo país e enganando, com isso, o fisco ou outros tipos de impostos, como “os quintos” (nessa ocasião, de todo ouro ou pedras preciosas encontrados em solo brasileiro, um quinto era abocanhado pela Coroa Imperial).
Em nossa história recente, tivemos dignos representantes dessa honrada profissão, tais como o Gilberto Loretti, Bastião Correa, Cesário, Humberto Morcego, Pasqualotti, João Esperândio, Alberto Júlio, Tomaz Cresciulo, Tonico, Aurélio Quidolino, Everaldo Martins. Mais recente ainda, temos a jovem guarda dos pica-paus, Abel Cigano, Ismael, Neto, Zeca, Zé Saroba, Luiz Galo, Gonsalo, entre outros.
Curioso é pensar que o pai do Homem era chamado de carpinteiro e, hoje, quem trabalha nesse ofício é chamado de marceneiro. Qual a diferença? Sei lá!
Assim como meu pai Tonico, também defendo o pão de cada dia trabalhando como marceneiro – com muito orgulho.
Certa vez, fui contratado para instalar alguns móveis num salão de cabeleireiro e, por dias seguidos, mantive contato direto com os clientes. Num desses dias, chega ao salão uma bela senhora, que, depois de ter os cabelos lavados, sentou-se debaixo de um secador, que mais parecia uma astronauta pronta para decolar. Contou, então, para as curiosas grã-finas, suas amigas, do assalto que fora vítima dias antes.
Dizia ela:
– Eu e o Lúcio, meu marido (Lúcio era um sujeito magrinho e com cara de maconheiro), íamos saindo de casa após o jantar, quando, ao entrar no carro, um rapaz apareceu…
– Como era ele? – perguntou outra dondoca, que tinha os gigantes joanetes dos pés cuidados por uma podóloga.
E a senhora continua:
– Era alto, meio louro, ombros largos, barba serrada, jeitão displicente, olhos brilhantes. O Lúcio foi logo entregando tudo, cartão, dinheiro, ameaçou tirar as roupas, mas o rapaz recusou, sem tirar os olhos de mim. E, ainda sob aquele olhar penetrante, pediu as chaves do carro, me pegou pelo braço, mandou entrar no veículo…
– Que horror! – exclamou um jovem liberal, que passava xampu nos cabelos de outra madame
– É nessas horas que não aparece nenhum GCM para nos salvar – concluiu, todo sirigaita.
– … mas, dessa vez, apareceu! – disse a senhora. – Na hora que eu ia entrando no carro, surgiu um policial, preparado para cumprir a lei. O rapaz, sem esboçar reação violenta, saiu correndo e sumiu na escuridão. Meu marido, trêmulo e gaguejando, tentou explicar para o soldado o que tinha acontecido. Eu, então, sem pensar e ainda sob forte emoção, desferi um chute bem certeiro na genitália dele…
E todos os presentes:
– No Lucio?…
– No soldado, minha gente, no soldado…