Prefeitura e Lions encerram projeto que mobiliza cidade e amplia ‘banco’

Modelo de cooperação do clube será levado à capital e a mais 19 municípios

Unidade de Tatuí atingiu a marca de 4.000 doadores cadastrados após experiência de sucesso (Foto: Arquivo O Progresso)
Da reportagem

A prefeitura e o Lions Clube de Tatuí encerram, na manhã deste sábado, 29, projeto que vem mobilizando há pelo menos seis anos o município. Em evento com início previsto para às 11h, o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior e o governador do Distrito LC-2, do clube de serviços, Christian Pereira de Camargo, formalizam a conclusão do projeto de ampliação do Banco de Sangue “Fortunato Minghini”.

O projeto teve início em 2018, a partir da reabertura do hemonúcleo, que havia parado de realizar coletas em 2015. A unidade não chegou a fechar, mas permaneceu operando por três anos apenas como agência transfusional.

Para retomar as atividades, Camargo explica que houve um grande esforço conjunto. Na ocasião, os “companheiros e companheiras leão” (como são chamados os sócios) se uniram para viabilizar o reinício das coletas no espaço construído pelo clube de serviços.

Pertencente à Santa Casa de Misericórdia de Tatuí, o banco de sangue foi inaugurado em 1955, pelo primeiro presidente “leão” da cidade, com objetivo de apoiar o hospital no atendimento aos pacientes graves.

Em 2005, com apoio do Lions Internacional, prefeitura e Secretaria de Estado da Saúde, além de voluntários e do comércio local, o clube de serviços concluiu a sede própria, em prédio que leva o nome de “Marcel Elisabeth Lodewijk Proost”, ex-presidente e idealizador da obra.

A iniciativa começou dois anos antes, em 2003, quando Proost se juntou aos demais sócios para realizar um projeto de reforma e compra de equipamentos.

O então presidente não viu a construção ser concluída, pois faleceu no início de 2004, e, na inauguração do novo prédio, em 2005, recebeu a homenagem póstuma.

O fechamento da unidade, divulgado à época com exclusividade por O Progresso, ocorreu em 27 de maio de 2015, ocorreu em função de transferências do espaço destinado a coletas de sangue – de um ponto a outro do prédio anexo ao hospital – e porque o hemonúcleo não atendia às especificações dos órgãos de saúde estaduais. A unidade tinha equipamentos obsoletos e precisou, urgentemente, trocá-los.

Além disso, o hospital enfrentou o desafio de repor o quadro de funcionários do serviço. Em julho de 2015, alguns dos profissionais que atuavam no banco de sangue se aposentaram, entre eles, uma bioquímica.

Para não interromper de vez as atividades, a Santa Casa recorreu a uma solução paliativa: fez um “acerto” com o Banco de Sangue de Botucatu.

O acordo possibilitou à equipe botucatuense oferecer cobertura ao município (fornecendo sangue para o hospital e ao então Pronto-Socorro “Erasmo Peixoto”). Em troca, os profissionais do banco daquela cidade podiam coletar sangue em Tatuí.

Em paralelo, a Santa Casa realizou levantamento preliminar do custo de readequação do espaço, estimado em R$ 60 mil, e enviou uma equipe a Botucatu para receber treinamento.

Com isso, o hospital conseguiu manter a qualificação da unidade de Tatuí, uma vez que o banco, embora não coletando autonomamente, seguiu como agência transfusional, servindo apenas para armazenar sangue e seus derivados (plaquetas, plasma e granulócitos).

Em 1º de julho de 2016, o Lions Clube de Tatuí anunciou uma nova parceria com a prefeitura para viabilizar a retomada das atividades do hemonúcleo.

À época, o projeto foi orçado em R$ 200 mil, com fundos obtidos através do “braço internacional de Tatuí e Itapetininga”, a LCIF (Fundação Internacional de Lions Clubes).

A empreitada teve início na gestão da então presidente Josefina Berti dos Santos, resultando na captação de US$ 36 mil, utilizados na retomada das atividades.

O recurso obtido foi empregado na restauração dos aparelhos existentes, na aquisição de novos equipamentos e na modernização dos processos transfusionais.

O Lions elaborou a proposta de reabertura e modernização da unidade sob orientação e coordenação de Manoel Messias Melo, da cidade de Bauru, então ex-governador do Distrito LC-8. Melo colaborou de forma a permitir que o banco de sangue atendesse às exigências da Anvisa (Agência Nacional da Vigilância Sanitária).

A retomada dos trabalhos contou com o atual governador do Distrito LC-2. Foi ele que encabeçou uma nova parceria com o Executivo, participando de reuniões entre a Santa Casa, a prefeitura e representantes da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu.

O passo mais significativo aconteceu em 9 de abril de 2018, com a visita da diretoria técnica do hemonúcleo botucatuense, pertencente à universidade.

O encontro, realizado no paço municipal, a partir da articulação de Camargo, resultou na confecção de um relatório de identificação das adequações necessárias e de um documento de parceria para supervisão do banco de sangue pela equipe da universidade.

A reabertura aconteceu três meses depois, dia 25 de julho, originando parceria inédita entre o hemocentro do HCFMB (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu) e a Santa Casa. Na data, o “Fortunato Minghini” voltou a recadastrar doadores e a agendar coletas.

Retomou os trabalhos com capacidade de produzir a partir de 250 bolsas de sangue por mês, atendendo, em um primeiro momento, a Santa Casa, o então pronto-socorro e o Hospital da Unimed. A produção excedente beneficiou o Hospital das Clínicas, como definido no termo de cooperação.

“Nós fomos atrás da Secretaria Municipal de Saúde. Na época, o então secretário da pasta era o enfermeiro Jerônimo Dias Simão. Ele foi conosco até Botucatu, para costurar a parceria, que deu muito certo”, conta Camargo.

O governador do Distrito LC-2 explica que, na sequência, o clube de serviços passou a concentrar esforços na ampliação da unidade física do banco de sangue tatuiano.

Em uma segunda etapa, ele conta ter articulado com o então presidente da Câmara Municipal, Antonio Marcos de Abreu, a devolução de R$ 200 mil à prefeitura, sendo R$ 100 mil do duodécimo (o repasse mensal feito pela prefeitura para que a Casa de Leis possa cobrir despesas e garantir o funcionamento).

Do total, R$ 100 mil foram fruto de economia do vereador João Éder Alves Miguel (MDB), que optou por renunciar à nomeação de um dos dois assessores legislativos ao qual tinha direito. Ele ocupava cargo de primeiro-secretário da mesa diretora no biênio 2021-2022.

A partir de convênio com a Santa Casa, a iniciativa permitiu ao Executivo buscar novos recursos para realizar todas as obras necessárias. Camargo conta que, ao todo, houve o investimento de R$ 230 mil no projeto, permitindo a ampliação da estrutura em 42 metros quadrados.

“De 170,8 metros quadrados, o banco de sangue foi para 219,5 metros quadrados. E a ideia é que o hemonúcleo possa prestar ainda mais serviços”, aponta.

As obras tiveram início em setembro de 2022, sendo incrementadas com novos recursos creditados a intervenção do atual governador, Tarcísio de Freitas, viabilizadas em 2023.

O Lions Internacional, em maio do ano passado, liberou mais U$ 60.972,76 (pouco mais de R$ 335 mil, na cotação cambial de sexta-feira, 28) para equipar a unidade.

O novo projeto – a ser finalizado neste sábado – é de responsabilidade do Lions Tatuí e do Lions de Boituva, que assinaram conjuntamente a proposta. Ainda houve uma parceria junto ao projeto, para que se viabilizasse, com a prefeitura e a Santa Casa local, a quem coube uma contrapartida financeira, aprovada por meio de lei municipal em dezembro de 2022.

O projeto de ampliação da parte física ficou a cargo da prefeitura, em conjunto com o “Fortunato Minghini”. “O Lions ficou responsável apenas por enviar o recurso para a compra de equipamentos”, informa Camargo, que acumula a função de presidente da comissão do banco de sangue.

Para Camargo, a solenidade deste sábado marca o encerramento de um ciclo e o começo de outro. “Isso permite que novas demandas que estão na fila possam andar. Temos ações voltadas para a área de diabetes e para a área da fome, na capital, que dependiam desse encerramento”, acentua.

Ao mesmo tempo, o projeto tatuiano se firma como um modelo de cooperação a ser levado para outros municípios do estado. O Distrito LC-2 possui uma fundação própria, que está sendo organizada para captar novos recursos de modo a levar a experiência de Tatuí a São Paulo e mais 19 cidades. As verbas devem ser obtidas via emendas parlamentares, doações de empresas e pessoas físicas.

“Futuros projetos podem ser estabelecidos com o Lions Internacional ou não necessariamente por meio dele, já que há ações que precisam de mais ou menos verbas para acontecer”, diz o governador.

Atualmente, o banco de sangue de Tatuí realiza coletas às terças-feiras e quintas-feiras, funcionando 24 horas por dia, para atender à Unidade de Pronto Atendimento “Augusto Moisés de Menezes Lanza” (UPA), o Hospital da Unimed e a Santa Casa de Tatuí, além de abastecer hospitais de Boituva, Cerquilho e Tietê.

Neste ano, a unidade atingiu a marca de 4.000 doadores cadastrados. “O que eu acho que mais deu certo é que as coletas são dirigidas de acordo com as necessidades das instituições atendidas. Nós temos atualmente um banco muito efetivo”, acrescenta o governador.

De acordo com ele, as pessoas incluídas em registro são convocadas a realizar doações a partir da montagem de uma agenda, evitando desperdício, otimizando os recursos e organizando melhor os trabalhos.

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